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CRÍTICA
"Malhação" caricaturiza universo jovem
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Os roteiristas das novelonas deveriam olhar com
atenção para "Malhação". Não
que ela seja ótima. Não é. É chatinha, cheia de atores sofríveis,
com humor infantilóide etc. É
superficial como um filme plástico -cheia de adolescentes com
dramas, mas sem conflitos reais,
e adultos infantilizados, e solene
como uma aula de educação sexual- ao abordar os assuntos,
uhn, sérios, o tom pedagógico,
normatizador, predomina.
Mas "Malhação" descobriu um
formato entre a novela e a sitcom
que talvez consiga apontar para
uma renovação do gênero. Mais
ágil e ligeira (aqui, no melhor
sentido), há, como nas novelas,
tramas que se alongam no tempo, mas seu ciclo é mais curto. À
maneira das sitcoms, de-
senrola-se a partir das variações
de uma mesma situação, o que
confere previsibilidade nas histórias e fidelidade do espectador.
"Malhação", em suma, conseguiu incorporar algo das narrativas mais contemporâneas, mais
rápidas e que exigem menos concentração e comprometimento
sentimental do cinema e da TV
globalizados sem perder de vista
gosto pelo melodrama que perdura no telespectador brasileiro e
encontrou uma forma na novela.
Além disso, encontrou uma maneira de baixar o tom da novela
para transformá-la mais adequada ao gosto adolescente médio.
Agora, o que é realmente um
espanto é a incapacidade de
construir personagens e tipos
que não sejam caricatos. Os jovens de "Malhação", assim como
os que costumam habitar as novelas, não existem nas ruas, nos
shoppings, nas escolas, nas academias -nem mesmo os da
Barra da Tijuca. Claro, é obra de
ficção, e não há obrigação de haver uma correspondência unívoca com a verossimilhança, mas é
mais que isso. É quase um atavismo das novelas e minisséries, sobretudo da Globo, caricaturizar o
comportamento, as falas e as maneiras do universo jovem.
Não dá para entender o motivo: há dinheiro, há onde pesquisar e gente que entende, de verdade, disso. A prova são as minisséries, que caracterizam com
eficiência qualquer lugar e época
que o roteiro exigir. Mas, quando
se trata de jovens, a tentação de
exagerar, distorcer e ridicularizar
atitudes e códigos de vestimenta
e de fala parece ser irresistível.
Não há, como já houve em "Ciranda, Cirandinha" ou "Armação Ilimitada", ou mesmo nas
minisséries de Gilberto Braga sobre os anos 50 e 60, a tentativa de
observar o universo jovem e dele
se aproximar.
Ao contrário das séries americanas, cujo esforço para captar as
modas e manias jovens é notável,
a produção brasileira de ficção,
embora consiga falar a adolescentes, não consegue falar deles.
Ou seja, sabe fazer funcionar
uma história para jovens, mas
não sabe ir buscar e ficcionalizar
as histórias protagonizadas por
jovens reais. As exceções mais recentes podem ter sido "Cidade
dos Homens" e uma certa fase de
"Turma do Gueto", mas é pouco
perto do poderio e da fascinação
dos seriados americanos.
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