São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2008

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Diretor argentino Pablo Trapero dá sua receita de cinema em SP

Autor de cinco longas, exibidos na Mostra, ele questiona "fantasia glamourosa"

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

"As desculpas não se filmam. As culpas [pelos defeitos dos filmes] são todas do diretor. Portanto, suas escolhas devem ser criteriosas."
O tom franco e informal dominou o encontro promovido pela 32ª Mostra de São Paulo entre o cineasta argentino Pablo Trapero e uma platéia de estudantes e profissionais de cinema, anteontem, na Faap.
Trapero começou desconstruindo "a fantasia glamourosa" sobre o diretor de cinema. "O glamour é para a [etapa de] promoção dos filmes. A direção é suor", disse, antes do aviso: "Se alguém for fazer um filme sem sentir necessidade de contar aquela história, o processo será duríssimo para ele".
Diretor de cinco longas -todos programados nesta Mostra, incluindo o inédito "Leonera"-, Trapero disse que filmar envolve "uma escolha ética, além de estética" e contou porque seus longas "não têm personagens maus": "Os maus já dominam o mundo. Para mim, soa injusto dedicar tanto trabalho e energia para tentar entender um personagem mau".
Para Trapero, o "pânico" é o sentimento inicial de um diretor prestes a começar um filme. "São tantas as possibilidades de escolha que você tem sempre a sensação de que elegeu a pior entre milhões de histórias que poderiam ser contadas", disse.
Para vencer a insegurança, ele deu seu receituário: "Confiar na idéia original do projeto. Intuir a melhor opção no set. E, por paradoxal que pareça, reprimir esse tipo de desejo divino que o diretor tem de criar um mundo e controlar todo o universo, o que é impossível".
Numa autocrítica, afirmou não saber "se valeu a pena" ter insistido em filmar "Família Rodante" (2004), seu terceiro longa, numa movimentada rodovia argentina, "arriscando as vidas de 40 pessoas". Amigos o haviam desaconselhado, mas ele foi adiante. "O filme seria rodado em dez semanas e acabou sendo feito em 14. Vocês podem imaginar o que é gastar 50% a mais do que o previsto."


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