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CINEMA
"A Vida É um Sopro" levou sete anos para ficar pronto e passa "hors-concours"
Tributo a Niemeyer abre Brasília
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Sete anos depois de ter feito as
primeiras entrevistas com Oscar
Niemeyer para um documentário
sobre o arquiteto, o diretor Fabiano Maciel finalmente lança seu filme. E não poderia haver tela mais
apropriada: "Oscar Niemeyer - A
Vida É um Sopro" tem avant-première hoje à noite, na abertura do
38º Festival do Cinema Brasileiro
de Brasília, a cidade que ele ajudou a projetar.
O documentário, diz Maciel, é
assumidamente um filme de admiradores de Niemeyer. O título
vem de um dos depoimentos do
arquiteto: "A vida é chorar e rir a
vida inteira. Aproveitar os momentos de tranqüilidade e brincar
um pouco (...). A vida é um sopro,
né?". A declaração ilustra um lado
do arquiteto que Maciel considera
pouco conhecido.
"É uma frase poética e ao mesmo tempo sacana, vinda de alguém que vai fazer 98 anos e, felizmente, firme e forte. Acho que é
esta a novidade, este lado filósofo
do Oscar, de alguém que conseguiu resolver a equação trabalhar
e se divertir ao mesmo tempo."
As primeiras entrevistas com Niemeyer aconteceram em janeiro de
1998, em seu escritório, no Museu
de Arte Contemporânea, em Niterói, e em sua casa. O perfil de
Niemeyer em "A Vida É um Sopro" tem como cenário seis cidades do Brasil, além de França, Itália, Argélia, Estados Unidos, Portugal, Uruguai e Inglaterra.
José Saramago fala sobre as convicções políticas do arquiteto
("manter o rumo no meio deste
temporal, com ventos que sopram de todos os lados, isso o Oscar conseguiu"); Chico Buarque,
sobre o desejo de ser arquiteto
("Decidi-me a ser Oscar eu mesmo. Depois larguei a arquitetura e
virei aprendiz de Tom Jobim.
Quando a minha música sai boa
penso que parece música de Tom
Jobim. Música do Tom na minha
cabeça é casa do Oscar"), e Eduardo Galeano, das curvas ("ele tem
feito uma arquitetura ... muito parecida com a paisagem das montanhas do Rio de Janeiro, são
montanhas que parecem corpos
de mulheres deitadas, desenhadas
por Deus no dia em que Deus
achou que era Niemeyer").
O retrato obtido, conta Maciel,
sintetiza três facetas de Niemeyer:
o arquiteto, o militante e o reflexivo, que divaga sobre genética, o
cosmos e a insignificância do homem diante da natureza. Imagens
de arquivo fazem a vez do narrador, com trechos de cinejornais,
de filmes como "Um Candango
na BelaCap" e "Bye Bye Brasil". E
raridades, como um filme do Departamento de Estado Americano
que mostra a Pampulha recém-inaugurada, imagens de Niemeyer durante a escolha do projeto
da sede das Nações Unidas.
Maciel, que espera lançar "A Vida É um Sopro" no segundo semestre de 2006, lembra que não
havia um filme que abordasse a
vida e a obra de Niemeyer em toda a sua amplitude.
"Fernando Cony Campos tinha
começado um documentário
com Mário Carneiro, que infelizmente nunca foi terminado."
Barrados
Enquanto isso, na mostra competitiva, o cineasta Murilo Salles
não está nada satisfeito com as regras de seleção em Brasília. Produzido por Salles, "Árido Movie",
do pernambucano Lírio Ferreira,
ficou de fora da competição por já
ter sido exibido, ainda que hors-concours, no Festival do Rio.
Mesmo caso do diretor Beto
Brant e seu "Crime Delicado".
"Espero que os organizadores
do festival sejam mais honestos
na hora de submeter os produtores e cineastas à inscrição, para as
pessoas não passarem por esse
papelão", reclama Salles.
A regra de ineditismo de Brasília tem, segundo seu diretor, Fernando Adolfo, uma ligação direta
com a quantidade e qualidade dos
filmes inscritos. Adolfo diz que
este ano a competição de longas
recebeu 40 inscrições, e que metade das produções era inédita.
"Havia muitos títulos com grande
qualidade competitiva. A partir
daí, o critério de ineditismo, que é
histórico, prevaleceu", defende-se
Adolfo.
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