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ANÁLISE
Página não é espelho para diversidade
RONALDO LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
O que faz um artista "bombar" no mundo de hoje? Revistas de música? Programas de
televisão? Críticas nos jornais
diários? A internet e suas redes
sociais? A resposta é: não tem
resposta. A máquina do hype
contemporâneo depende de
uma relação complexa entre
mídias tradicionais e sociais.
Veja o caso dos sul-africanos
do grupo Die Antwoord. Você
pode nunca ter ouvido falar,
mas a "blogosfera" vem colocando suas fichas no hip hop
escandaloso e branco do grupo
como a aposta musical da vez.
Tudo começou com um post
no blog BoingBoing (um dos
maiores, diga-se) em fevereiro.
A partir daí milhares de posts
em outros blogs e no Twitter se
seguiram, até que a própria mídia tradicional foi atrás.
Ao mesmo tempo, Susan
Boyle veio de um programa de
televisão, que a internet amplificou. E Lady Gaga entendeu
como ninguém o diálogo com
as diversas mídias, acenando
o tempo todo com factóides para as redes sociais, enquanto fala a língua das celebridades
mainstream.
Em um contexto como esse,
um site como o Hype Machine
é uma peça importante. Ele
ajuda a por ordem ao caos da
blogosfera, criando filtros que
facilitam enxergar o que vem
sendo ouvido em um determinado nicho.
Perceba bem a palavra "nicho". O Hype Machine não é
um espelho da diversidade musical da rede. Ele é ótimo para
quem busca indie rock, pop,
música eletrônica e algum hip
hop. Mas quase nada além disso. É um bom exemplo do fenômeno descrito como "polarização de grupo", em que pessoas
com gostos parecidos tendem a
se agrupar através da internet.
E quando isso acontece, seus
gostos ficam ainda mais parecidos... e excludentes.
Por isso, quem usa o Hype
Machine está tomando o pulso
musical de um desses grupos, e
apenas dele. Vai ser interessante quando surgir a tecnologia
que consiga transcender todos
os nichos. Que agregue o zeitgeist de toda a diversidade musical da internet. Em que pressionar o "play" traga risco, incerteza e desconforto, ao nos
colocar diante do outro que não
tem nada a ver nem com nossos
gostos nem com nossa cultura.
Só tem um problema: esse site se arrisca a não ter público.
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