São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 2006

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PATRIMÔNIO

Para Appelbaum, a Luz está mais "relaxada"

Designer diz que o Museu da Língua ajuda a criar centro "novo e vibrante"

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Diferentemente do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, que, em entrevista publicada na Folha no último domingo, disse que centros culturais não bastariam para revitalizar o bairro da Luz, no centro de São Paulo, o americano Ralph Appelbaum, que assina a museografia do recém-aberto Museu da Língua Portuguesa, acredita que o processo de deterioração no entorno da Estação da Luz levou uma freada.
"Olhe para a linguagem do corpo das pessoas no bairro agora e compare com antes. Há quatro anos atrás, as pessoas corriam das ruas para entrar nos edifícios. Hoje, elas caminham da Pinacoteca para o parque, tudo está mais relaxado", avalia Appelbaum.
O designer afirma que, como um padrão em todo o mundo, centros culturais fornecem uma âncora para a revitalização de áreas como a Luz. Para ele, o ideal seria construir também universidades, escritórios e residências ali. Mas o museu já ajudaria a criar um "novo, robusto e vibrante" centro. "Venha para cá em cinco, 50, cem anos. Como em qualquer área onde haja espaço para lazer, as pessoas permanecerão."
Appelbaum passou quatro anos se dedicando ao projeto do Museu da Língua, seu terceiro no Brasil. O primeiro foi o Memorial do Rio Grande do Sul (2000); o segundo, a exposição "50 Anos de TV e +" (2001), no Ibirapuera. Há 26 anos, ele se dedica a projetos do gênero -museus interpretativos, que usam tecnologia de comunicação de ponta para embalar conteúdos como história natural, esportes etc. Appelbaum costuma receber críticas por conta do caráter de entretenimento visual com que impregna seus projetos. E defende-se: museus não precisam ser de objetos, mas de idéias.
"A maior mudança na evolução dos museus é que eles vêm expandindo o modo como se relacionam com o público. Depois da Segunda Guerra, criou-se mais tempo para o lazer. O que os museus modernos aprenderam foi a usar as novas ferramentas de comunicação para dizer: venha nos visitar. A realidade pode ser tão ou mais excitante do que qualquer coisa que um roteirista de Hollywood possa imaginar", diz.
No Museu da Língua, o trabalho de Appelbaum foi dar corpo à alma local. Para o designer, que diz que basta ficar de pé na Estação da Luz para "ouvir" o museu, o mais importante foi perceber uma característica do Brasil: as pessoas cantam, escrevem e falam com paixão. "Concluímos que os registros delas deveriam ser os artefatos do museu. Também há outros artefatos reais. Mas são apenas janelas."


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