São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/DVD/"Improvisation"

Filme dos anos 50 reúne cenas raras de grandes nomes do jazz

DVD "Improvisation" mostra músicos como Lester Young e Charlie Parker em ação

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

E m 1950, o produtor Norman Granz se juntou ao fotógrafo Gjon Mili para fazer um filme sobre a improvisação no jazz. Como protagonistas, foram escolhidas figuras do quilate de Charlie Parker, Coleman Hawkins e Lester Young.
O filme, nunca terminado, acabou engavetado. Décadas depois, esse material histórico ressurgiu, teve acrescentadas imagens de outras épocas e deu origem ao filme "Improvisation" -que é lançado agora em DVD no Brasil.
A sessão de 1950, feita no estúdio fotográfico de Mili, começa com um encontro raro, entre o já então veterano saxofonista Coleman Hawkins (1904-1969) e o mestre do bebop Charlie "Bird" Parker (1920-1955). O filme inicia com Hawkins solando, enquanto Parker, sentado em uma cadeira a seu lado, fuma um cigarro e aguarda sua vez de entrar na música.
Após seus solos, a dupla de saxofonistas é substituída por Lester Young (1909-1959), dos mais refinados tenoristas da história. Seu sopro denso e encorpado é acompanhado pela mesma seção rítmica que havia dado suporte aos solos de "Bird": Hank Jones (piano), Ray Brown (baixo) e Buddy Rich (bateria).

Medalhões
A ideia original do filme inacabado de 50 era a de ser uma continuação do bem-sucedido "Jammin" the Blues", curta-metragem também assinado por Mili/Granz e que foi indicado ao Oscar em 1944. Esse outro raro vídeo está presente como "bônus" no DVD lançado agora. Lester Young também estrela "Jammin" the Blues", sendo um dos elos entre as duas produções.
Granz acabou por selecionar músicos em ação em outros contextos para completar sua versão final de "Improvisation", sempre tendo como foco a improvisação -traço fundamental da estética jazzística. O resultado é irregular e até forçado. Mas permite que o espectador compare diferentes músicos em atividade em lugares e tempos distintos.
As apresentações que aparecem no DVD acabam por englobar um extenso período, que vai de 1950 a 1979. Pena que esteticamente não há um leque muito vasto da arte jazzística.
Avesso aos arroubos dissonantes do "free jazz", Granz optou por concentrar-se em medalhões da velha guarda para compor seu painel de exemplificação do improviso jazzístico, destacando músicos como Count Basie e Ella Fitzgerald em festivais pelo mundo.

Miró em cena
Além da sessão original de 50, há um momento realmente grandioso no filme, protagonizado pelo pianista Duke Ellington, em 1966.
Ellington é muito mais conhecido por seus trabalhos com orquestra, mas aqui ele surge acompanhado apenas por baixo e bateria. No pátio externo da Fondation Maeght, na França, Ellington executa seu "Blues for Joan Miró". Próximo ao pianista, encostado em uma de suas esculturas, está o próprio Miró, que era o artista residente da Fondation Maeght naquele momento. Enquanto Ellington dedilha e ataca seu piano, a câmera passeia por esculturas e pinturas do artista espanhol, em um momento notável de integração das artes.
O DVD, que é duplo, vem repleto de extras, com destaque para entrevistas sobre Charlie Parker e a sessão de 1950. Se apresentações de Ella, Basie e Ellington não são difíceis de encontrar, mesmo em DVDs nacionais, as imagens de Parker e Young em ação podem ser consideradas raridades -e valem, sozinhas, o filme.


IMPROVISATION
Artista: vários
Gravadora: ST2/ Eagle Vision
Quanto: R$ 66, em média
Classificação: livre
Avaliação: bom



Texto Anterior: Granz reuniu músicos consagrados
Próximo Texto: Crítica/DVD/"Live from New York City": Marsalis e Willie Nelson se divertem com os clássicos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.