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TV
Para João Carlos Saad, sentimento incômodo com a democracia está por trás de projeto que cria agência do audiovisual
"Ancinav é ruim e feia", diz dono da Band
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
Presidente da Abra (Associação
Brasileira de Radiodifusores), entidade formada há um mês pelo
SBT, Record, Band e Rede TV!, o
empresário João Carlos Saad, 53,
afirma que o setor de radiodifusão está sendo "extremamente
atacado" e que o projeto do governo de criar uma agência do audiovisual, a Ancinav, que engloba
cinema e TV, é "ruim e feio".
Saad é presidente do Grupo
Bandeirantes de Comunicação. A
Abra foi criada para defender os
interesses de empresas que não se
sentem representadas pela Abert
(Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão).
A seguir, trechos de entrevista
concedida por Saad à Folha.
Folha - Qual será a diferença da
Abra para a Abert?
João Carlos Saad - A Abra nasce
com o objetivo de ser uma organização muito mais aberta, mais democrática. Nós tentamos que
houvesse um processo democrático na Abert, que hoje representa
uma só televisão [a Globo].
Os objetivos são, primeiro, defender o setor, porque eu acho
que a radiodifusão está sendo extremamente atacada. Não é um
movimento isolado. Não vem de
um setor, vem de vários setores.
Vem de diversos ministérios.
Folha - Vem de ministérios e do
Congresso Nacional?
Saad - Vem de ministérios, vem
de projetos no Congresso, vem do
Ministério da Justiça, que tem um
projeto horroroso contra a radiodifusão [um termo de compromisso em que as TVs assumiriam
limites na programação].
A Ancinav é negócio ruim e feio.
Agora nós temos problemas com
a Anatel, problemas com o Ministério das Comunicações. Querem
enfraquecer o setor.
Folha - Por que?
Saad - Tem outros interesses
que talvez a vã filosofia não alcance. Por que canais são transferidos
para São Paulo? Será que tem alguém tendo vantagem? Será que
tem alguém auferindo algum tipo
de recompensa? É esquisito isso.
Nós deixamos rádio pirata e enchemos as empresas [legais] de
impostos. Enfiamos goela abaixo
horários eleitorais, campanhas
políticas, tudo de graça. Depois
não pode [propaganda de] cigarro, de advogado. Então, no fundo,
nós estamos querendo o quê?
Destruir? Destruir o único setor
que dá entretenimento e informação grátis para a população?
Folha - A Ancinav é prioridade?
Saad - A Abra também vai se posicionar contra esse projeto ruim
que o Ministério da Cultura fez.
Aliás, eu queria saber o que o Ministério da Cultura está fazendo.
Um bom jeito de disfarçar que a
gente não está fazendo nada é atirar pedra na janela da casa do vizinho. É fazendo arruaça.
Porque com isso a gente não
pergunta o que é que está sendo
feito no Ministério da Cultura.
Folha - Por que o projeto da Ancinav é ruim e feio?
Saad - Primeiro, porque ele quer
controlar os veículos todos. Por
que vão controlar? Quem são essas pessoas que são melhores do
que as outras? Acho que a sociedade se controla e o que a sociedade quer é pluralidade. Eu também
quero como indivíduo. Não quero ficar escravo de uma única opinião ou de censores estáveis.
Folha - O que está por trás disso?
Saad - Eu sinto que as pessoas
fazem discursos maravilhosos sobre a democracia, mas, na verdade, não gostam dela. É um sistema
muito chato mesmo, mas é o menos ruim que a gente conhece.
Mas tem gente que não gosta dele
e por isso quer controlar tudo.
Folha - O sr. acha que não deveria
haver classificação indicativa?
Saad - Não, eu acho que deve ter.
Temos que tomar cuidado com
criança. Precisamos definir o que
é um horário até onde a criança
deveria estar exposta e tomarmos
todos os cuidados, dentro de uma
auto-regulamentação. Depois
desse horário, a culpa é dos pais.
Folha - Qual é o limite de horário
ideal para crianças verem TV?
Saad - Até 21h, por aí.
Folha - De zero a dez que nota o sr.
dá para o atual governo em relação
aos meios de comunicação?
Saad - Acho que até aqui ele [o
governo] não deu importância estratégica que deveria ter dado.
Tanto é que já estamos no segundo ministro das Comunicações, e
ele não é do PT. O ministério entrou numa negociação política.
Folha - Há omissão?
Saad - Eu acho. Nunca mais se
discutiu TV digital. O governo
tem que começar a organizar o setor. Nós temos que buscar um
equilíbrio econômico. Temos distorções graves. A fusão da Sky
com a DirecTV caminha para um
monopólio no céu.
Folha - Por que a Globo tem 50%
da audiência nacional e por volta de
80% do bolo publicitário da TV?
Saad - Essa é uma realidade de
mercado. Temos distorções graves também na área publicitária.
Acho que isso precisa ser enfrentado, porque existem dois lados
que estão sendo lesados: os anunciantes, que estão pagando mais e
levando menos, e os veículos, que
teriam direito tecnicamente a essas verbas e não estão tendo.
Então, temos um problema na
intermediação [nas agências de
publicidade], que precisa ser estudado, analisado, questionado.
Folha - Nos últimos quatro anos a
direção artística da Band mudou
três vezes. Por que nada é muito
duradouro nessa área na Band?
Saad - Eu não sinto isso não,
apesar de ter tido mudanças. Tem
mudanças com pessoas, mas as linhas mestras, estratégicas de programação, são as mesmas.
A Band tinha um erro no passado, que foi um exagero no esporte. Aí cometemos um segundo erro: fomos radicais demais e não tínhamos nenhum esporte. Aí a
Band se propôs a se popularizar,
se feminilizar, e vem dando passos nesse sentido. Às vezes acerta.
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