São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

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Análise

Indicados reforçam tendência autoral

Com exceção de "Benjamin Button", candidatos ao Oscar de melhor filme são de estúdios pequenos e bilheterias idem

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Não deu para "Batman -O Cavaleiro das Trevas" nem para "Wall-E". Ambos eram cotados, desde a distribuição de prêmios da crítica, como possíveis azarões entre os cinco indicados a melhor filme. As estratégias de promoção da Warner e da Disney, respectivamente, engrossavam o coro.
Agora, suas produtoras devem se contentar com duas barbadas: o Oscar de longa de animação para "Wall-E" (perto do qual os concorrentes, "Bolt" e "Kung-Fu Panda", parecem apenas papagaios de pirata na foto), e o póstumo de ator coadjuvante para Heath Ledger, o prêmio mais importante dos oito a serem disputados por "Batman", que deve levar mais alguns em categorias técnicas.
Os candidatos na principal categoria reforçam a tendência mostrada nos últimos anos pelos cerca de 6.000 integrantes da Academia (que escolhem os preferidos em sua área de atuação, mas votam todos nos cinco indicados a melhor filme): dar ênfase a produções de ambição mais autoral, adultas e de prestígio, com desempenho de bilheteria apenas mediano ou mesmo decepcionante.
Contra "Batman" (US$ 531 milhões nos EUA) e "Wall-E" (US$ 224 milhões), entraram "O Curioso Caso de Benjamin Button" (US$ 91 milhões, um êxito ainda em plena carreira) e os "nanicos" "Quem Quer Ser um Milionário?" (US$ 34 milhões), "Milk" (US$ 19 milhões), "Frost/Nixon" (US$ 7 milhões) e "O Leitor" (US$ 7,8 milhões).
"Button" será o único candidato a melhor filme com participação direta de dois grandes estúdios, Paramount e Warner. Se premiado, subirão ao palco dois parceiros de Steven Spielberg, os produtores Kathleen Kennedy e Frank Marshall, que já disputaram o principal Oscar, em conjunto ou separadamente, com "Os Caçadores da Arca Perdida" (1981), "E.T." (1982), "A Cor Púrpura" (1985), "O Sexto Sentido" (1999), "Seabiscuit - Alma de Herói" (2003) e "Munique" (2005).
Estúdios de pequeno e médio porte estão por trás dos demais candidatos, em operações de coprodução que envolvem Focus ("Milk"), The Weinstein Company ("O Leitor") e as britânicas Celador ("Milionário") e Working Title ("Frost/Nixon", que reúne também os franceses do Studio Canal).
De feição "independente", o cenário desagrada a muitos executivos da indústria, que gostariam de ver o Oscar mais alinhado a produções que se comunicam com o grande público, e aos responsáveis pela transmissão da cerimônia pela TV nos EUA, com filmes de que o espectador mediano nem mesmo ouviu falar.

Troca de guarda
É possível argumentar que a Academia vem caminhando nessa direção porque as produções de prestígio raramente têm se confundido com os projetos nos quais os estúdios depositam esperanças de grandes bilheterias, como ocorria até a década de 80. Dos anos 90 em diante, sucesso de público virou, quase sempre, sinônimo de divertimento adolescente.
A troca de guarda geracional, marcante no ano passado com "Onde os Fracos Não Têm Vez", "Sangue Negro" e "Juno", se revela também pelas ausências. Woody Allen perdeu a cadeira cativa entre os candidatos a roteiro original ("Vicky Cristina Barcelona" teve só uma indicação, para Penélope Cruz).
E, sem Clint Eastwood e com Ron Howard (vencedor por "Uma Mente Brilhante") apenas cumprindo função protocolar na lista, o Oscar de direção deve ser entregue a um dos quatro estreantes na categoria.


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