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Asiáticos ditam novidades no Midem
Na feira do mercado fonográfico em Cannes, Japão e Índia mostram que superam crise com downloads em celulares e até games
A dupla inglesa Groove Armada apresentou um "case" bem-sucedido de licenciamento de canções para mercado publicitário
THIAGO NEY
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
O país homenageado foi a
Rússia, mas os olhos (e bolsos)
dos participantes do Midem estavam direcionados para o
Oriente. China, Japão, Coreia,
Índia e Sudeste Asiático concentraram boa parte das novidades da feira da indústria fonográfica, ocorrida entre sábado e anteontem, em Cannes. Os
modelos de negócio montados
nesses países devem servir de
parâmetro para o setor.
Nos debates que preencheram o Midem, a retórica dos
executivos de Europa e EUA girava em torno de uma questão
nada inédita: como deter a pirataria e ganhar dinheiro com a
internet? Os orientais, por outro lado, parecem já ter ultrapassado esse ponto; ilustraram
na cidade francesa, com diversos exemplos, como o mundo
digital vem oxigenando as receitas da indústria da música.
As conferências dedicadas à
China eram, de longe, as mais
populares. Em uma delas, os
participantes conheceram a
bem-sucedida experiência da
Tencent. A companhia organiza shows junto a empresas de
telefonia, como a China Mobile. Como exemplo, citou o artista Jacky Cheung, que fez 25
apresentações na China e recebeu 3 milhões de downloads de
suas músicas via celular, durante promoção da turnê.
Já o portal QQ Music (mu
sic.qq.com) é uma espécie de
iTunes com diversos tentáculos. Na página, pode-se ouvir
ou comprar canções, ver a letra
da faixa, jogar games relacionados aos artistas etc. O site ganha dinheiro, também, com
publicidade. "Nosso público é
jovem, entre 17 e 35 anos, gente
que quer interatividade. Por isso a publicidade funciona e é
atrativa", disse Angela Xiong.
Na China, na Coreia e na Malásia, os artistas locais costumam assinar contratos apelidados de 360º -as gravadoras
ganham em cima de todas as
receitas geradas: venda de discos, músicas, merchandising,
shows etc. É o caso de JY Park,
músico, produtor e presidente
de uma gravadora coreana.
Park falou no Midem sobre sua
estratégia para lançar artistas:
"Pegamos gente com menos de
15 anos e, por uns cinco ou seis
anos, os ensinamos a cantar, a
dançar e a se apresentar ao vivo. Os treinamentos incluem o
aprendizado de pelo menos
duas línguas". Por que aprender línguas? Park direciona
seus artistas para mercados como China, Japão, Tailândia etc.
Se no Ocidente música digital é sinônimo de computadores, no Japão, 90% desse mercado é tomado pelo celular.
Com o aumento da capacidade
de armazenamento de arquivos, com a portabilidade possibilitando o download de qualquer lugar, é um mercado "que
não tem como dar errado", diz
John Possman, americano radicado no Japão, diretor da
empresa de entretenimento e
tecnologia 247. Especialistas
afirmam que o mercado de música para celular deve gerar cerca de US$ 11 bilhões em 2013
(cerca de R$ 26 bilhões).
Música e cinema
Se, no Brasil, nos EUA e na
Europa, o senso comum diz que
é nos shows que os artistas ganharão dinheiro, na Índia, essa
ideia é estranha. Lá, 90% do
mercado da música é baseado
em trilhas sonoras. E 97% do
mercado digital de música está
concentrado nos celulares (a
internet tem só 3%). "Os artistas nem fazem muitos shows na
Índia. Ganham licenciando
canções para filmes e comerciais", contou Nilesh Jain, dono
do selo indiano Venus Records.
O licenciamento de canções
para publicidade começa a ser
explorado. Andy Cato, integrante do Groove Armada, falou na Midem sobre o contrato
da dupla inglesa com a Bacardi
-eles lançaram ontem um EP
de quatro faixas em uma plataforma on-line criada pela empresa de bebidas. Os fãs podem
baixar as músicas gratuitamente. "O contrato encerra em
abril. Para lançar o disco seguinte, vamos conversar com
marcas, gravadoras, fundos de
investimento", disse Daniel
O'Neill, agente da dupla.
O jornalista THIAGO NEY está hospedado a convite dos organizadores do Midem
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