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CRÍTICA ROMANCE
Em "Snuff", Palahniuk despeja detalhes de celebridades da indústria pornô
JOCA REINERS TERRON
ESPECIAL PARA A FOLHA
Com "Snuff", Chuck Palahniuk concebeu o enredo
ideal para Quentin Tarantino
realizar seu acalentado filme
pornô em 3D, temperando
com pitadas de enigma policial seu característico relato
de tipo "wikipedista", no
qual personagens -por mais
estúpidos que aparentem
ser- têm os rabos plugados em enciclopédias on-line.
E, como sabem das coisas,
esses subalternos de Palahniuk são ao mesmo tempo
iluministas e eletricistas,
além de verdadeiras sumidades da baixaria.
O metralhar de informações que os distintos narradores de "Snuff" despejam é
relacionado a duas coisas: 1)
à cultura do pornô; 2) à mitologia trágica do cinema que
explora a dramaturgia de ascensão e queda de atores célebres e desconhecidos.
Desde "Clube da Luta", livro/filme que o celebrizou,
Palahniuk compõe suas histórias com sólido estilo afanado de Kurt Vonnegut, assim exemplificado: a) domínio total de orações subordinadas e ausência quase completa de frases coordenadas;
b) prosa direta potencializada por coros repetitivos.
E coloque repetitivo nisso:
como no clássico "Matadouro 5", de Vonnegut, cujo narrador a todo tempo justifica
fatalidades ao reafirmá-las
como "coisas da vida", a
Sheila de "Snuff" deslinda a
realidade por meio da floresta de exemplos que extrai de
vidas desgraçadas dos artistas das telonas. "Fato real",
ela repete e repete.
Cassie Wright, divina dama dos filmes pornográficos, quer bater o recorde mundial
de trepadas ao vivo.
Com produção de Sheila, arregimenta 600 candidatos.
Entre tais valentes, estão o sr. 72, um garoto virgem que
suspeita ser filho bastardo da
atriz, o sr. 137, um ator canastrão e gay em busca de redenção no fundo do pote de Viagra, e o sr. 600, Branch Bacardi, astro do sexo explícito
em fim de carreira.
Enquanto abundam detalhes em extremo close-up,
acontece um assassinato.
De fundo moral e satírico, os romances de Palahniuk são diversão bastante séria.
A cultura popular surge como consumo e representação do fracasso.
Em "Clube da Luta", o alvo era a indústria cosmética e a
máquina corporativa trituradora de identidades. Aqui, a
vida secreta das pessoas surge à tona como num vídeo
HD, tão definido a ponto de revelar o indevido.
Todavia, afirma Sheila,
"tanto no caso de astros machões que se revelam bichas,
como no de atores de filmes
mudos cujas vozes parecem
horríveis quando gravadas, o
público só quer uma quantidade limitada de honestidade". Fato real.
JOCA REINERS TERRON é autor, entre outros, de "Do Fundo do Poço se Vê a Lua"
(Companhia das Letras)
SNUFF
AUTOR Chuck Palahniuk
TRADUÇÃO Paulo Reis
EDITORA Rocco
QUANTO R$ 32 (208 págs.)
AVALIAÇÃO bom
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