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Poética sem fronteiras
Os artistas Mauricio Dias e Walter Riedweg ganham retrospectiva na Finlândia e preparam intervenção em Londres
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
As fronteiras há muito deixaram de existir para a economia. E
a arte percorre o mesmo caminho, transformando-se em matéria transnacional. Refletindo não
somente sobre os novos limites
geográficos, mas também sobre
questões universais, como o amor
e a memória, o trabalho da dupla
Mauricio Dias e Walter Riedweg
conquista territórios.
Neste ano, o carioca Dias, 40, e o
suíço Riedweg, 49, participaram
de mostras no Japão e no Brasil e
estão em exposição numa retrospectiva (a maior mostra já feita
sobre a dupla) em Helsinque, na
Finlândia, e nas bienais de Liverpool e de Xangai. Em 2005, já estão programadas mostras em Paris, São Paulo e Rio.
Dias e Riedweg foram escolhidos ainda para realizar uma intervenção em Londres durante a
próxima reunião do G8, o grupo
que congrega os oito países mais
ricos do mundo, que acontece em
julho do ano que vem em Perthshire, Escócia.
Uma comissão interdisciplinar,
constituída por curadores independentes, museus, ONGs e o British Council for the Arts, selecionou 20 artistas de projeção internacional para participar de um
concurso.
Os projetos deveriam lembrar
aos participantes do encontro da
urgência de uma solução para a
epidemia de Aids que se alastra
pelo continente africano.
A proposta da dupla é colocar
um grande comprimido flutuante
dentro do rio Tâmisa, em frente
ao museu Tate Modern. Do interior dele, surgem projeções de
olhos e frases de médicos e pacientes sobre a doença.
Projeção de imagens é um dos
principais veículos do trabalho.
Eles geralmente propõem um tema a um grupo -meninos de
rua, cegos, guardas de fronteira,
presos e habitantes comuns das
cidades já participaram-, que
ajuda a dar forma ao resultado final; o processo é todo documentado em vídeo.
"Fazemos projetos com e sobre
as pessoas. Como nós vemos o
outro, no eixo político e social,
mas também no que elas vivem de
mais subjetivo", explica Dias.
O lugar onde acontece as exposições também é um dos elementos que constituem as obras. Um
exemplo é a instalação que apresentaram na Bienal de São Paulo
de 1998, cuja temática eram os
porteiros de prédios da cidade
chamados Severino, Francisco ou
Raimundo.
Em Veneza, em 1999, eles filmaram moradores da cidade trocando de roupa. As imagens foram
projetadas numa grande videoinstalação, junto com cenas
dessas pessoas dentro do espaço
expositivo. Para uma mostra no
Macba (Museu de Arte Contemporânea de Barcelona), no ano
passado, a dupla preparou o vídeo "Voracidade Máxima". Os
museus geralmente comissionam
os trabalhos da dupla, em valores
entre 20 e 30 mil euros.
Eles entrevistaram prostitutos
usando máscaras, os entrevistados com a cara dos entrevistadores e vice-versa, e vestindo roupões de banho. "A prostituição
masculina é um fenômeno que se
repete em todas as capitais européias, uma cartografia urbana
não totalmente analisada, que reproduz os movimentos de imigração, já que a maioria deles vem
de lugares periféricos, como o
norte da África", afirma Dias. "Há
uma relação entre economia e sexualidade, a urgência emocional
dos clientes e a financeira dos
prostitutos", completa.
Personalidade
O vídeo poderá ser visto no Brasil na primeira exposição individual do duo numa galeria, que deve acontecer na Vermelho, em
São Paulo, em 2005. "O trabalho
não é documentário nem jornalístico. Colocamos nossa relação
no primeiro plano. Walter Benjamin dizia que uma história contada tem a personalidade de quem
está contando, como o toque de
quem está modelando um escultura", diz o artista.
Lidar com pessoas em situação
de exclusão social não significa no
entanto, que a dupla faça da arte
um meio de transformar diretamente a vida de seus colaboradores. "O que acontece quando você
fica cinco minutos olhando para
um Rembrandt? Quando fazemos
um trabalho, alguma reação
acontece, mas o que fica é o mesmo: uma expansão, também no
sentido político."
A "escultura social" proposta
por eles tem referências em Lygia
Clark, Hélio Oiticica e Joseph
Beuys. "Experimentalismo, mas
com desdobramento na sociedade", conclui Dias.
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