São Paulo, segunda-feira, 22 de outubro de 2007

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31ª Mostra de SP

Filme mostra cada um com seu Che

Título abstrai biografia do revolucionário e busca sentidos que sua imagem adquiriu em diversas partes do mundo

Para atrair investidores ao longa "Personal Che", dupla de estreantes fez antes curta na Bolívia com devotos católicos do guerrilheiro

Divulgação
Cena de "Personal Che' com adepto de movimento "livre-nacionalista', que vê na "luta contra o imperialismo' elo entre Che e Hitler


SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

"O melhor trabalho dele foi ser modelo daquela foto [de Alberto Korda]", opina o fotógrafo italiano Oliviero Toscani. "Se ele tivesse a aparência de Sancho Panza, não estaríamos aqui tendo essa conversa", diz o escritor inglês Christopher Hitchens. Essas e muitas outras variações sobre a imagem do líder revolucionário Ernesto Che Guevara compõem o documentário "Personal Che", que marca a estréia na direção do brasileiro Douglas Duarte e da colombiana Adriana Mariño, e está em cartaz na Mostra de SP.
Tratar da "reinvenção" de Che foi a alternativa que os diretores encontraram, ao desistir da meta inicial de fazer uma cinebiografia do guerrilheiro, tarefa para a qual perceberam não ter "nem dinheiro, nem habilidade", segundo Duarte.
Para provar que "a idéia do "Personal Che" era realizável", a dupla fez um curta-aperitivo, gravado na Bolívia, onde, em 1967, Guevara foi capturado e morto. No povoado próximo da área de sua captura, vivem "devotos de Che", fiéis católicos que ignoram o ateísmo do guerrilheiro, crêem que ele seja santo e lhe atribuem graças .
O cartão-de-visita filmado não surtiu efeito no Brasil, diz Duarte, mas ajudou a convencer uma produtora de Miami a desembolsar os US$ 150 mil com que o filme foi realizado.
Além da Bolívia, terra dos "devotos de Che", a dupla foi a vários países em que sobrevivem reinterpretações inusitadas da figura do revolucionário.
No Líbano, eles registram uma montagem musical sobre Che, cujo ator principal diz esquecer-se de que está atuando e ser absorvido pelo carisma de seu personagem, "quando ponho a estrela na boina e discuto com Fidel"; na Alemanha, militantes "livre-nacionalistas" vêem na "luta contra o imperialismo" o elo que identifica Che a Hitler; em Hong Kong, um deputado encontra no apego radical às idéias de Che a forma de se contrapor ao regime chinês.
"Personal Che" também vai a Cuba, investigar os efeitos do tempo na imagem do herói da revolução. Os diretores tiveram autorização para filmar na ilha.
"Sabíamos que falar de Che Guevara em Cuba é como falar de Cristo no Vaticano -tem que ter cuidado. Eles não atrapalharam, mas também não ajudaram", diz Duarte.
"Personal Che" foi feito com a intenção de "provocar" a platéia. Quando os primeiros espectadores do filme caíram na risada em vários momentos, Duarte avisou a Mariño: "Porra, fizemos uma comédia!".

PERSONAL CHE
Produção:
Colômbia, Brasil, EUA
Direção: Douglas Duarte e Adriana Mariño
Quando: hoje, às 13h30, no Unibanco Arteplex 2; quinta (1/11), às 20h, no Cine Bombril 2

O crítico Sérgio Rizzo resenha "O Búfalo da Noite", de Jorge Hernandez Alda na folha.com.br/ilustradanocinema

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