|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
comentário
Para consertar o mundo, Borat desconcerta
ROSANA HERMANN
ESPECIAL PARA A FOLHA
Ácido, cínico, crítico, irônico são proparoxítonas insuficientes para descrever o
humor de "Borat". Talvez
seja a tônica errada, porque a palavra-síntese mais
adequada para o filme parece ser "desconcertante".
Sacha Baron Cohen gera
desconforto, testa limites,
ridiculariza preconceitos e
desconstrói valores, ou seja, chuta o pau da barraca
do politicamente correto.
Borat começa a faxina
batendo velhos tapetes e
levantando poeira, colocando-se como ignorante
cultural, cujo primitivismo justifica a incapacidade de ter noções "refinadas" como a igualdade dos
sexos e regras de etiqueta.
Mas é aqui que a porca
torce o rabo: Borat escancara o preconceito dos "civilizados", pessoas que deveriam ser mais tolerantes
que ele. Deveriam, mas a
ignorância é tamanha que
há quem veja o judeu Cohen e acredite que ele seja,
de fato, um repórter anti-semita do Cazaquistão.
"Borat" é aparentemente simplório, de estética
tosca, com várias camadas.
Alguns verão só o lado
grosseiro, outros verão a
crítica política e perceberão piadas nos detalhes.
Os mal-humorados talvez
criem entidades para proibir o filme. Mas uma coisa
é certa: ele é feito por gente que sabe que, para consertar o mundo, é preciso
antes desconcertá-lo.
Se esse for o elo que levou a Fox a contratar profissionais do "Pânico" para
adaptar os diálogos ao português, o "Daily Telegraph" a comparar o Repórter Vesgo a Cohen e a
Folha a nos convidar a fazer este texto, só podemos
agradecer. Como "Borat",
somos chegados numa
desconstrução e adoramos
jogar porcos às pérolas.
A jornalista ROSANA HERMANN é redatora do "Pânico na TV", da RedeTV!.
Texto Anterior: Crítica: Filme testa limites do humor, perturba e propõe bons desafios ao espectador Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|