São Paulo, sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

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Música

Nina Miranda cria conto de fadas sonoro

Shrift, que lança seu primeiro disco, "Lost in a Moment", é a atual banda da cantora brasileira do grupo inglês Smoke City

Com letras em inglês e português, Shrift lembra projeto anterior de Miranda, que antecipou a onda bossa eletrônica lounge


RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Há nove anos, em qualquer rádio ou rede de TV do mundo, em especial da Europa, você ouvia uma música de gosto brasileiro, levada relax no violão, batida eletrônica discreta, cuíca sampleada e uma voz lânguida cantando coisas como "Esse amor com paixão, ai que coisa". Era o Smoke City, banda inglesa que tinha à frente a cantora brasileira Nina Miranda e que fez enorme sucesso em 1997 com a música "Underwater Love".
Além de ser uma música deliciosa e de ter saído de um ótimo disco cheio de outras boas canções, "Underwater Love", nas paradas, foi uma espécie de prévia do que aconteceria alguns anos depois com o estouro de Bebel Gilberto e sua bossa lounge e as inúmeras cópias que surgiram em seguida.
Para o Smoke City, seguiu-se um segundo álbum e cada um partiu para seu projeto. Miranda participou de gravações ao lado de amigos. Miranda está de volta em novo projeto, Shrift, com um primeiro álbum, "Lost in a Moment", que acaba de ganhar edição nacional. Ao lado de um novo parceiro musical, Dennis Wheatley, a cantora fez um disco que lembra o Smoke City, mas segue linha própria. "O Smoke City era mais brincalhão, o Shrift é mais introspectivo", explica a cantora à Folha.
"Esse é um disco frágil, sensível, doce, feito sem pensar em quem iria ouvi-lo. Nós o gravamos como um hobby, como uma terapia, não importava se ia acontecer algo. Mas fomos mostrando, as pessoas foram gostando, e acabamos em uma gravadora que entendeu e não nos pressionou."

Ritmo lento
O processo de gravação, ela conta, foi relaxado e improvisado, com tudo sendo feito com calma no estúdio caseiro de Wheatley. "Esse disco demorou cinco anos pra ficar pronto, oi bem devagar. Fomos fazendo tudo de maneira improvisada: quando ouvia as músicas, deixava a fita gravando e ia criando na hora."
Dizendo que gostaria de fazer um show, especialmente no Brasil, mas sem grande pressa para realizá-lo, ela conta que existe também a possibilidade do Smoke City (Nina e seus dois parceiros, Mark Brown e Chris Franck) se reunir para um terceiro disco. "O Smoke City foi inovador, mas hoje isso virou um clichê. Essa coisa lounge, em português, com uma mulher sexy cantando. A gente se encontra e tem idéias para músicas novas, mas fazemos tudo devagar. Acho que vamos fazer e ver o que acontece, mas tem que ser pela paixão, tem que ser um disco que a gente gostaria de comprar."
Com um clima visual cheio de colagens de sons e letras em inglês e português que parecem contar uma história, a cantora lembra que seu novo projeto nasceu com a idéia de criar algo que soasse como um sonho ou um conto de fadas. "São como conversas gravadas. Mas conversas só com música, sem precisar falar. São frases inacabadas, quero que o ouvinte faça a sua conclusão. É chato ouvir uma letra toda explicada, gosto que não entendam tudo o que digo. O mundo tem tantas palavras que às vezes é bom buscar o silêncio, a paz. O Shrift é como o silêncio sem silêncio."


LOST IN A MOMENT    
Artista: Shrift
Lançamento: Six Degrees/Ginga P
Quanto: R$ 40, em média


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