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Crítica/DVD/"Improvisation"
Filme dos anos 50 reúne cenas raras de grandes nomes do jazz
DVD "Improvisation" mostra músicos como Lester Young e Charlie Parker em ação
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
E
m 1950, o produtor
Norman Granz se juntou ao fotógrafo Gjon
Mili para fazer um filme sobre a
improvisação no jazz. Como
protagonistas, foram escolhidas figuras do quilate de Charlie Parker, Coleman Hawkins e
Lester Young.
O filme, nunca terminado,
acabou engavetado. Décadas
depois, esse material histórico
ressurgiu, teve acrescentadas
imagens de outras épocas e deu
origem ao filme "Improvisation" -que é lançado agora em
DVD no Brasil.
A sessão de 1950, feita no estúdio fotográfico de Mili, começa com um encontro raro, entre
o já então veterano saxofonista
Coleman Hawkins (1904-1969)
e o mestre do bebop Charlie
"Bird" Parker (1920-1955). O
filme inicia com Hawkins solando, enquanto Parker, sentado em uma cadeira a seu lado,
fuma um cigarro e aguarda sua
vez de entrar na música.
Após seus solos, a dupla de
saxofonistas é substituída por
Lester Young (1909-1959), dos
mais refinados tenoristas da
história. Seu sopro denso e encorpado é acompanhado pela
mesma seção rítmica que havia
dado suporte aos solos de
"Bird": Hank Jones (piano),
Ray Brown (baixo) e Buddy
Rich (bateria).
Medalhões
A ideia original do filme inacabado de 50 era a de ser uma
continuação do bem-sucedido
"Jammin" the Blues", curta-metragem também assinado
por Mili/Granz e que foi indicado ao Oscar em 1944. Esse outro raro vídeo está presente como "bônus" no DVD lançado
agora. Lester Young também
estrela "Jammin" the Blues",
sendo um dos elos entre as duas
produções.
Granz acabou por selecionar
músicos em ação em outros
contextos para completar sua
versão final de "Improvisation", sempre tendo como foco
a improvisação -traço fundamental da estética jazzística. O
resultado é irregular e até forçado. Mas permite que o espectador compare diferentes músicos em atividade em lugares e
tempos distintos.
As apresentações que aparecem no DVD acabam por englobar um extenso período, que
vai de 1950 a 1979. Pena que esteticamente não há um leque
muito vasto da arte jazzística.
Avesso aos arroubos dissonantes do "free jazz", Granz optou por concentrar-se em medalhões da velha guarda para
compor seu painel de exemplificação do improviso jazzístico,
destacando músicos como
Count Basie e Ella Fitzgerald
em festivais pelo mundo.
Miró em cena
Além da sessão original de
50, há um momento realmente
grandioso no filme, protagonizado pelo pianista Duke Ellington, em 1966.
Ellington é muito mais conhecido por seus trabalhos
com orquestra, mas aqui ele
surge acompanhado apenas
por baixo e bateria. No pátio externo da Fondation Maeght, na
França, Ellington executa seu
"Blues for Joan Miró". Próximo
ao pianista, encostado em uma
de suas esculturas, está o próprio Miró, que era o artista residente da Fondation Maeght
naquele momento. Enquanto
Ellington dedilha e ataca seu
piano, a câmera passeia por esculturas e pinturas do artista
espanhol, em um momento notável de integração das artes.
O DVD, que é duplo, vem repleto de extras, com destaque
para entrevistas sobre Charlie
Parker e a sessão de 1950. Se
apresentações de Ella, Basie e
Ellington não são difíceis de
encontrar, mesmo em DVDs
nacionais, as imagens de Parker e Young em ação podem ser
consideradas raridades -e valem, sozinhas, o filme.
IMPROVISATION
Artista: vários
Gravadora: ST2/ Eagle Vision
Quanto: R$ 66, em média
Classificação: livre
Avaliação: bom
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