São Paulo, sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

comentário

Para consertar o mundo, Borat desconcerta

ROSANA HERMANN
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ácido, cínico, crítico, irônico são proparoxítonas insuficientes para descrever o humor de "Borat". Talvez seja a tônica errada, porque a palavra-síntese mais adequada para o filme parece ser "desconcertante".
Sacha Baron Cohen gera desconforto, testa limites, ridiculariza preconceitos e desconstrói valores, ou seja, chuta o pau da barraca do politicamente correto.
Borat começa a faxina batendo velhos tapetes e levantando poeira, colocando-se como ignorante cultural, cujo primitivismo justifica a incapacidade de ter noções "refinadas" como a igualdade dos sexos e regras de etiqueta.
Mas é aqui que a porca torce o rabo: Borat escancara o preconceito dos "civilizados", pessoas que deveriam ser mais tolerantes que ele. Deveriam, mas a ignorância é tamanha que há quem veja o judeu Cohen e acredite que ele seja, de fato, um repórter anti-semita do Cazaquistão.
"Borat" é aparentemente simplório, de estética tosca, com várias camadas.
Alguns verão só o lado grosseiro, outros verão a crítica política e perceberão piadas nos detalhes.
Os mal-humorados talvez criem entidades para proibir o filme. Mas uma coisa é certa: ele é feito por gente que sabe que, para consertar o mundo, é preciso antes desconcertá-lo.
Se esse for o elo que levou a Fox a contratar profissionais do "Pânico" para adaptar os diálogos ao português, o "Daily Telegraph" a comparar o Repórter Vesgo a Cohen e a Folha a nos convidar a fazer este texto, só podemos agradecer. Como "Borat", somos chegados numa desconstrução e adoramos jogar porcos às pérolas.


A jornalista ROSANA HERMANN é redatora do "Pânico na TV", da RedeTV!.

Texto Anterior: Crítica: Filme testa limites do humor, perturba e propõe bons desafios ao espectador
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.