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28ª BIENAL DE SP
"Há um problema de gestão na Bienal"
Curador, que chegou a deixar o cargo em edição anterior,
avalia o evento
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DA ILUSTRADA
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
O curador Ivo Mesquita nasceu em 1951, mesmo ano em
que surgia a Bienal de São Paulo. Nos 57 anos da existência da
instituição, ele já participou de
nada menos do que oito edições
da mostra, duas delas como curador -embora, em 2000, tenha deixado o cargo em meio a
uma das crises da fundação.
E foi uma nova crise que o levou, recentemente, de volta à
função. Nome reconhecido no
meio da arte, Mesquita apresentou-se como uma tábua de
salvação para a desgastada presidência da Fundação Bienal,
que enfrentava dificuldades para levantar os recursos necessários para a mostra deste ano.
"Eu me sentiria muito mal se tivéssemos fechado as portas",
disse ele à Folha, em entrevista
na semana passada.
Com poucos recursos e pouco tempo, Mesquita optou por
criar um debate em torno da
crise da instuição, que se entrelaçaria com uma crise mais ampla, a do próprio modelo agigantado das bienais internacionais. O curador deixou um piso
inteiro do prédio vazio, promoveu encontros para discutir o
papel da instituição e, ao final,
criou uma mostra reduzida,
que ocupa meio andar.
FOLHA - Depois de realizar 15 encontros com pessoas do circuito da
arte, quais foram as conclusões sobre o papel da Bienal?
IVO MESQUITA - O que ficou patente é que há um problema de
gestão.
FOLHA - Qual é o modelo ideal? Seria melhor uma trienal?
MESQUITA - Essa questão, se é
bienal ou trienal, se é com curador ou sem curador, me parece
menor. O problema principal é
a necessidade de adequar a instituição à sua finalidade. E isso
é uma questão de gestão e de
organograma. O Júlio Landmann [ex-presidente da Bienal] falou nos encontros justamente sobre isso: a estrutura
que ele ajudou a construir a
partir da 22ª Bienal, e que se
desfez. Era uma estrutura administrativa extremamente
profissional, com um superintendente, um captador de recursos, um responsável pelo
educativo.
Hoje, a fundação não tem
uma estrutura semelhante. Os
problemas de 40 dias atrás [um
pedido de corte de 40% do orçamento, por parte do presidente] ocorreram em seis das
oito bienais em que trabalhei. É
sempre assim, 60 dias antes da
abertura, há um problema de
"cash flow" [fluxo de caixa].
FOLHA - E por que isso não é resolvido de uma vez por todas?
MESQUITA - Ah, essa pergunta
quem tem que responder é o
conselho. O que estou mostrando é que o problema não é
novo. Não existe uma estrutura
para resolver este evento.
FOLHA - Mas esse conselho não é
desinteressado por arte? Apenas
três ou quatro conselheiros apareceram nos encontros...
MESQUITA - Essa é uma pergunta que deve ser feita a eles. Mas
não é um modelo muito diferente do que existe em museus
como o Masp ou o MAM do Rio,
instituições criadas na mesma
época, que vivem problemas
semelhantes.
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