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Crítica/artes plásticas/"AcordaLice"
Dora Longo explora o mundo das charadas
JULIANA MONACHESI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
James Joyce e David
Lynch são um estado (alterado) de espírito na exposição "AcordaLice", da artista Dora Longo Bahia, em cartaz
na galeria Luisa Strina.
Imagine o cenário: uma banda punk que decidisse musicar
trechos de livros de Joyce; a língua ininteligível do anão de
"Twin Peaks" se transmutando
em uma passagem de "Ulisses",
traduzida para o português, lida por um estrangeiro, e balanços com inscrições de "Finnegans Wake" gravadas de trás
para frente nos assentos.
Esse universo de charadas e
distúrbios é onde a obra de
Longo Bahia se aconchega confortavelmente, como a "ALice
P." que dá título ao vídeo exibido na entrada da galeria, uma
jovem vestida de coelhinha que
dorme sobre pelúcia branca.
Mais conhecida pelo trabalho em pintura, apesar de utilizar os mais diferentes suportes
e linguagens, a artista optou
desta vez por realizar uma exposição sem pinturas. Entretanto, considerando a liberdade com que ela atua no meio
pictórico, tratado como a "discussão de um campo bidimensional", os vídeos e instalações
na galeria podem ser vistos
também como expansão dessa
linguagem. Afinal, eles mobilizam, como as pinturas e fotografias da artista, um sem-número de referências manipuladas por meio de uma estratégia
de colagem pós-moderna.
"Bad painting, bad video"
São Paulo não viu uma etapa
importante da trajetória de
Longo Bahia: uma série de pinturas exposta no CCBB do Rio,
na mostra "Escalpo Carioca e
Outras Canções", em 2006, sobre "suportes mais violentos"
do que a tela, como papelão e
compensado de madeira.
A série ajuda na compreensão da mostra atual: são "bad
paintings" (a expressão designa
obras que repudiam padrões e
normas, ou seja, que são antítese de qualquer cânone da pintura) que questionam a fetichização do objeto. Também na
série de vídeos "Marcelo do
Campo (1969-1975)", trabalho
que pode ser visto no Itaú Cultural e na Oca, a artista põe em
xeque o fetiche da autoria.
Se por um lado parece faltar
no principal vídeo exposto,
"Finnis Regis/Regis Finnis",
uma maior complexidade narrativa, por outro o vídeo pode
ser encarado como uma atitude
punk semelhante à da banda
em que a vocalista vestida de
Alice grita frases de Joyce: trata-se de um "bad video".
As aventuras de Alice Pulcrabella (junção dos nomes das
personagens de Lewis Caroll e
de Joyce) não se restringem ao
espaço da galeria, estão diluídas no mundo; experimente
pesquisar o usuário "pulcrabella" no YouTube. Ali estão reunidas várias charadas para desvendar, como o filme "Lost
Story", de Ornella Castelli di
Sabbia, remixado por DLB e
Priscila Farias. A artista realizou seu "Lost Highway".
Voltando à exposição, na audio-instalação "Ulisses em Wallenton", apresentada no último piso, o visitante entra em
uma dimensão lynchiana pura,
que vale a visita.
ACORDALICE
Onde: Luisa Strina (r. Oscar Freire,
502, tel. 3088-2471)
Quando: de seg. a sex.: 10h às 19h;
sáb.: 10h às 17h; até 27/1
Quanto: entrada franca
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