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São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2003

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RÉPLICA

De Norte a Sul, novos talentos em cena

JUNIA NOGUEIRA DE SÁ
ESPECIAL PARA A FOLHA

A etapa final do projeto Criação Teatral Volkswagen, ocorrida há duas semanas em São Paulo ["Prêmio polêmico é entregue no Municipal", Ilustrada, pág. E3, 10/12], mostra o acerto da idéia de identificar novos talentos, apoiando principalmente seu desenvolvimento e gerando oportunidades raras no cenário brasileiro para atores, atrizes e diretores ainda desconhecidos ou pouco conhecidos do público.
Para quem não acompanhou, um pequeno resumo: o projeto desenvolveu-se de março a dezembro deste ano. Grupos teatrais de todo o país foram chamados a se inscrever (dentro de regras muito razoáveis e flexíveis). Dos 503 que enviaram seus currículos, 36 foram selecionados com base em experiências anteriores, nove em cada região (Sul, Norte-Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste).
Os nove grupos de cada região foram reunidos (em Curitiba, Salvador, São Paulo e Rio) e tiveram, a partir de então, dois meses e meio de oficinas de teatro -cobrindo desde a história dessa arte até especificidades como expressão vocal, expressão corporal, interpretação. Abertas ao público e amplamente divulgadas, essas oficinas geraram grande interesse. Não raro foram feitas em teatros de platéia lotada e animada.
Antonio Abujamra, ator, diretor e curador do projeto, gosta de exemplificar esse entusiasmo com uma aula sua, planejada para durar quatro horas, que se transformou numa maratona de sete horas gratificantes de troca, interesse, convívio e aprendizado.
Ao fim das oficinas, dos nove grupos em cada capital, um foi selecionado para a final. As condições eram iguais para todos: o mesmo texto -uma adaptação de dez minutos de "A Cantora Careca", de Eugéne Ionesco, preparada por Abujamra- e as mesmas quatro cadeiras em cena. Tinham liberdade para adaptar figurinos e a interpretação. Apresentaram-se para um júri de especialistas em teatro.
Por fim, no dia 10, os quatro finalistas (Núcleo de Estudos de Teatro e Dança, de Porto Alegre, Arte em Foco, de Recife, 6 a Séc, de São Paulo, Companhia Ofício ou Sina, do Rio) apresentaram-se em São Paulo. O público recompensou generosamente a explosão de talento que viu no palco.
Venceram os gaúchos, segundo um júri também de especialistas em teatro. Levaram um prêmio de R$ 50 mil, dos quais R$ 20 mil devem ser, pelo regulamento, aplicados na montagem de um espetáculo.
Foi injusto? Sim, mas apenas porque são injustos todos os concursos e prêmios. Quem viu a final em São Paulo pôde lamentar, por exemplo, que a versatilidade da carioca Rosangela Santana e o carisma do pernambucano Amaro Vieira tivessem ficado de fora da premiação final, algo que pode ser corrigido na segunda edição.
Houve ainda quem estranhasse que três dos quatro grupos tenham deixado o Municipal de mãos abanando, enquanto um saiu de lá com um prêmio, digamos, modesto para a envergadura do projeto, um investimento de R$ 1,5 milhão.
Mas não é o que eles pensam, nem o que pensamos nós da Volkswagen do Brasil. Para nós e para os 36 grupos, incluindo os finalistas, a avaliação é outra. Basta ouvir seus depoimentos. Dois meses e meio de aulas e aprendizado foram o grande prêmio para todos, infelizmente raro neste país.
A possibilidade de ter contato direto com especialistas, críticos, professores de teatro renomados, em aulas especialmente preparadas, e ainda receber orientações durante os ensaios e a montagem representou informação, reciclagem, conhecimento, o tal desenvolvimento em que aposta o projeto.
Parafraseando uma campanha de publicidade inteligente, que cai como luva neste caso, essas oficinas e esse apoio não têm preço. Nisso foi consumida a maior parte do dinheiro aplicado, incentivado pela Lei Rouanet e, portanto, destinado a projetos de grande abrangência cultural.
A decisão de "democratizar" dessa forma a aplicação de recursos nos parece mais do que acertada: é, ela sim, justa, e coerente com os objetivos da política oficial de incentivos.


Junia Nogueira de Sá é diretora de assuntos corporativos da Voskswagen do Brasil

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