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Crítica/cinema/"Vermelho como o Céu"
Drama italiano questiona os sentidos do mundo das imagens
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
"Vermelho como o
Céu" é um caso interessante de como
um filme pode dar certo, a despeito das armadilhas em seus
pontos de partida. Ao narrar a
história real de um garoto que
perde a visão depois de um acidente, vai parar numa escola
religiosa, onde é maltratado
por colegas e pelo diretor autoritário e descobre uma via sensível peculiar, o roteirista e diretor italiano Cristiano Bortone corria o risco de resultar
num filme de fórmula, a do drama edificante.
A vantagem é que o cineasta
enxergou as facilidades e as tomou como contra-exemplo. É
no tratamento simbólico da
perda da visão que Bortone supera os riscos e realiza um trabalho ao mesmo tempo emocionante e rico em possibilidades narrativas.
A partir do drama de Mirco, o
diretor constrói uma reflexão
sobre o poder de ilusão e encantamento que o cinema
guarda. Seu protagonista logo
se descobre um hábil construtor de histórias. Sem a visão,
contudo, Mirco apela para a audição, como o sentido que lhe
permite alcançar um novo patamar de significados.
É nesta encenação do sensorial que o filme ganha relevo.
Postos no lugar em que a imagem visível encontra-se fora do
alcance, seus personagens
aventuram-se na construção de
outras imagens. Isso permite
ao diretor manter o espectador
atento ao visível e ao mesmo
tempo conduzi-lo além.
A questão mais estimulante
com que se defronta o cineasta
é: como filmar os sons? Por
meio desse desafio o espectador é levado a questionar a uniformidade do mundo das imagens, do qual nos tornamos reféns. Pois, em vez de fetichizá-las, como no cultuado "Cinema
Paradiso", "Vermelho" desconstrói seu mecanismo, demonstrando, por meio dos
sons, como se constitui a ilusão.
Desse modo, o que oferece é
uma lição plena de sentidos.
VERMELHO COMO O CÉU
Direção: Cristiano Bortone
Produção: Itália, 2005
Com: Luca Capriotti, Francesco Campobasso e Simone Colombari
Onde: em cartaz no Cine Tam, Reserva
Cultural e Cinesesc
Avaliação: bom
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