São Paulo, sábado, 23 de fevereiro de 2008

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Crítica/"Caso Perdido"

Obra tem narrador sarcástico e cínico

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Caso Perdido", romance policial do jornalista americano Carl Hiaasen, deveria ser leitura obrigatória em cursos de jornalismo -no caso brasileiro, poderia até substituir esses cursos.
O narrador é o sarcástico, encrenqueiro e cínico repórter quarentão Jack Tagger, que vive um exílio interno em um pequeno jornal da Flórida. Brigou com o novo dono e passou a ser responsável por obituários.
Parte do seu cotidiano é brigar com Emma, editora mais nova que ainda não entende bem seu papel. "Os repórteres não dão títulos para suas matérias. São os editores que fazem isso", lembra Tagger, para em seguida dar o exemplo de um título de Emma para um dos obituários: "Keith Murtagh, inventor da torrada, morre aos 96 depois de breve doença".
"O nome do homem era Kenneth Murtagh, ele havia inventado um forno para fazer torradas e tinha 69 anos quando colidiu seu Coupe de Ville com uma palmeira em Perdido Boulevard. O único fato que Emma conseguiu acertar foi que ele havia morrido."
A transferência para os obituários afetou a carreira e a vida pessoal de Tagger, que vive obcecado pela idéia da morte, ao mesmo tempo em que procura um cadáver que possa ser transformado em uma boa reportagem. Ele acha que encontrou essa pepita com a morte em acidente de mergulho do velho roqueiro Jimmy Stoma.
E se a morte não tivesse sido acidental?
Hiaasen é um premiado colunista do "Miami Herald" e autor de uma série de best-sellers que misturam vários dos ingredientes que tornam a Flórida um dos Estados americanos mais parecidos com a América Latina do que com o mais comedido resto dos EUA. Como se pode ver nos dois livros de coletâneas das suas colunas, os políticos da Flórida estariam à vontade com coisas como dólar na cueca, Land Rovers e cartões de crédito em tapiocarias.
O tradutor fez um bom trabalho em captar o lado cômico dos diálogos, mas às vezes extrapolou. Claro, não é fácil verter gíria, e o livro está repleto de xingamentos exóticos. Mas transformar um "babuíno coçador de bunda" em um simples "puxa-saco" tira boa parte do charme do original.


CASO PERDIDO
Autor:
Carl Hiaasen
Tradução: Claudio Carina
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 54 (376 págs.)
Avaliação: ótimo


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