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Crítica
Filme testa limites do humor, perturba e propõe bons desafios ao espectador
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Além de ser engraçado,
"Borat" propõe bons
desafios ao espectador.
Como reagir a uma comédia tão
politicamente incorreta, que
recorre aos piores clichês televisivos, como o falso documentário e a "pegadinha"?
A cartilha do multiculturalismo repudiaria a escolha da nacionalidade do repórter interpretado por Sasha Baron Cohen, o cazaque Borat Sagdyiev.
Mas é evidente que Cohen
transita pelo mesmo território
de Peter Sellers em "Um Convidado Bem Trapalhão" (1968),
em que o suposto atraso cultural do personagem é, na verdade, um dispositivo humorístico
capaz de destilar profunda crítica à "superioridade" da cultura com a qual ele se depara.
O total deslocamento do ator
indiano vivido por Sellers, convidado por engano para uma
festa da alta sociedade inglesa,
faz desmoronar a pose dos convidados. Cohen usa a mesma
estratégia ao encenar a visita de
Borat aos EUA. As diferenças
de comportamento do repórter, ficcionais e elaboradas para
forjar situações conforme o desejo do humorista, mostram
uma cultura americana nem
tão diferente assim, pontuada
por preconceitos e pensamentos reacionários.
"Borat" recorre a formatos
consagrados para subvertê-los
sem piedade. O falso documentário televisivo, bastante explorado desde o sucesso da comédia belga "Aconteceu Perto de
sua Casa" (1992), é renovado
graças à opção por uma espécie
de "embate com o real". Boa
parte das situações do filme registra o encontro de Borat (que
se passa por verdadeiro) com
pessoas comuns. Não distinguir o que é e o que não é encenado faz parte da proposta.
Cohen manipula esses elementos a favor de uma graça
que não é "esperta", mas auto-reflexiva e politicamente demolidora. Uma das primeiras
experiências de Borat nos EUA
é uma "aula de piada". Cohen
não discute só os preconceitos
mas a forma de fazer humor.
Assim como Borat cria problemas para quem está perto,
gerando momentos perturbadoramente verdadeiros, Cohen
e o diretor Larry Charles levam
o humor aos seus limites sem
oferecer respostas fáceis.
BORAT - O SEGUNDO MELHOR REPÓRTER DO GLORIOSO PAÍS CAZAQUISTÃO VIAJA À AMÉRICA
Direção: Larry Charles
Produção: EUA, 2006
Com: Sacha Baron Cohen, Ken Davitian e Pamela Anderson
Quando: Em pré-estréia em SP na semana, o filme ganha, a partir de hoje,
novas salas e horários
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