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Análise
Indicados reforçam tendência autoral
Com exceção de "Benjamin Button", candidatos ao Oscar de melhor filme são de estúdios pequenos e bilheterias idem
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Não deu para "Batman
-O Cavaleiro das Trevas" nem para "Wall-E". Ambos eram cotados, desde
a distribuição de prêmios da
crítica, como possíveis azarões
entre os cinco indicados a melhor filme. As estratégias de
promoção da Warner e da Disney, respectivamente, engrossavam o coro.
Agora, suas produtoras devem se contentar com duas
barbadas: o Oscar de longa de
animação para "Wall-E" (perto
do qual os concorrentes, "Bolt"
e "Kung-Fu Panda", parecem
apenas papagaios de pirata na
foto), e o póstumo de ator coadjuvante para Heath Ledger, o
prêmio mais importante dos
oito a serem disputados por
"Batman", que deve levar mais
alguns em categorias técnicas.
Os candidatos na principal
categoria reforçam a tendência
mostrada nos últimos anos pelos cerca de 6.000 integrantes
da Academia (que escolhem os
preferidos em sua área de atuação, mas votam todos nos cinco
indicados a melhor filme): dar
ênfase a produções de ambição
mais autoral, adultas e de prestígio, com desempenho de bilheteria apenas mediano ou
mesmo decepcionante.
Contra "Batman" (US$ 531
milhões nos EUA) e "Wall-E"
(US$ 224 milhões), entraram
"O Curioso Caso de Benjamin
Button" (US$ 91 milhões, um
êxito ainda em plena carreira) e
os "nanicos" "Quem Quer Ser
um Milionário?" (US$ 34 milhões), "Milk" (US$ 19 milhões), "Frost/Nixon" (US$ 7
milhões) e "O Leitor" (US$ 7,8
milhões).
"Button" será o único candidato a melhor filme com participação direta de dois grandes
estúdios, Paramount e Warner.
Se premiado, subirão ao palco
dois parceiros de Steven Spielberg, os produtores Kathleen
Kennedy e Frank Marshall, que
já disputaram o principal Oscar, em conjunto ou separadamente, com "Os Caçadores da
Arca Perdida" (1981), "E.T."
(1982), "A Cor Púrpura" (1985),
"O Sexto Sentido" (1999), "Seabiscuit - Alma de Herói" (2003)
e "Munique" (2005).
Estúdios de pequeno e médio
porte estão por trás dos demais
candidatos, em operações de
coprodução que envolvem Focus ("Milk"), The Weinstein
Company ("O Leitor") e as britânicas Celador ("Milionário")
e Working Title ("Frost/Nixon", que reúne também os
franceses do Studio Canal).
De feição "independente", o
cenário desagrada a muitos
executivos da indústria, que
gostariam de ver o Oscar mais
alinhado a produções que se comunicam com o grande público, e aos responsáveis pela
transmissão da cerimônia pela
TV nos EUA, com filmes de que
o espectador mediano nem
mesmo ouviu falar.
Troca de guarda
É possível argumentar que a
Academia vem caminhando
nessa direção porque as produções de prestígio raramente
têm se confundido com os projetos nos quais os estúdios depositam esperanças de grandes
bilheterias, como ocorria até a
década de 80. Dos anos 90 em
diante, sucesso de público virou, quase sempre, sinônimo
de divertimento adolescente.
A troca de guarda geracional,
marcante no ano passado com
"Onde os Fracos Não Têm
Vez", "Sangue Negro" e "Juno",
se revela também pelas ausências. Woody Allen perdeu a cadeira cativa entre os candidatos
a roteiro original ("Vicky Cristina Barcelona" teve só uma indicação, para Penélope Cruz).
E, sem Clint Eastwood e com
Ron Howard (vencedor por
"Uma Mente Brilhante") apenas cumprindo função protocolar na lista, o Oscar de direção deve ser entregue a um dos
quatro estreantes na categoria.
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