São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

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QUADRINHOS

Em "Impostos! Pague Até para Morrer", personagem de Aragonés, famoso pela "Mad", decide parar de matar

Novo álbum do bárbaro Groo ironiza guerras

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um líder inepto leva seu país a entrar em guerra contra inimigos "imaginários" -que não têm o poder de destruição em massa anunciado-, mobilizando dinheiro dos impostos para sustentar a luta e metendo-se em um atoleiro que acaba em derrota.
Por mais que se assemelhe à história recente, este roteiro acontece em um cenário medieval, no álbum "Impostos! Pague Até para Morrer", a nova aventura do guerreiro bárbaro Groo, lançada pela Opera Graphica Editora.
Criado pelo célebre cartunista espanhol (radicado no México) Sergio Aragonés, Groo é uma paródia de "Conan, o Bárbaro", de Robert E. Howard. O personagem surgiu em 1982, quando Aragonés já era uma celebridade graças a seu trabalho na revista "Mad".
Na nova aventura, o atrapalhado e ignorante Groo, que espalha destruição (quase sempre involuntariamente) por onde passa, vira motivo para que o rei Donel crie impostos para armar um Exército que irá combatê-lo.
Quando o bárbaro decide parar de matar para se tornar benquisto pelas pessoas, o rei percebe que sua economia de guerra precisa de mais batalhas para se sustentar (e para manter a cobrança de impostos) e vai declarando inimigos inúmeros povoados vizinhos.
As semelhanças com as ações dos EUA pós-11 de Setembro são tão nítidas -há, por exemplo, uma cena em que soldados laçam e derrubam a estátua do rei de uma cidade inimiga, idêntica à ação realizada no Iraque- que soa espantoso que a história escrita por Mark Evanier e Aragonés seja anterior aos ataques terroristas nos Estados Unidos.
No posfácio, Evanier faz questão de ressaltar que não quis fazer nenhum protesto contra a política de Bush especificamente.
"(...) Quando a história saiu, algumas pessoas pensaram que nós estávamos dizendo coisas em que nós não acreditávamos e que nunca tivemos a menor intenção de dizer. [A história] é sobre a morte e sobre impostos, sobre seguir cegamente os líderes numa guerra. Tudo isso acontece em qualquer ação militar, toda vez que o povo de um território resolve matar o povo de outro território", explica ele.
É possível (e irônico) que, tentando retratar características gerais das guerras e dos líderes que guerreiam, Aragonés e Evanier tenham atingido involuntariamente a atual política dos EUA e, notadamente, a Guerra do Iraque.
De qualquer modo, mesmo que não enxergue na história uma alegoria e crítica dos tempos atuais, o leitor vai se divertir com as aventuras do bárbaro errante.


Groo: Impostos! Pague Até para Morrer
Autores:
Sergio Aragonés e Mark Evanier
Editora: Opera Graphica
Quanto: R$ 49, em média



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