São Paulo, Quarta-feira, 22 de Dezembro de 1999


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PRÉ-OSCAR
Favorito ao Globo fala de filme

LUCIANO VIANNA
especial para a Folha em Londres

Fazendo uma crítica contundente da sociedade americana,"Beleza Americana", o grande nome do Globo de Ouro deste ano, com seis indicações, já arrecadou quase US$ 67,6 milhões de bilheteria apenas nos Estados Unidos.
"Beleza Americana" é uma comédia de humor negro, mostrando o dia-a-dia de um "looser" (perdedor) americano (Kevin Spacey): humilhado no emprego, rejeitado pela mulher (Annette Bening), ainda sofre com as constantes brigas com a filha adolescente (a atriz teen Thora Birch). Tomado por uma paixão por uma amiga da filha, o protagonista dá uma virada: larga o emprego e passa a aproveitar a vida sem ligar para responsabilidades.
O filme, estréia no cinema do diretor inglês Sam Mendes, fez sua premiére européia no encerramento do 43º London Film Festival, em 18 de novembro, e foi muito bem recebido por público e crítica ingleses.
Vindo do teatro, Mendes recebeu quatro Tony pela bem-sucedida remontagem do musical "Cabaret". Além disso, dirigiu a polêmica peça "Blue Room", estrelada por Nicole Kidman. Um dia depois da premiére européia de "Beleza Americana", o diretor recebeu a Folha para uma conversa num hotel londrino.

Folha - Kevin Spacey foi sua primeira escolha?
Sam Mendes -
Desde o começo pensava nele. Quando aceitei o trabalho, o estúdio começou a exigir um grande astro popular, como Kevin Costner, mas eu não aceitei. Eu procurava a imagem de um homem contemporâneo. Ele foi a escolha óbvia, porque eu sabia que aceitaria o filme como um desafio, pois sempre interpretou papéis superlativos, como o mais vulnerável, o mais inteligente, o mais perdido, mas nunca tinha feito uma pessoa normal.

Folha - É verdade que você chegou a testar outros atores?
Mendes -
Isso realmente aconteceu. Mas acho que tive sorte, porque as coisas estavam tão claramente erradas que não dava para não notar de cara. Pior seria se tivesse filmado tudo e ficasse descontente com o resultado final.

Folha - O que te levou a decidir por "Beleza Americana", entre os roteiros que tinha à mão?
Mendes -
Foram duas coisas. Primeiro eu queria fazer um filme atual, não um drama de época. Não queria filmar adaptação de Jane Austen, isso não sou eu.
Eu também queria achar um filme pelo qual sentisse algo, porque acho que dirigir um filme é muito mais criativo do que dirigir uma peça. O teatro é a mídia dos atores e o cinema é a mídia dos diretores. Senti uma coisa muito forte fazendo esse filme, que acabou se refletindo na minha própria vida.

Folha - O filme é a visão inglesa do modo de vida americano?
Mendes -
Eu não gosto de pensar assim. Uma das coisas que o filme mostra é que a vida de qualquer pessoa é muito mais complexa e interessante do se possa imaginar. Esse é o ponto de partida do filme. Eu acho que ele não é somente sobre americanos. Eu não acho que o filme fala sobre o que é errado nos EUA, porque aquilo pode estar acontecendo em qualquer lugar do mundo.

Folha - O teatro influenciou muito o filme?
Mendes -
A visão que você tem das cenas no teatro é uma. No filme é uma coisa completamente diferente, muito mais complexa, porque você tem de pensar em todos os momentos, em cenas que você só filmará semanas depois.

Folha - Qual é o seu próximo projeto?
Mendes -
Estou estudando alguns roteiros para o cinema, mas ainda não tenho nada fechado.
O cinema consome muito a sua vida. O teatro para mim é como praticar um esporte: você faz seu trabalho toda noite e depois volta para casa despreocupado. No cinema você dorme pensando no filme, acorda imaginando cenas e tem uma série de preocupações que não existem no teatro, e isso é muito desgastante.
Quando você pensa que acabou, começa de novo: tem de acompanhar a edição, pensar nas músicas e em um monte de detalhes que passam despercebidos a muita gente. Depois que o filme é lançado, você ainda passa alguns meses promovendo, dando entrevistas... Você acaba vivendo exclusivamente, durante um bom tempo, para o filme.

Folha - Quando você pretende dirigir outra peça?
Mendes -
Talvez faça algo no ano que vem, mas ainda não há nada certo. Estou me animando para fazer um novo filme, porque acho que ainda tenho algumas coisas a dizer no cinema.


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