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LIVRO
Obra reúne reportagens lançadas na época do assassinato do seringueiro
Ventura faz relato passional sobre caso Chico Mendes
FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 22 de dezembro de 1988, há
exatos 15 anos, Chico Mendes era
assassinado em Xapuri (AC).
Dois anos depois, os matadores
Darci e Darly Alves foram condenados num julgamento que tinha
como assistente de acusação o futuro ministro da Justiça Márcio
Thomaz Bastos e na platéia Luiz
Inácio Lula da Silva, Marina Silva
e José Genoino, atuais presidente
da República, ministra do Meio
Ambiente e presidente do PT.
Em defesa do seringueiro e contra os réus estava, além do que hoje é o poder central do país, o jornalista Zuenir Ventura, 72. Enviado do "Jornal do Brasil" ao Acre
para a cobertura do caso, ele produziu uma exemplar série de reportagens, que depois ganharia o
prêmio Esso, agora reunida em
"Chico Mendes - Crime e Castigo", da Companhia das Letras. O
livro é o quinto lançamento da coleção "Jornalismo Literário".
Por exemplar entenda-se notável, mas cuja fórmula, como admite o próprio autor, traz riscos
ao jornalista que for segui-la. Zuenir é tendencioso, parcial, preconceituoso até. Já os tratava como
assassinos antes da condenação
-estimulado, é verdade, pelo
manancial de evidências.
"Fiz como os manuais de redação não recomendam. Eu me exponho ali, revelo meus medos,
minhas preferências. Ter distanciamento seria de uma hipocrisia
absurda. Não é um modelo de reportagem, mas rompe um pouco
o faz-de-conta que domina esse
tipo de texto", afirma Zuenir.
Além de não esconder a admiração por personagens como o
garoto Genésio Ferreira da Silva,
principal testemunha de acusação, e o juiz Adair Longuini
(..."um país que é capaz de juntar
numa mesma história Chico
Mendes, o garoto Genésio e o juiz
Adair Longuini é um país que pode ter conserto"), o jornalista cria
ojeriza pelos acusados.
Numa entrevista com Darly seis
meses antes do julgamento, descreve assim o réu: "Aquele cheiro
de corpo mal lavado, aquele mau
hálito produzido pela úlcera ou
pela dentadura mal instalada, ou
pelas duas, provocava uma repulsa que deixava de ser um sentimento para se transformar numa
sensação física. Era insuportável
aquele ruído de lábios que, presos
por uma gosma branca, se descolam com dificuldade a cada movimento da boca".
Em sua defesa, Zuenir lembra,
com razão, que deu voz a todas as
partes e traçou um perfil sem cosméticos de Chico Mendes, ao revelar "defeitos" como a bigamia
do líder sindical.
Tão passional foi o mergulho do
autor que, a pedido da Justiça,
Zuenir acolheu em sua casa no
Rio o garoto Genésio, alvo potencial dos assassinos, que vivia na
fazenda dos Alves e cujo depoimento foi crucial para condená-los. Genésio viveu sob a tutela do
jornalista até a maioridade e ainda hoje seu paradeiro não é revelado, por questões de segurança.
À época da publicação das reportagens, entre 1989 e 1990, o
editor da Companhia das Letras,
Luiz Schwarcz, já queria condensá-las num livro, mas esbarrou na
resistência de Zuenir. A coleção e
os 15 anos da morte de Chico
Mendes ressuscitaram o projeto.
O autor quis voltar ao Acre para
produzir a última parte do livro,
"Quinze anos depois". As duas
primeiras são "O Crime" e "O
Castigo", com a íntegra das reportagens. A única alteração se deu
na ordem dos capítulos -por sugestão do editor, a obra é aberta
com a morte do sindicalista.
CHICO MENDES - CRIME E CASTIGO.
Autor: Zuenir Ventura. Editora:
Companhia das Letras. Quanto: R$ 33,50
(248 págs.)
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