São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

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Alemão promete ser sensação no Brasil

Hans-Peter Feldmann é um dos artistas que inspira Luis Pérez-Oramas, curador da 30ª Bienal de São Paulo

Com quase 70 anos, o artista é desconhecido no país e só agora se tornou reverenciado no continente europeu

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

Em 1975, então com 34 anos, o artista alemão Hans-Peter Feldmann enviou a 30 pessoas do circuito artístico de seu país fotos suas e de sua mulher com outra garota em cenas de sexo explícito.
"Eu tenho vergonha de mostrar minhas práticas sexuais em espaços públicos...
mas há muitas outras coisas feitas em público, que a maioria das pessoas não se envergonham", escreveu ele.
Anos depois, a mulher pediu o divórcio e as imagens foram usadas pelo advogado dela como evidências de "crueldade psicológica".
Feldmann faz parte de um grupo de artistas que, nos anos 60 e 70, levou as experiências artísticas ao limite. E o caso acima exemplifica como tal atitude não conseguia prever sequer seus possíveis desdobramentos.
Pois é justamente esse limiar entre arte e não arte que terá na 30ª Bienal de São Paulo um de seus motes centrais e Feldman um dos artistas inspiradores para o curador venezuelano Luis Pérez-Oramas, responsável pela mostra intitulada "Retorno das Poéticas".
"Tanto o Arthur Bispo do Rosário como o Hans-Peter são artistas que me interessam porque trabalham com a invenção de um discurso e ambos têm como marca central a repetição e a serialização", disse Oramas à Folha, em Madri.

INSPIRAÇÃO
De fato, assim como Bispo do Rosário criou conjuntos impressionantes com placas de ruas, costuradas por ele mesmo, talheres ou barquinhos, Feldmann, em sua exposição no Reina Sofia, entitulada "Una exposición de arte", faz operações muito semelhantes.
Uma das mais impressionantes é "Capas de jornais, 12 de setembro de 2001", que reúne 161 capas de jornais de dezenas de países com as imagens dos ataques às Torres Gêmeas, inclusive a da Folha, único jornal brasileiro na seleção.
Grande parte da obra de Feldmann, segundo se percebe na mostra, tem uma relação de cunho biográfico, o que o aproxima novamente a Bispo do Rosário.
Há conjuntos de fotos de pratos de comida, retratos de uma mulher, tirados ao longo de 56 anos, entre 1943 e 1999, e as do livro "100 anos". Nesse conjunto, o artista apresenta fotos de cem pessoas, todas na mostra, cada uma com uma idade em sentido crescente.
Quase aos 70 anos, desconhecido no Brasil e possivelmente uma das sensações da Bienal, no próximo ano, Feldmann vem tornando-se só agora um nome reverenciado também na Europa.
"Estou realmente surpreso que, após 30 ou 40 anos de estar provocando confusões com fotografias, de repente as pessoas se tornam interessadas no que eu fiz no passado", conta Feldmann.
Com uma obra tão radical e em tempos tão mercadológicos, sua obra é mesmo uma forma de respiro.

O jornalista FABIO CYPRIANO viajou a convite de Turespaña


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