São Paulo, terça-feira, 22 de dezembro de 2009

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Comentário

Série "Toma Lá, Dá Cá" chega ao fim desperdiçando talentos e sacadas

HUGO POSSOLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Assim que escrevi sobre Miguel Falabella aqui na Folha, fomos apresentados. Ele tentou definir um crítico: "É o cara que sabe onde é a festa, sabe quem são os convidados, mas não tem carro para ir à festa!".
Rimos juntos. Porém seu comentário revela mais o vínculo com o poder da grana do que com alguma inquietação artística. Por essa, dá para entender o que leva ao fim o "Toma Lá, Da Cá". Refém de seu nome, não deu o que a Globo queria e apresenta seu último episódio.
Um programa de TV, em geral, acaba quando pesquisas de mercado o condenam ou quando os índices de audiência são muito baixos. Não tem nada a ver com arte.
Só que no "business" das comédias de situação é diferente. Uma sitcom norte-americana, por exemplo, tem mais de 40 redatores que estudam os detalhes de cada piada.
A estrutura de "Toma Lá..." é uma bela sacada. Reúne casais trocados e filhos adolescentes em apartamentos colados e ainda dividindo a mesma empregada doméstica.
Mas raras vezes o programa se apoiou nisso. Fugiu da trama, extrapolou os ambientes e deixou as personagens sem função, reduzindo-as a meros estereótipos.
As histórias brecavam nos comentários de desqualificação alheia, que tratam o público como incapaz de tirar suas próprias conclusões. Desperdiçaram-se talentos.
Norma Bengell, como a lésbica Deise, só entrava em cena para ser avacalhada por ser sapatão. Sua função era ser plataforma para alçar preconceitos.
Mais constrangedor era ver um gênio da atuação como Diogo Vilela acuado numa personagem sem cara nem voz. Enfim, não é uma fórmula que se esgotou, é o quanto não foi aproveitada na televisão.
Não tem a ver com dinheiro, mas com atenção à arte. Seu último episódio, "Caminho das Estrelas", que vai ao ar hoje, faz uma fina ironia. Saiu tanto de seu próprio contexto que somente alienígenas para salvar a nave perdida do edifício Jambalaya do rumo ao esquecimento total.

HUGO POSSOLO, 47, é palhaço, dramaturgo e diretor do Parlapatões e do Circo Roda Brasil. Também é autor do livro "Palhaço-Bomba"


TOMA LÁ, DÁ CÁ

Quando: hoje, às 22h45, na Globo
Classificação: não indicado a menores de 14 anos




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