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RÉPLICA
De Norte a Sul, novos talentos em cena
JUNIA NOGUEIRA DE SÁ
ESPECIAL PARA A FOLHA
A etapa final do projeto Criação Teatral Volkswagen,
ocorrida há duas semanas em São
Paulo ["Prêmio polêmico é entregue no Municipal", Ilustrada,
pág. E3, 10/12], mostra o acerto da
idéia de identificar novos talentos,
apoiando principalmente seu desenvolvimento e gerando oportunidades raras no cenário brasileiro para atores, atrizes e diretores
ainda desconhecidos ou pouco
conhecidos do público.
Para quem não acompanhou,
um pequeno resumo: o projeto
desenvolveu-se de março a dezembro deste ano. Grupos teatrais de todo o país foram chamados a se inscrever (dentro de regras muito razoáveis e flexíveis).
Dos 503 que enviaram seus currículos, 36 foram selecionados com
base em experiências anteriores,
nove em cada região (Sul, Norte-Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste).
Os nove grupos de cada região
foram reunidos (em Curitiba, Salvador, São Paulo e Rio) e tiveram,
a partir de então, dois meses e
meio de oficinas de teatro -cobrindo desde a história dessa arte
até especificidades como expressão vocal, expressão corporal, interpretação. Abertas ao público e
amplamente divulgadas, essas
oficinas geraram grande interesse. Não raro foram feitas em teatros de platéia lotada e animada.
Antonio Abujamra, ator, diretor e curador do projeto, gosta de
exemplificar esse entusiasmo
com uma aula sua, planejada para
durar quatro horas, que se transformou numa maratona de sete
horas gratificantes de troca, interesse, convívio e aprendizado.
Ao fim das oficinas, dos nove
grupos em cada capital, um foi selecionado para a final. As condições eram iguais para todos: o
mesmo texto -uma adaptação
de dez minutos de "A Cantora Careca", de Eugéne Ionesco, preparada por Abujamra- e as mesmas quatro cadeiras em cena. Tinham liberdade para adaptar figurinos e a interpretação. Apresentaram-se para um júri de especialistas em teatro.
Por fim, no dia 10, os quatro finalistas (Núcleo de Estudos de
Teatro e Dança, de Porto Alegre,
Arte em Foco, de Recife, 6 a Séc,
de São Paulo, Companhia Ofício
ou Sina, do Rio) apresentaram-se
em São Paulo. O público recompensou generosamente a explosão de talento que viu no palco.
Venceram os gaúchos, segundo
um júri também de especialistas
em teatro. Levaram um prêmio de
R$ 50 mil, dos quais R$ 20 mil devem ser, pelo regulamento, aplicados na montagem de um espetáculo.
Foi injusto? Sim, mas apenas
porque são injustos todos os concursos e prêmios. Quem viu a final em São Paulo pôde lamentar,
por exemplo, que a versatilidade
da carioca Rosangela Santana e o
carisma do pernambucano Amaro Vieira tivessem ficado de fora
da premiação final, algo que pode
ser corrigido na segunda edição.
Houve ainda quem estranhasse
que três dos quatro grupos tenham deixado o Municipal de
mãos abanando, enquanto um
saiu de lá com um prêmio, digamos, modesto para a envergadura
do projeto, um investimento de
R$ 1,5 milhão.
Mas não é o que eles pensam,
nem o que pensamos nós da
Volkswagen do Brasil. Para nós e
para os 36 grupos, incluindo os finalistas, a avaliação é outra. Basta
ouvir seus depoimentos. Dois
meses e meio de aulas e aprendizado foram o grande prêmio para
todos, infelizmente raro neste
país.
A possibilidade de ter contato
direto com especialistas, críticos,
professores de teatro renomados,
em aulas especialmente preparadas, e ainda receber orientações
durante os ensaios e a montagem
representou informação, reciclagem, conhecimento, o tal desenvolvimento em que aposta o projeto.
Parafraseando uma campanha
de publicidade inteligente, que cai
como luva neste caso, essas oficinas e esse apoio não têm preço.
Nisso foi consumida a maior parte do dinheiro aplicado, incentivado pela Lei Rouanet e, portanto,
destinado a projetos de grande
abrangência cultural.
A decisão de "democratizar"
dessa forma a aplicação de recursos nos parece mais do que acertada: é, ela sim, justa, e coerente com os objetivos da política oficial de incentivos.
Junia Nogueira de Sá é diretora de assuntos corporativos da Voskswagen do
Brasil
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