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"Histórias de Chocar" analisa embates do amor
Peça se inspira em personagens e situações do livro "Ensaios de Amor", de Alain de Botton
Espetáculo, que estreia em SP hoje, mostra "colisão" do racionalismo de Irene com os ideais românticos de
seu companheiro, Júlio
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Do alto de seu racionalismo
inconteste, Irene crava: "Eu
nunca espero". Já o sonhador
Júlio tem por bordão "Estou
sempre à procura". Do encontro dos dois num saguão de aeroporto -e dos sismos advindos das diferenças entre eles-
darão conta as "Histórias de
Chocar (Ensaios de Amor)", em
cartaz a partir de hoje, no Sesc
Avenida Paulista.
A dramaturgia acena para
"Ensaios de Amor", do suíço
Alain de Botton, sucesso do filão de "literatura pop" de meados dos anos 90. Mas o ator
Paulo Azevedo, que concebeu a
montagem com a colega de cena Rita Clemente, diz não se
tratar de uma adaptação:
"Partimos do desejo de experimentar a cena juntos [antes,
ela o havia dirigido em "Amores
Surdos", da cia. mineira Espanca!]. Do livro, nos interessamos
pela forma como as situações
corriqueiras traduziam a ideia
de chocar: desde gerar uma relação até o choque de opiniões
divergentes".
No palco,
essa alteridade é bem demarcada. No
lado de Irene,
um "jardim"
de cúpulas de
abajur cobre o
chão: signo de
sua objetividade, do perfil
"pé no chão",
materialista
("o mundo
precisa de coisas", ela dirá, a
certa altura).
No canto de
Júlio, a constelação de luminárias verticais
aponta para a evasão, o escapismo romântico ("A vida humana
não passa de um sonho", ele sugere).
"Incubadora de amor"
O centro, local dos embates
do casal, é inicialmente tomado
por lona e objetos
brancos. A assepsia
faz pensar numa
"incubadora do
amor" -o que se
encaixa na acepção
de "chocar" enquanto gerar.
Pouco a pouco,
pequenos indícios
de amor interferem
na alvura: são vermelhos o bolo e o
estojo do anel que
Júlio oferece à
amada no aniversário, assim como é
vermelha a capa do
"Werther", de Goethe, obra-chave do
romantismo alemão que ele parece ter como enredo da própria vida.
Assustada, Irene se recolhe
-movimento defendido por
sua intérprete, Rita:
"É claro que ela [a personagem] foge um pouco do envolvimento. Mas me parece que o
amor está mesmo no dia-a-dia,
inscreve-se nas relações cotidianas, e não na idealização romântica. A não ser que a gente
só encontre a pessoa na hora
em que ela está linda, cheirosa e
com dinheiro", brinca.
"A idealização é a primeira
motivação, mas o amor não pode ser invenção e ponto. Se for,
vai ter de se haver com uma coisa terrível, que é o dia-a-dia",
opina a atriz. "É como diz o Millôr [Fernandes]: como são belas as pessoas que não conhecemos", completa Azevedo.
HISTÓRIAS DE CHOCAR
(ENSAIOS DE AMOR)
Quando: estreia hoje; de sex. a dom.,
às 20h; até 8/3
Onde: Sesc Avenida Paulista (av. Paulista, 119, 13º andar, tel. 3179-3700)
Quanto: R$ 20
Classificação: não indicado a menores de 14 anos
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