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Cinema - Crítica/"A Promessa"
Diretor abusa de exotismo e segue linha de propaganda política da "nova China"
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Ao lado de Zhang Yimou,
Chen Kaige é um dos
mais bem-sucedidos diretores da "quinta geração" do
cinema chinês -o primeiro
grupo que saiu da Escola de Cinema de Pequim depois do fim
da Revolução Cultural e que foi
mundialmente reconhecido a
partir do fim dos anos 80.
No início de suas carreiras,
tanto Kaige (Palma de Ouro em
Cannes em 1993, por "Adeus
Minha Concubina") como Yimou (Leão de Prata em Veneza
em 1991, por "Lanternas Vermelhas") enfrentaram sérios
problemas com a censura chinesa. Detalhe que só reforça a
imensa ironia de ver o tipo de
cinema que eles produzem hoje, assumidamente oficialesco,
porta-voz da "nova China".
"A Promessa" é a primeira
incursão de Kaige nessa seara,
seguindo a mesma linha de dois
sucessos assinados por Yimou:
"Herói" (2002) e "O Clã das
Adagas Voadoras" (2004).
De certa forma, Kaige não decepcionou. Foi capaz de entregar um genuíno filme-exportação, que pinta uma China exótica, grandiosa, romântica e heróica. Uma China de sonho, radicalmente distante do país como ele é hoje, e distante, também, de suas primeiras obras.
O filme acompanha a história
de uma menina que pede a uma
deusa para não mais passar fome. Pela promessa, em troca de
beleza e poder, ela jamais terá
os homens que ama. A menina
se torna uma princesa, cobiçada por três pretendentes.
Nesse aspecto específico -o
sonho- habita o encanto e o
problema desses filmes. Aos
poucos, a poesia que dava o tom
em "O Tigre e o Dragão" foi
sendo substituída por uma série de clichês reiterados, mais
alinhados ao esforço de construir uma fantasia espetacular
do que à genuína necessidade
artística de seus diretores.
Esse cinema entra em imenso contraste com uma forma
bem menos colorida de se filmar a nova China, que pode ser
vista, por exemplo, na obra de
Jia Zhang-ke ("Plataforma" e o
premiado "Still Life").
Não se trata aqui de negar a
possibilidade do sonho, mas de
questionar o tipo de sonho que
está sendo fabricado. Em Kaige, ele é um puro simulacro de
sutil fundo político, engrandecedor de determinada China e
da forma como ela quer se apresentar ao mundo. Zhang-ke,
aliás, se dá direito ao sonho e à
poesia, mas em outros termos.
A aura "artística" que pesa
tanto em "Herói" e "O Clã...",
recheados de monumental beleza plástica -e exaustivos justamente por isso- dá lugar, em
"A Promessa", a uma pinta carnavalesca. Kaige orquestra de
forma capenga as lutas aéreas
de "O Tigre...", as flechas viajantes de "Herói" e as pétalas de
"O Clã...", incluindo as penas de
um figurino ultraexótico.
"A Promessa" é mais um passo na diluição de um gênero,
um filme que se limita a repetir
fórmulas de sucesso sem encontrar, nessa repetição, a possibilidade da diferença.
A PROMESSA
Direção: Chen Kaige
Produção: China/Hong Kong/Japão/Coréia do Sul, 2005
Com: Jang Dong-kun, Hiroyuki Sanada, Cecilia Cheung
Quando: em cartaz nos cines Bristol, Espaço Unibanco e circuito
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