São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2010

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Medellín destaca sua arquitetura permeável

Tentativas de revitalizar cidade influenciam projetos pelo mundo

Encerrada na Colômbia há uma semana, bienal de arquitetura também destacou seis projetos construídos no Brasil

Fotos Divulgação
Espelho d’água com obra da artista Yayoi Kusama na laje do Centro Educativo Burle Marx-Inhotim, em Brumadinho (MG), projeto de Alexandre Brasil Garcia e Paula Zasnicoff

SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL A MEDELLÍN

Na subida de teleférico do vale ao topo do morro Santo Domingo, em Medellín, um mar de casas de zinco e tijolos enche a vista. Terraços com piscinas de plástico e relicários de imagens sacras quebram o ritmo do trajeto.
Seria a visão do caos não fosse isso o espetáculo urbanístico que a metrópole colombiana tenta alardear depois de passar os últimos anos em intensa reforma, apostando na arquitetura de vanguarda como espécie de salva-vidas de um dos pontos mais violentos do mundo.
Lá em cima, um colégio desenhado por Carlos Pardo, premiado na Bienal Ibero-Americana de Arquitetura e Urbanismo, encerrada há uma semana em Medellín, serve de mirante para o bairro que era reduto do narcotraficante Pablo Escobar.
Camuflada na selva grosseira de alvenaria e barro do alto do morro, a escola de Santo Domingo Savio emerge da encosta. São duas lajes de concreto ladeadas por brises de madeira, estrutura vazada que atravessa a densa massa urbana do bairro. "É uma leitura da topografia do lugar, uma arquitetura mais sutil, não tão espetacular", diz Pardo, do escritório Obranegra, à Folha. "Era claro que o colégio não podia se tornar um monumento, um objeto estranho, por isso replica elementos do bairro." No caso, também se estrutura a partir de terraços, mirantes e escadarias. Reproduz na própria forma as frestas entre os casebres do bairro que dão vista para a cidade que se alastra lá embaixo.

OBRAS PERMEÁVEIS
Um "laboratório vivo", nas palavras do diretor de urbanismo de Medellín, Mauricio Valencia, a cidade há tempos já serve de estudo de caso para como recuperar regiões degradadas com arquitetura.
Mas do ponto de vista formal, tentativas de fazer Medellín uma cidade "permeável" derivam de tendências globais de uma arquitetura que se desdobra no espaço, que seja menos monumental e mais ligada ao entorno.
"São projetos específicos para a topografia", resume Juan Luis Isaza, diretor da Bienal Ibero-americana de Arquitetura e Urbanismo.
"Fazem uma interpretação do lugar, no caso, Medellín, que é uma Suíça tropical e Calcutá ao mesmo tempo."
Fora de Medellín, outros projetos na Bienal seguem o mesmo tipo de premissa.
Entre os brasileiros, o Centro Educativo Burle Marx-Inhotim, de Alexandre Brasil Garcia e Paula Zasnicoff, parece afundar na mata do interior mineiro e empresta sua laje a um espelho d'água, que camufla a estrutura.
No interior gaúcho, o Museu do Pão, do escritório Brasil Arquitetura, aparece fundido a um antigo moinho de farinha, extensão moderna de um passado rústico.
Da mesma forma, a terra de Oaxaca está nos muros da escola de artes plásticas projetada ali pelo arquiteto Mauricio Rocha. Toda a estrutura parece brotar do terreno, com aquela mesma paleta árida do deserto mexicano.
Uma casa no Peru, projeto de Luis Longhi Traverso, também afunda na montanha para sublinhar o espetáculo não da própria forma, mas da paisagem ao redor.


O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite do Ministério de Cultura da Colômbia


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