São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

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CINEMA/ESTRÉIA

"O SORRISO DE MONALISA"

Produção com Julia Roberts embarca na atmosfera puritana do pós-guerra americano

Anos 50 retornam com discurso feminista

PAOULA ABOU-JAOUDE
FRE-LANCE PARA A FOLHA DE LOS ANGELES

Hollywood continua a revisitar a era de Eisenhower. Depois do cultuado filme "Longe do Paraíso", que rendeu a Julianne Moore uma indicação para o Oscar em 2003, os anos 50 voltam agora representados por Julia Roberts no bem intencionado - e mal recebido pela crítica americana - drama estudantil-feminista "O Sorriso de Monalisa", dirigido pelo cineasta inglês Mike Newell.
A estrela mais popular de Hollywood veste saia rodada e anda de cadillac "rabo-de-peixe" ao interpretar Katherine Watson, uma professora que vai lecionar história da arte na Universidade Wellesley, em Nova Inglaterra, onde estudou ninguém menos que a senadora novaiorquina Hillary Rodham Clinton.
A escola sempre foi tida como progressista, mas, quando a professorinha Julia chega ao local, só encontra garotas casadoiras, que ela obviamente influencia com suas tiradas feministas.
"O propósito todo de eu querer fazer esse filme foi para lembrar às mulheres de minha geração e de outras mais jovens sobre os apuros pelos quais passaram nossas mães, avós e bisavós", diz Roberts em entrevista à Folha. "Rodar esse filme me fez sentir mais grata aos luxos que eu aprendi a acreditar que eram meus de direitos".
Entre as várias pupilas de Roberts, destacam-se três, interpretadas por atrizes atualmente consideradas cults em Hollywood: Kirsten Dunst, Julia Stiles e Maggie Gyllenhaal. "Poderia ter sido um elenco desastroso, mas essas meninas são bastante sofisticadas", explica Roberts. "Fiquei impressionada como elas conduzem suas carreiras, como é a postura delas perante a vida, e como habilmente desenvolveram suas personagens. A nova geração chegou para ficar".
Roberts, no entanto, não concorda que as atrizes em atividade nos anos 50 usufruíam de mais poder e oportunidades e que faziam filmes mais sólidos, embora estudiosos apontem a era de Bette Davis, Joan Crawford, Vivien Leigh e Katharine Hepburn como a época áurea das atrizes de Hollywood. "Minha carreira toda parece destoar dessa história de que hoje em dia temos menos oportunidades ou bons papéis, não é mesmo?", rebate.
Dona de um carisma internacional que parece não rescindir mesmo com a ascensão de atrizes mais experientes como Nicole Kidman e Cate Blanchett, Roberts gosta de refutar a pecha de "mulher mais poderosa" do cinema americano, atribuída a ela anualmente.
"Poder é uma palavra muito relativa e para os homens tem um outro significado", diz. "Freqüentemente dou risada quando dizem que sou poderosa. Mas jornalistas insistem, o que me faz pensar sobre isso". E a que Roberts atribui a sua privilegiada posição? "Ao fato de que ainda estou aqui feliz, sana e inteira depois de tantos anos. Eu ainda consigo completar uma sentença."
"O Sorriso de Monalisa" também trás uma curiosidade: o diretor de fotografia da equipe de apoio é Daniel Moder, seu marido. "Está tudo na revista e no programa da Oprah [Winfrey]."
Em breve, Roberts deve atuar em novo projeto, na adaptação da cultuada peça "Closer", do inglês Patrick Marble, a ser dirigida por Mike Nichols, e co-estrelada por Jude Law.


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