São Paulo, terça-feira, 22 de novembro de 2005

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CINEMA

"A Vida É um Sopro" levou sete anos para ficar pronto e passa "hors-concours"

Tributo a Niemeyer abre Brasília

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Sete anos depois de ter feito as primeiras entrevistas com Oscar Niemeyer para um documentário sobre o arquiteto, o diretor Fabiano Maciel finalmente lança seu filme. E não poderia haver tela mais apropriada: "Oscar Niemeyer - A Vida É um Sopro" tem avant-première hoje à noite, na abertura do 38º Festival do Cinema Brasileiro de Brasília, a cidade que ele ajudou a projetar.
O documentário, diz Maciel, é assumidamente um filme de admiradores de Niemeyer. O título vem de um dos depoimentos do arquiteto: "A vida é chorar e rir a vida inteira. Aproveitar os momentos de tranqüilidade e brincar um pouco (...). A vida é um sopro, né?". A declaração ilustra um lado do arquiteto que Maciel considera pouco conhecido.
"É uma frase poética e ao mesmo tempo sacana, vinda de alguém que vai fazer 98 anos e, felizmente, firme e forte. Acho que é esta a novidade, este lado filósofo do Oscar, de alguém que conseguiu resolver a equação trabalhar e se divertir ao mesmo tempo." As primeiras entrevistas com Niemeyer aconteceram em janeiro de 1998, em seu escritório, no Museu de Arte Contemporânea, em Niterói, e em sua casa. O perfil de Niemeyer em "A Vida É um Sopro" tem como cenário seis cidades do Brasil, além de França, Itália, Argélia, Estados Unidos, Portugal, Uruguai e Inglaterra.
José Saramago fala sobre as convicções políticas do arquiteto ("manter o rumo no meio deste temporal, com ventos que sopram de todos os lados, isso o Oscar conseguiu"); Chico Buarque, sobre o desejo de ser arquiteto ("Decidi-me a ser Oscar eu mesmo. Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando a minha música sai boa penso que parece música de Tom Jobim. Música do Tom na minha cabeça é casa do Oscar"), e Eduardo Galeano, das curvas ("ele tem feito uma arquitetura ... muito parecida com a paisagem das montanhas do Rio de Janeiro, são montanhas que parecem corpos de mulheres deitadas, desenhadas por Deus no dia em que Deus achou que era Niemeyer").
O retrato obtido, conta Maciel, sintetiza três facetas de Niemeyer: o arquiteto, o militante e o reflexivo, que divaga sobre genética, o cosmos e a insignificância do homem diante da natureza. Imagens de arquivo fazem a vez do narrador, com trechos de cinejornais, de filmes como "Um Candango na BelaCap" e "Bye Bye Brasil". E raridades, como um filme do Departamento de Estado Americano que mostra a Pampulha recém-inaugurada, imagens de Niemeyer durante a escolha do projeto da sede das Nações Unidas.
Maciel, que espera lançar "A Vida É um Sopro" no segundo semestre de 2006, lembra que não havia um filme que abordasse a vida e a obra de Niemeyer em toda a sua amplitude.
"Fernando Cony Campos tinha começado um documentário com Mário Carneiro, que infelizmente nunca foi terminado."

Barrados
Enquanto isso, na mostra competitiva, o cineasta Murilo Salles não está nada satisfeito com as regras de seleção em Brasília. Produzido por Salles, "Árido Movie", do pernambucano Lírio Ferreira, ficou de fora da competição por já ter sido exibido, ainda que hors-concours, no Festival do Rio. Mesmo caso do diretor Beto Brant e seu "Crime Delicado".
"Espero que os organizadores do festival sejam mais honestos na hora de submeter os produtores e cineastas à inscrição, para as pessoas não passarem por esse papelão", reclama Salles.
A regra de ineditismo de Brasília tem, segundo seu diretor, Fernando Adolfo, uma ligação direta com a quantidade e qualidade dos filmes inscritos. Adolfo diz que este ano a competição de longas recebeu 40 inscrições, e que metade das produções era inédita. "Havia muitos títulos com grande qualidade competitiva. A partir daí, o critério de ineditismo, que é histórico, prevaleceu", defende-se Adolfo.


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