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Diretor argentino Pablo Trapero dá sua receita de cinema em SP
Autor de cinco longas, exibidos na Mostra, ele questiona "fantasia glamourosa"
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
"As desculpas não se filmam.
As culpas [pelos defeitos dos
filmes] são todas do diretor.
Portanto, suas escolhas devem
ser criteriosas."
O tom franco e informal dominou o encontro promovido
pela 32ª Mostra de São Paulo
entre o cineasta argentino Pablo Trapero e uma platéia de
estudantes e profissionais de
cinema, anteontem, na Faap.
Trapero começou desconstruindo "a fantasia glamourosa" sobre o diretor de cinema.
"O glamour é para a [etapa de]
promoção dos filmes. A direção
é suor", disse, antes do aviso:
"Se alguém for fazer um filme
sem sentir necessidade de contar aquela história, o processo
será duríssimo para ele".
Diretor de cinco longas -todos programados nesta Mostra,
incluindo o inédito "Leonera"-, Trapero disse que filmar
envolve "uma escolha ética,
além de estética" e contou porque seus longas "não têm personagens maus": "Os maus já
dominam o mundo. Para mim,
soa injusto dedicar tanto trabalho e energia para tentar entender um personagem mau".
Para Trapero, o "pânico" é o
sentimento inicial de um diretor prestes a começar um filme.
"São tantas as possibilidades de
escolha que você tem sempre a
sensação de que elegeu a pior
entre milhões de histórias que
poderiam ser contadas", disse.
Para vencer a insegurança,
ele deu seu receituário: "Confiar na idéia original do projeto.
Intuir a melhor opção no set. E,
por paradoxal que pareça, reprimir esse tipo de desejo divino que o diretor tem de criar
um mundo e controlar todo o
universo, o que é impossível".
Numa autocrítica, afirmou
não saber "se valeu a pena" ter
insistido em filmar "Família
Rodante" (2004), seu terceiro
longa, numa movimentada rodovia argentina, "arriscando as
vidas de 40 pessoas". Amigos o
haviam desaconselhado, mas
ele foi adiante. "O filme seria
rodado em dez semanas e acabou sendo feito em 14. Vocês
podem imaginar o que é gastar
50% a mais do que o previsto."
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