São Paulo, terça, 23 de março de 1999
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CINEMA
"Central do Brasil" perde para o italiano "A Vida É Bela'; Fernanda Montenegro não ganha prêmio de melhor atriz
Roberto Benigni vence como melhor ator

France Presse
O brasileiro Walter Salles carrega o italiano Roberto Benigni após a premiação deste como melhor ator


ADRIANE GRAU
enviada especial a Los Angeles

Gwyneth Paltrow ("Shakespeare Apaixonado") ganhou o Oscar de melhor atriz à 1h56 de hoje, derrotando a brasileira Fernanda Montenegro ("Central do Brasil").
O prêmio foi entregue pelo ator Jack Nicholson. "Quero agradecer a Emily Watson, Fernanda Montenegro, Cate Blanchett e à melhor de todas, Meryl Streep", disse ela.
Fernanda foi a primeira atriz latino-americana a concorrer na categoria desde o início da premiação, em 1929. A única estrangeira a ganhar um Oscar falando sua própria língua foi a italiana Sophia Loren, por "Duas Mulheres", em 1962.

Estrangeiro
"Roberto!" À 0h de hoje, a atriz Sophia Loren anunciou o prêmio de melhor filme estrangeiro a seu amigo, o diretor e ator italiano Roberto Benigni. Seu filme, "A Vida É Bela", bateu o brasileiro "Central do Brasil", de Walter Salles.
"Eu saio daqui com o Oscar, mas queria vocês também", disse o diretor Roberto Benigni. O comediante agradeceu aos pais em Il Vergaio, a vila em que nasceu e cresceu na Itália. "Eles me deram o presente da pobreza", disse. Uma hora depois, Benigni ganhou o prêmio de melhor ator. O filme levaria ainda melhor trilha sonora para drama, apesar de ser uma comédia.
A estatueta de melhor filme, a mais cobiçada da noite, ficou com "Shakespeare Apaixonado", às 2h25, que levou sete prêmios no total. Já o Oscar de melhor direção foi para Steven Spielberg, por "O Resgate do Soldado Ryan". Ele dedicou a estatueta às famílias que perderam seus filhos na Segunda Guerra Mundial.
A cerimônia de entrega do 71º Oscar da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, no Dorothy Chandler Pavilion, em Los Angeles, a primeira a acontecer num domingo, começou às 22h30 (horário de Brasília) de ontem.
A atriz Whoopi Goldberg entrou vestida como a atriz Judi Dench no papel de rainha Elizabeth 1ª em "Shakespeare Apaixonado". "Boa noite, meus súditos, sou a rainha africana", brincou Whoopi. Depois, apareceria ainda caracterizada de personagens de "A Vida em Preto-e-Branco" e "A Bem-Amada", ainda inéditos no Brasil.
O primeiro prêmio da noite, de ator coadjuvante, foi entregue a James Coburn ("Temporada de Caça"), 70 anos. Judi Dench ("Shakespeare Apaixonado") ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante, entregue por Robin Williams.
Foram premiados direção de arte, trilha sonora para comédia, figurino, roteiro original ("Shakespeare Apaixonado"), efeitos sonoros, som, montagem, fotografia ("O Resgate do Soldado Ryan"), maquiagem ("Elizabeth"), curta de ficção ("Election Night - Valgaften"), curta de animação ("Bunny"), apresentado por personagens de "Vida de Inseto", efeitos visuais ("Amor Além da Vida"), documentário ("The Last Days"), documentário curta ("The Personals"), canção original ("When You Believe", de "O Príncipe do Egito"), roteiro adaptado ("Deuses e Monstros").
Dois personagens estranhos ao mundo cinematográfico compareceram ao palco. O senador e astronauta John Glenn apresentou um tributo aos heróis retratados pelo cinema, como Gandhi e Schindler. O general Colin Powell apresentou os indicados "O Resgate do Soldado Ryan" e "Além da Linha Vermelha", que tratam da Segunda Guerra.
O Oscar deste ano foi marcado por duas polêmicas. A primeira foi o prêmio honorário dedicado ao cineasta Elia Kazan, 89, de "Sindicato de Ladrões" (1954) e "Clamor do Sexo" (1961), entregue por Robert De Niro e Martin Scorsese.
Kazan denunciou oito profissionais de cinema ao Comitê de Atividades Anti-Americanas do Congresso, liderado pelo senador Joseph Mc- Carthy, em 1952. O comitê foi responsável pela "caça às bruxas" no meio cinematográfico, que expurgou suspeitos de estarem ligados ao partido comunista.
Parte da platéia, como Nick Nolte e Ed Harris, não se levantou nem aplaudiu o prêmio. Outra polêmica foi o dinheiro investido pela Miramax para promover seus candidatos, o anglo-americano "Shakespeare Apaixonado" (US$ 15 mi) e o italiano "A Vida É Bela" (US$ 9,25 mi).
Para muitos, o total foi considerado exagerado e suspeito. Para ter uma idéia, o filme "O Resgate do Soldado Ryan", com 11 indicações, consumiu US$ 4,9 milhões, e "Central do Brasil", US$ 250 mil.


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