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MÚSICA
Série com 20 CDs reúne todas as gravações conhecidas do instrumentista
CDs revêem guitarra de Reinhardt
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quando Django Reinhardt
morreu, em 1953, o que hoje conhecemos como jazz moderno
estava apenas começando. Irônico que Django tenha sido, provavelmente, o mais moderno músico a tirar sons de um instrumento
na história do jazz. Talvez o ser
humano mais talentoso a tocar
uma guitarra, o cigano belga radicado na França, nascido Jean Baptiste Reinhardt, ganhou merecida
retrospectiva discográfica que
permite pela primeira vez acompanhar sua evolução e ter a exata
noção de sua genialidade.
Concebida pela gravadora francesa Frémeaux & Associés, a série
"Intégrale Django Reinhardt" se
estendeu por dez anos e 20 CDs
duplos -que podem ser encomendados em sites como www.
amazon.com, a US$ 27,98, cerca
de R$ 60, cada um-, e chegou à
sua conclusão há poucos meses. É
um trabalho que reedita todas as
gravações conhecidas de sua carreira, feitas entre sua estréia em
disco em 1928 e sua morte.
Nos primeiros registros, de junho de 1928, feitos de maneira
precária, o músico -então com
18 anos- era creditado como
"Jiango Renard" e tocava banjo. A
raridade das gravações aumenta
ao se considerar que são poucos
os registros do estilo de Django
antes do acontecimento que definiu sua maneira de tocar: um incêndio, em novembro de 1928, na
caravana onde morava, que o fez
perder o movimento de dois dedos de sua mão esquerda.
Desenvolveu, assim, maneira
própria de tocar, enriquecendo o
lado melódico para compensar a
dificuldade de montar acordes no
instrumento. Unindo técnica perfeita e veloz com originalidade,
em dez anos já seria o primeiro
músico de jazz europeu a influenciar a América. Foi em 1934 que o
guitarrista se juntou ao violinista
Stéphane Grappelli e mais três
músicos (dois guitarristas e um
contrabaixista) para formar o
Quinteto do Hot Club da França,
formação mais influente de sua
carreira. Unindo sua fluidez melódica ao virtuosismo de Grappelli mais a engrenagem rítmica dos
outros instrumentistas, Django
criou linguagem que se comunicava com o hot jazz americano de
então, mas ia além com suas influências européias e ciganas.
A série, com gordos encartes recheados de textos recuperando
detalhes de sua vida e obra e fotos
das várias fases de sua vida, registra o antes, durante e depois de
seu auge, inclusive as reformulações do quinteto no período pós-guerra e as tentativas do músico
de se aproximar do bebop.
O guitarrista Mauricio Tagliari,
do conjunto paulistano de jazz
Nouvelle, que gravou uma música
de Django em seu álbum "Free
Bossa", de 2000, é um dos que sofreram a influência do músico.
"Não sei dizer se ele é o melhor
guitarrista da história do jazz, mas
ele com certeza foi o maior estilista do jazz tradicional, o maior improvisador. A influência dele vai
para além do jazz. Dá pra ouvir
sua influência na guitarra do
Chuck Berry. Ele foi provavelmente o cara que mais abriu portas para a guitarra na sua época.
Antes, a guitarra era um instrumento secundário, ele deu a ela
um papel mais importante", diz.
Admirado por Duke Ellington,
que chegou a convidá-lo a tocar
em sua banda, e modelo de
Woody Allen no filme "Poucas e
Boas", Django tinha como admirador também o cineasta francês
Jean Cocteau, que quando de sua
morte o resumiu: "Django era
uma fera gentil que morreu em
sua gaiola. Ele vivia a vida que sonham levar: como um cigano. Sua
alma era ambulante e sagrada. E
seus ritmos eram seus como as listras de um tigre, como sua fosforescência e seu bigode".
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