São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

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"Histórias de Chocar" analisa embates do amor

Peça se inspira em personagens e situações do livro "Ensaios de Amor", de Alain de Botton

Espetáculo, que estreia em SP hoje, mostra "colisão" do racionalismo de Irene com os ideais românticos de seu companheiro, Júlio


LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Do alto de seu racionalismo inconteste, Irene crava: "Eu nunca espero". Já o sonhador Júlio tem por bordão "Estou sempre à procura". Do encontro dos dois num saguão de aeroporto -e dos sismos advindos das diferenças entre eles- darão conta as "Histórias de Chocar (Ensaios de Amor)", em cartaz a partir de hoje, no Sesc Avenida Paulista.
A dramaturgia acena para "Ensaios de Amor", do suíço Alain de Botton, sucesso do filão de "literatura pop" de meados dos anos 90. Mas o ator Paulo Azevedo, que concebeu a montagem com a colega de cena Rita Clemente, diz não se tratar de uma adaptação: "Partimos do desejo de experimentar a cena juntos [antes, ela o havia dirigido em "Amores Surdos", da cia. mineira Espanca!]. Do livro, nos interessamos pela forma como as situações corriqueiras traduziam a ideia de chocar: desde gerar uma relação até o choque de opiniões divergentes".
No palco, essa alteridade é bem demarcada. No lado de Irene, um "jardim" de cúpulas de abajur cobre o chão: signo de sua objetividade, do perfil "pé no chão", materialista ("o mundo precisa de coisas", ela dirá, a certa altura).
No canto de Júlio, a constelação de luminárias verticais aponta para a evasão, o escapismo romântico ("A vida humana não passa de um sonho", ele sugere).

"Incubadora de amor"
O centro, local dos embates do casal, é inicialmente tomado por lona e objetos brancos. A assepsia faz pensar numa "incubadora do amor" -o que se encaixa na acepção de "chocar" enquanto gerar.
Pouco a pouco, pequenos indícios de amor interferem na alvura: são vermelhos o bolo e o estojo do anel que Júlio oferece à amada no aniversário, assim como é vermelha a capa do "Werther", de Goethe, obra-chave do romantismo alemão que ele parece ter como enredo da própria vida. Assustada, Irene se recolhe -movimento defendido por sua intérprete, Rita: "É claro que ela [a personagem] foge um pouco do envolvimento. Mas me parece que o amor está mesmo no dia-a-dia, inscreve-se nas relações cotidianas, e não na idealização romântica. A não ser que a gente só encontre a pessoa na hora em que ela está linda, cheirosa e com dinheiro", brinca.
"A idealização é a primeira motivação, mas o amor não pode ser invenção e ponto. Se for, vai ter de se haver com uma coisa terrível, que é o dia-a-dia", opina a atriz. "É como diz o Millôr [Fernandes]: como são belas as pessoas que não conhecemos", completa Azevedo.


HISTÓRIAS DE CHOCAR (ENSAIOS DE AMOR)
Quando: estreia hoje; de sex. a dom., às 20h; até 8/3
Onde: Sesc Avenida Paulista (av. Paulista, 119, 13º andar, tel. 3179-3700)
Quanto: R$ 20
Classificação: não indicado a menores de 14 anos



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