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32ª Mostra de SP/Crítica
"Tulpan" vai do cômico ao comovente
Melhor filme da mostra Um Certo Olhar, em Cannes, longa adota realismo poético sem cair em exotismo simplório
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Em um primeiro momento, "Tulpan" aparenta ser apenas mais
um entre os tantos filmes de
ficção de tom documental situados em um cenário exótico.
Os sinais estão todos lá: não-atores interpretam personagens que levam seus próprios
nomes; as estepes cazaques formam o belo e bizarro pano de
fundo; uma câmera na mão
produz aquela imagem instável, que parece buscar o "calor
do momento".
Mas a impressão inicial se
desfaz rapidamente. Logo se
percebe que a fotografia (assinada pela polonesa Jolanta Dilevska) nada tem de banal: apesar de estar "na mão", a câmera
não se limita a registrar o que se
passa diante dela; ao contrário,
cumpre um papel ativo em
complexas operações de enquadramento que tomam parte
da narrativa e são capazes de
construir um espaço cênico
com resultados que oscilam
entre o realismo, a comicidade
e a poesia.
Realismo poético
O fiapo de trama é simples.
Um jovem que acaba de cumprir o serviço militar obrigatório vai morar na casa da irmã e
de sua família. Eles vivem uma
cultura nômade, criando ovelhas no mais hostil dos ambientes. O jovem quer se casar -na
verdade, sua única perspectiva
de sair da casa da irmã e livrar-se do cunhado-, mas, na região, existe apenas uma jovem
"disponível", Tulpan. Para desespero do rapaz, ela não aceita
o casamento, alegando que ele
tem orelhas de abano.
"Tulpan" é um filme docemente engraçado, e é fascinante observar as estratégias para
se chegar à comicidade. Elas
podem se esconder no "simples" acompanhamento de
uma descontrolada criança de
dois anos, ou em um sofisticado
jogo de enquadramento na
construção de uma seqüência
hilária, em que um veterinário
é obrigado a lidar com um camelo-mãe.
Uma rara preocupação com a
montagem confirma a singularidade deste primeiro longa-metragem de Sergei Dvortsevoy, escolhido o melhor filme
da mostra Um Certo Olhar do
Festival de Cannes deste ano.
A sincera busca por um realismo poético faz com que "Tulpan" escape das armadilhas do
exotismo simplório e o conduz
a um desfecho comovente, em
que o caráter documental do cinema se revela com uma força
absurda, capaz de produzir a
mais pura poesia.
TULPAN
Quando: hoje, às 19h, no Cinemark
Cidade Jardim; dia 28, às 19h10, no
Espaço Unibanco Pompéia 10
Classificação: não indicado a menores de 12 anos
Avaliação: ótimo
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