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Crítica/"Caso Perdido"
Obra tem narrador sarcástico e cínico
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Caso Perdido", romance policial do
jornalista americano Carl Hiaasen, deveria ser
leitura obrigatória em cursos
de jornalismo -no caso brasileiro, poderia até substituir esses cursos.
O narrador é o sarcástico, encrenqueiro e cínico repórter
quarentão Jack Tagger, que vive um exílio interno em um pequeno jornal da Flórida. Brigou
com o novo dono e passou a ser
responsável por obituários.
Parte do seu cotidiano é brigar com Emma, editora mais
nova que ainda não entende
bem seu papel. "Os repórteres
não dão títulos para suas matérias. São os editores que fazem
isso", lembra Tagger, para em
seguida dar o exemplo de um título de Emma para um dos obituários: "Keith Murtagh, inventor da torrada, morre aos 96
depois de breve doença".
"O nome do homem era Kenneth Murtagh, ele havia inventado um forno para fazer torradas e tinha 69 anos quando colidiu seu Coupe de Ville com
uma palmeira em Perdido Boulevard. O único fato que Emma
conseguiu acertar foi que ele
havia morrido."
A transferência para os obituários afetou a carreira e a vida
pessoal de Tagger, que vive obcecado pela idéia da morte, ao
mesmo tempo em que procura
um cadáver que possa ser
transformado em uma boa reportagem. Ele acha que encontrou essa pepita com a morte
em acidente de mergulho do
velho roqueiro Jimmy Stoma.
E se a morte não tivesse sido
acidental?
Hiaasen é um premiado colunista do "Miami Herald" e autor de uma série de best-sellers
que misturam vários dos ingredientes que tornam a Flórida
um dos Estados americanos
mais parecidos com a América
Latina do que com o mais comedido resto dos EUA. Como
se pode ver nos dois livros de
coletâneas das suas colunas, os
políticos da Flórida estariam à
vontade com coisas como dólar
na cueca, Land Rovers e cartões
de crédito em tapiocarias.
O tradutor fez um bom trabalho em captar o lado cômico
dos diálogos, mas às vezes extrapolou. Claro, não é fácil verter gíria, e o livro está repleto de
xingamentos exóticos. Mas
transformar um "babuíno coçador de bunda" em um simples "puxa-saco" tira boa parte
do charme do original.
CASO PERDIDO
Autor: Carl Hiaasen
Tradução: Claudio Carina
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 54 (376 págs.)
Avaliação: ótimo
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