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LITERATURA
Academia Brasileira de Letras elege hoje quem ocupa o lugar de Herberto Sales; Cony, colunista da Folha, é o favorito
Depois do chá, ABL escolhe novo titular
CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio
Hoje à tarde, por volta das 17h, a
ABL (Academia Brasileira de Letras) conhecerá seu mais novo
imortal.
Logo após o tradicional chá das
quintas-feiras, os membros da
instituição se reunirão para escolher o novo titular da cadeira número 3, antes ocupada pelo escritor e jornalista Herberto Sales,
morto em agosto de 1999.
A eleição deverá ser rápida. O
escritor Carlos Heitor Cony, 74,
colunista e membro do Conselho
Editorial da Folha, é o favorito.
Conhecedores dos processos
eleitorais da ABL estimavam, na
terça-feira à tarde, que Cony já tinha garantidos pelo menos 19 dos
37 votos em disputa, total que, se
confirmado, garante sua eleição.
O escritor teria ainda a promessa
de outros seis votos.
Vagas
Para ser eleito, o candidato precisa ter metade mais um dos votos. A ABL tem 40 membros e há
três vagas abertas.
Além da de Herberto Sales, há
ainda as de João Cabral de Melo
Neto, morto em outubro do ano
passado e cujo sucessor será eleito
na próxima semana, e a de Carlos
Chagas Filho, morto em fevereiro,
com eleição prevista para julho.
Três outros candidatos disputam a eleição.
O mais forte oponente de Cony
é o filólogo Leodegário de Azevedo Filho, 73.
Cony pouco fala sobre as eleições de hoje e diz não acreditar no
favoritismo.
"Não sei quantos votos terei e
admiro meu concorrente (Azevedo Filho), que além de seu valor
como filólogo, é um homem extremamente cordial", disse.
Para o escritor, que no momento prepara uma biografia de José
Lins do Rego, uma eventual derrota não será "nenhuma fatalidade".
"A Lusitana continuará rodando", disse.
Enquanto Cony entra na disputa pela primeira vez, Azevedo Filho tenta ser eleito para a ABL pela segunda vez.
O filólogo (estudioso do idioma) concorreu em agosto de 1997
à vaga anteriormente ocupada
por Darcy Ribeiro. Teve como
oponente um peso-pesado da cultura brasileira -o economista
Celso Furtado.
"Nasci sob o signo da luta. Só
entro em eleições disputadíssimas", disse à Folha o filólogo, que
perdeu para Furtado, mas orgulha-se de ter conseguido 15 votos
contra 22 do vencedor.
Reza a tradição da ABL que,
uma vez eleitor de um candidato,
sempre eleitor do mesmo candidato.
Assim, uma primeira tentativa
seria uma forma de sedimentar
um eleitorado.
"Costuma ser assim, mas infelizmente perdi dois votos fundamentais que tinha garantidos, os
de João Cabral e de Carlos Chagas", disse Azevedo Filho.
Disputa
Apesar de a eleição de hoje não
suscitar uma polêmica como a
que elegeu o economista Roberto
Campos para suceder o dramaturgo Dias Gomes -que levantou uma divisão entre as alas "esquerda" e "direita" da ABL- a
disputa Cony versus Azevedo Filho também tem suas nuances.
Articuladores da candidatura
de Cony defendem a tese de que
um escritor de seu porte tem de
estar na ABL.
Nos últimos anos, Cony ganhou
o Prêmio Machado de Assis (o
mais importante da ABL, concedido pelo conjunto de sua obra), o
Jabuti (duas vezes: em 96, por
"Quase Memória". e, em 98, por
"A Casa do Poeta Trágico") e o
Nestlé (em 97, por "O Piano e a
Orquestra").
Já os defensores de Leodegário
de Azevedo Filho argumentam
que uma instituição dedicada à
preservação e divulgação do idioma precisa ter em seus quadros
um filólogo.
Atualmente, entre os 37 acadêmicos, não há nenhum filólogo. O
último a pertencer aos quadros da
instituição foi Antonio Houaiss,
morto em março de 1999.
Há ainda dois outros candidatos inscritos, mas é pouco provável que os dois recebam votos.
Um dos candidatos é Antônio
Lopes de Sá, 72, presidente da
Academia Brasileira de Ciências
Contábeis.
No currículo que entregou à
ABL ao fazer sua inscrição, Lopes
de Sá informa que é doutor em
ciências contábeis e livre docente
pela Faculdade Nacional de Ciências Econômicas da Universidade
do Brasil (atual UFRJ), entre outros títulos.
O outro candidato é Waldemar
Cláudio dos Santos. Ao formalizar sua inscrição à vaga, Santos
não entregou seu currículo à Academia Brasileira de Letras. A Folha tentou localizá-lo por telefone.
Em sua casa, no Rio, informaram que ele passa férias em Maceió (Alagoas).
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