São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

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Asiáticos ditam novidades no Midem

Na feira do mercado fonográfico em Cannes, Japão e Índia mostram que superam crise com downloads em celulares e até games

A dupla inglesa Groove Armada apresentou um "case" bem-sucedido de licenciamento de canções para mercado publicitário


THIAGO NEY
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

O país homenageado foi a Rússia, mas os olhos (e bolsos) dos participantes do Midem estavam direcionados para o Oriente. China, Japão, Coreia, Índia e Sudeste Asiático concentraram boa parte das novidades da feira da indústria fonográfica, ocorrida entre sábado e anteontem, em Cannes. Os modelos de negócio montados nesses países devem servir de parâmetro para o setor.
Nos debates que preencheram o Midem, a retórica dos executivos de Europa e EUA girava em torno de uma questão nada inédita: como deter a pirataria e ganhar dinheiro com a internet? Os orientais, por outro lado, parecem já ter ultrapassado esse ponto; ilustraram na cidade francesa, com diversos exemplos, como o mundo digital vem oxigenando as receitas da indústria da música.
As conferências dedicadas à China eram, de longe, as mais populares. Em uma delas, os participantes conheceram a bem-sucedida experiência da Tencent. A companhia organiza shows junto a empresas de telefonia, como a China Mobile. Como exemplo, citou o artista Jacky Cheung, que fez 25 apresentações na China e recebeu 3 milhões de downloads de suas músicas via celular, durante promoção da turnê.
Já o portal QQ Music (mu sic.qq.com) é uma espécie de iTunes com diversos tentáculos. Na página, pode-se ouvir ou comprar canções, ver a letra da faixa, jogar games relacionados aos artistas etc. O site ganha dinheiro, também, com publicidade. "Nosso público é jovem, entre 17 e 35 anos, gente que quer interatividade. Por isso a publicidade funciona e é atrativa", disse Angela Xiong.
Na China, na Coreia e na Malásia, os artistas locais costumam assinar contratos apelidados de 360º -as gravadoras ganham em cima de todas as receitas geradas: venda de discos, músicas, merchandising, shows etc. É o caso de JY Park, músico, produtor e presidente de uma gravadora coreana.
Park falou no Midem sobre sua estratégia para lançar artistas: "Pegamos gente com menos de 15 anos e, por uns cinco ou seis anos, os ensinamos a cantar, a dançar e a se apresentar ao vivo. Os treinamentos incluem o aprendizado de pelo menos duas línguas". Por que aprender línguas? Park direciona seus artistas para mercados como China, Japão, Tailândia etc.
Se no Ocidente música digital é sinônimo de computadores, no Japão, 90% desse mercado é tomado pelo celular. Com o aumento da capacidade de armazenamento de arquivos, com a portabilidade possibilitando o download de qualquer lugar, é um mercado "que não tem como dar errado", diz John Possman, americano radicado no Japão, diretor da empresa de entretenimento e tecnologia 247. Especialistas afirmam que o mercado de música para celular deve gerar cerca de US$ 11 bilhões em 2013 (cerca de R$ 26 bilhões).

Música e cinema
Se, no Brasil, nos EUA e na Europa, o senso comum diz que é nos shows que os artistas ganharão dinheiro, na Índia, essa ideia é estranha. Lá, 90% do mercado da música é baseado em trilhas sonoras. E 97% do mercado digital de música está concentrado nos celulares (a internet tem só 3%). "Os artistas nem fazem muitos shows na Índia. Ganham licenciando canções para filmes e comerciais", contou Nilesh Jain, dono do selo indiano Venus Records.
O licenciamento de canções para publicidade começa a ser explorado. Andy Cato, integrante do Groove Armada, falou na Midem sobre o contrato da dupla inglesa com a Bacardi -eles lançaram ontem um EP de quatro faixas em uma plataforma on-line criada pela empresa de bebidas. Os fãs podem baixar as músicas gratuitamente. "O contrato encerra em abril. Para lançar o disco seguinte, vamos conversar com marcas, gravadoras, fundos de investimento", disse Daniel O'Neill, agente da dupla.


O jornalista THIAGO NEY está hospedado a convite dos organizadores do Midem


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