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Crítica/"A Casa de Alice"
Drama enxuto busca segredos de família
COLUNISTA DA FOLHA
Contam-se nos dedos de
uma única mão os filmes brasileiros recentes centrados em personagens
da classe média baixa: "Bendito
Fruto", "Contra Todos" e uns
poucos outros.
"A Casa de Alice", estréia do
diretor Chico Teixeira no longa
de ficção, é um mergulho competente, sensível e original nesse universo que, socialmente,
fica no meio do caminho entre
a favela e os Jardins.
A Alice do título (a excelente
Carla Ribas) é uma manicure
quarentona, casada com o taxista Lindomar (Zécarlos Machado) e mãe de três rapazes: o
recruta Lucas (Vinícius Zinn),
o desocupado Edinho (Ricardo
Vilaça) e o estudante Junior
(Felipe Massuia).
A grande sacada do filme é
seguir à risca seu título, fazendo da própria casa um personagem crucial.
Cada cômodo da residência,
localizada na periferia paulistana, é um mundo particular, repleto de segredos, tensões e
possibilidades.
Há, por exemplo, a área de
serviço onde a mãe de Alice, dona Jacira (Berta Zemel), passa
o tempo ouvindo programas de
rádio com simpatias e crendices populares.
Ela funciona como uma espécie de superego dos membros da família, flagrando seus
passos em falso por meio de
manchas nas roupas ou coisas
esquecidas nos bolsos.
Há também o banheiro onde
Alice depila o púbis durante o
banho para tentar seduzir o
marido indiferente e adúltero.
No quarto dos rapazes, cada
recanto conta uma história. Em
poucas cenas, sutis e quase sem
palavras, descobrimos que um
deles faz bicos como michê e
outro pratica pequenos roubos.
Há toda uma história subterrânea que se desenrola aos poucos sob a superfície de normalidade do ambiente da casa, expondo facetas inesperadas dos
moradores. Economia narrativa, direção segura e elenco coeso (preparado por Fátima Toledo) resultam num filme denso e enxuto, cuja progressão dramática aponta para uma crispação das relações internas da família e desta com o mundo.
(JGC)
A CASA DE ALICE
Direção: Chico Teixeira
Produção: Brasil, 2007
Com: Carla Ribas, Berta Zemel
Quando: hoje, às 20h30, no Unibanco Arteplex; 30/ 10, às 17h, no Cinesesc; 31/10, às 19h, no Cinemark Eldorado
Avaliação: ótimo
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