São Paulo, segunda-feira, 23 de abril de 2007

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Crítica/cinema/"Vermelho como o Céu"

Drama italiano questiona os sentidos do mundo das imagens

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

"Vermelho como o Céu" é um caso interessante de como um filme pode dar certo, a despeito das armadilhas em seus pontos de partida. Ao narrar a história real de um garoto que perde a visão depois de um acidente, vai parar numa escola religiosa, onde é maltratado por colegas e pelo diretor autoritário e descobre uma via sensível peculiar, o roteirista e diretor italiano Cristiano Bortone corria o risco de resultar num filme de fórmula, a do drama edificante.
A vantagem é que o cineasta enxergou as facilidades e as tomou como contra-exemplo. É no tratamento simbólico da perda da visão que Bortone supera os riscos e realiza um trabalho ao mesmo tempo emocionante e rico em possibilidades narrativas.
A partir do drama de Mirco, o diretor constrói uma reflexão sobre o poder de ilusão e encantamento que o cinema guarda. Seu protagonista logo se descobre um hábil construtor de histórias. Sem a visão, contudo, Mirco apela para a audição, como o sentido que lhe permite alcançar um novo patamar de significados. É nesta encenação do sensorial que o filme ganha relevo.
Postos no lugar em que a imagem visível encontra-se fora do alcance, seus personagens aventuram-se na construção de outras imagens. Isso permite ao diretor manter o espectador atento ao visível e ao mesmo tempo conduzi-lo além.
A questão mais estimulante com que se defronta o cineasta é: como filmar os sons? Por meio desse desafio o espectador é levado a questionar a uniformidade do mundo das imagens, do qual nos tornamos reféns. Pois, em vez de fetichizá-las, como no cultuado "Cinema Paradiso", "Vermelho" desconstrói seu mecanismo, demonstrando, por meio dos sons, como se constitui a ilusão.
Desse modo, o que oferece é uma lição plena de sentidos.


VERMELHO COMO O CÉU
Direção:
Cristiano Bortone
Produção: Itália, 2005
Com: Luca Capriotti, Francesco Campobasso e Simone Colombari
Onde: em cartaz no Cine Tam, Reserva Cultural e Cinesesc
Avaliação: bom


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