São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 2000


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OUTROS 500
Cruz de Mario Cravo causa polêmica na BA

CYNARA MENEZES
especial para a Folha


A missa do Descobrimento, que será celebrada no dia 26 de abril, terá duas cruzes, mas não será celebrada diante de nenhuma delas. A "polêmica da cruz" é o mais novo imbróglio envolvendo as comemorações dos 500 anos.
Tudo começou com o projeto de substituir a cruz de madeira fincada há cerca de 30 anos na praia da Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália (BA) -local da primeira missa no Brasil-, por outra, de autoria do escultor baiano Mario Cravo, 78.
Depois dos protestos dos índios pataxós, a nova cruz, em aço inoxidável e com 16 metros de altura, acabou sendo erguida a 100 metros da antiga. A missa, porém, por razões de cerimonial, vai acontecer em um altar montado especialmente para o ato, afastado de ambos os crucifixos.
A cruz de aço, que pesa 3 toneladas e que foi erguida sobre uma base de granito de 60 toneladas em tons de verde, amarelo e azul, custou R$ 500 mil ao governo federal, segundo o filho do escultor e responsável pela execução da obra, Ivan Cravo.
A instalação do monumento foi concluída esta semana, em meio a protestos dos índios e de entidades ligadas a eles. "Essa cruz é um estorvo", diz Paulo Maldos, assessor político do Cimi (Conselho Indigenista Missionário). "Os índios nem foram consultados, nem sabiam o que era a cruz."
Maldos diz que a montagem da cruz, com guindastes, iniciada no último dia 17, parecia reviver os quadros pintados sobre a primeira missa, "com os índios ao fundo, de coadjuvantes".
Ivan Cravo reconhece os protestos dos índios. "Aquilo é feito na terra deles, né? E eles acham que o aço representa o conquistador, a espada, o que descaracterizaria o local", disse à Folha, de Porto Seguro, por telefone.
Ele acha que as mudanças feitas para a festa trouxeram "melhorias" para os índios. "Toda essa polêmica é bobagem, descaracterizado o índio daqui já está. A cruz pequena servirá como comparação, mostra o passado, enquanto que a de aço representa a modernidade, os novos tempos."
A nova cruz será inaugurada durante a festa dos 500 anos, no dia 22 de abril.


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