São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 2006

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Morre Altman, 81, o cineasta dos cineastas

Autor de filmes como "M*A*S*H", "Nashville" e "O Jogador", norte-americano influenciou duas gerações de diretores

Feroz crítico de Hollywood, artista foi homenageado neste ano pela Academia com um Oscar especial pelo conjunto da obra


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Cineasta dos cineastas, morreu Robert Altman, aos 81, mais importante diretor de sua geração ainda em atividade, autor de clássicos modernos como "M*A*S*H", "Nashville", "O Jogador" e "Short Cuts - Cenas da Vida", que influenciaram pelo menos duas gerações de diretores. Segundo sua produtora, Altman morreu anteontem à noite num hospital de Los Angeles, de causa não divulgada até a conclusão desta edição.
Em março, ao receber um Oscar honorário pelo conjunto da obra, o diretor revelou que há 11 anos havia passado por um transplante do coração. Na ocasião, disse: "Recebi o coração, creio, de uma mulher perto dos 40 anos. Por esse cálculo, vocês estão me dando esse Oscar muito cedo, porque eu acho que tenho mais 40 anos de vida e pretendo usá-los".
Era conhecido por imprimir um estilo naturalista aos filmes, ao tentar interferir minimamente na atuação dos atores e fazer poucos cortes. Era sua marca também passear por diversos plots e subplots, que se entrelaçavam como numa dança, técnica que encontrou melhor tradução nos contos de Raymond Carver (1938-1988), que ele levou às telas em 1993, com "Short Cuts".
Ácido e irônico, satirizou diversos aspectos da vida norte-americana, da Guerra do Vietnã (em "M*A*S*H") à política ("Nashville") e à moda ("Prêt-à-Porter"). Um de seus principais alvos era Hollywood, especialmente o aspecto industrial do cinema, que ele reputava uma atividade artesanal. Vêm daí suas brigas com estúdios e produtores, que o fizeram um quase-marginal.
Sua opinião sobre o meio em que trabalhava ficou evidente em "O Jogador", de 1992, sobre os bastidores dos estúdios, com um dos planos de abertura mais longos e famosos do cinema, que lembra o de outro cineasta dos cineastas, Orson Welles (1915-1985), no clássico "Marca da Maldade" (1958).
Eterno desprezado pela Academia, que o indicou cinco vezes como diretor e duas vezes seus filmes, o cineasta seria finalmente reconhecido em 2006, com a estatueta honorária. Pode ser indicado postumamente por seu último trabalho, o elogiado "A Última Noite", para a premiação de 2007.
Robert Bernard Altman nasceu em 20 de fevereiro de 1925 em Kansas City (Missouri), filho único de corretor de seguros e dona-de-casa descendentes de alemães. Serviu a Aeronáutica como copiloto no final da Segunda Guerra, período em que inventou um sistema de identificação de animais de estimação por tatuagem, que batizou de "Identi-code".
Começou na profissão nos anos 40 e dirigiu comerciais, telefilmes, documentários, curtas e diversos episódios para séries de TV ("Bonanza" e "Combate", entre outros), até estrear na direção de um longa para cinema em 1957, com "The Delinquents", que também escreveu e produziu, a um custo de US$ 63 mil.
Sua aparição no radar da indústria cultural, no entanto, se daria com "M*A*S*H", que aceitou dirigir aos 45 anos, comédia aguda sobre uma unidade de médicos na Guerra da Coréia que servia de metáfora para a Guerra do Vietnã.
Além de Michael e Stephen, que teve com a segunda mulher, Altman era pai de Christine, com a primeira mulher, e Robert e Matthew, da terceira mulher, Kathryn Reed, com quem criou ainda a enteada Connie Altman.


Leia mais sobre Altman no blog Ilustrada no Cinema

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