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AUDIOVISUAL
Com roteiro dos americanos Will Eno e Sam Lipsyte, o diretor de teatro vai rodar o seu primeiro longa em 2005
Felipe Hirsch vai ao cinema com "Insolação"
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O diretor teatral e dramaturgo
Felipe Hirsch, 32, da Sutil Cia. de
Teatro, anuncia para 2005 a sua
primeira incursão no cinema: o
longa-metragem "Insolação".
Hirsch catapultou como roteiristas dois nomes da nova geração
de autores norte-americanos: o
escritor Sam Lipsyte e o dramaturgo Will Eno. Deste, elogiado
pelo veterano Edward Albee, ele
montou em São Paulo "Temporada de Gripe" (2003).
O filme está em fase de captação
(produtoras Dueto e Nós Outros).
Deve ser rodado a partir de julho
próximo, com previsão de estréia
em outubro de 2006.
Foi a cenógrafa e cineasta Daniela Thomas, parceira em "Temporada de Gripe" e mentora de
projetos recentes do encenador,
quem o convenceu a procurar
Eno, que lhe apresentou Lipsyte
("Venus Drive"), de circuito literário alternativo.
Hirsch nunca fez cinema. Queria um roteiro que falasse de
amor, "roteiro pleno de razão e
emoção, mas tão vazio e angustiante como uma obra eslava".
De fato, o universo de escritores
russos e poloneses (Tchecov,
Gombrowicz, Bunin, Schulz etc)
serve como parâmetro. O enredo
diz sobre um grupo de pessoas
que se perde numa floresta em
busca de uma cidade, levado por
um professor. Diante da morte
iminente, todos decidem viver
aquela última noite e não racionar
o que têm para sobreviver por
mais alguns dias. Seria a tradução
dos roteiristas para o que significa
entregar o coração numa época
de desesperanças. "Will e Sam
têm um humor negro inteligentíssimo, mas capazes de emocionar a uma pedra", diz Hirsch.
O diretor pretende trabalhar
"voyeuristicamente", dar ao público a sensação de observar uma
intimidade. "Quando penso que
amor, vazio existencial, solidão,
ansiedade e paixão não podem
ser calculados usando formas conhecidas, que nem a circunferência de uma árvore pode ser calculada a partir de um cilindro, que
ela contém microespaços fractais
que geram infinitos cálculos e que
cada coisa contém seu universo, e
que cada educação sensorial gerou uma percepção do amor, e
que cada pessoa verá e sentirá o
amor do seu jeito, eu percebo a
complexidade dessa história simples e a disfunção das palavras escondidas nos silêncios, hesitações. O resto, como diria o príncipe, é "imagem'", discorre Hirsch.
O projeto inclui fotografia de
Walter Carvalho ("Amarelo Manga"). O elenco trará atores da Sutil, mas ainda não está fechado.
De alguma forma, os espetáculos da primeira década da Sutil já
acenavam para a tela grande.
"Eles sugeriam cinema não pelas
telas e projeções, e sim pela velocidade e liberdade dramatúrgica
que a memória cria e que se relaciona diretamente com a sensação de um roteiro cinematográfico", diz. "A memória proporciona cortes de tempo e espaço bastante similares ao que se vê no cinema. Quando lembro do que
amo no cinema (Bergman, por
exemplo), brinco que lugar pra se
fazer teatro é no cinema e lugar
pra se fazer cinema é no teatro."
Em tempo: os cinco filmes prediletos, hoje, pelo encenador de
"A Vida É Cheia de Som e Fúria"
(2000): "Através de um Espelho"
(Bergman), "Decálogo" (Kieslowski), "Viver" (Kurosawa),
"Nostalgia" (Tarkovski), "Meu
Tio" (Jacques Tati) e "Quanto
Mais Quente Melhor" (Wilder).
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