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MEMÓRIA
Com trajetória privilegiada, a atriz integrou a trupe do Teatro de Arena e atuou em filmes de Ana Carolina
Myriam Muniz "morrem" e "permanecem"
Divulgação
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A atriz Myriam Muniz, que morreu no último sábado, em cena da peça "Fala Baixo Senão Eu Grito" |
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Quando morre uma grande
atriz como Myriam Muniz,
há uma sensação de perda ainda
mais aguda: mais do que uma
pessoa, morre o seu potencial de
ser muitas, de se desdobrar em cena e na tela; morrem todos aqueles que ela poderia ainda vir a ser.
Que se repita sempre a fórmula de
Carlos Drummond para Cacilda
Becker: na madrugada de sábado,
morreram Myriam Muniz.
Por outro lado, a qualidade de
seu trabalho permanece no tempo. Resgatada no livro de Maria
Thereza Vargas, "Giramundo:
Myriam Muniz, o Percurso de
uma Atriz", sua trajetória foi privilegiada. Formou-se na Escola de
Arte Dramática na época mítica,
quando seus professores eram os
diretores do Teatro Brasileiro de
Comédia. Dividiu a aventura do
Teatro de Arena com Guarnieri e
Boal, entre outros, em épocas difíceis: durante as apresentações da
Feira Paulista de Opinião, enfrentou a ameaça de balas, grávida.
De volta ao Arena em 20 de outubro deste ano, no ciclo "Cia. Livre Conta Arena 50 Anos", para
uma fala emocionada, confirmou
seu arquétipo de grande mãe do
Arena ao beijar o chão do teatro
ao fim do depoimento -gesto
resgatado em CD-ROM, a ser lançado em maio. Professora por décadas, formou uma legião de discípulos imitadores pelo Brasil inteiro -chegou a chamar da platéia, nesse dia, seu aluno Roney
Fachini para imitá-la ao vivo.
No cinema, fez uma parceria
importante com a cineasta Ana
Carolina, tendo participado de
"Mar de Rosas" (1977), "Das Tripas Coração" (1982) e, mais recentemente, de "Amélia" (2000).
No primeiro filme, aliás, contribuiu para a preparação dos atores, em uma inquietação típica de
quem, aos 73 anos, se preparava
para ministrar workshops para
atores de todo o Brasil.
Nos últimos dias, a atriz esteve
mais presente do que nunca, com
o revival do Arena e o sucesso de
"Nina", recente filme de Heitor
Dhalia, no qual se superou como
Eulália, uma aterrorizante proprietária que leva a sua inquilina a
matá-la. Quando se viu na tela,
chegou a ter medo de si mesma,
segundo depoimento à Tribuna
da Imprensa: "Não sabia que seria
capaz de fazer uma personagem
tão terrível. Depois de assistir ao
filme fiquei com síndrome de pânico. Tive medo de morrer. Felizmente, melhorei".
Não houve mesmo razão para
Myriam Muniz ter medo da morte. Na tela do cinema e na memória de quem a viu em cena estão
vivas Myriam Muniz.
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