São Paulo, quinta-feira, 23 de abril de 2009 |
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França na tela
Mostra de vídeos do Museu de Arte Moderna de Paris traz a São Paulo uma geração de herdeiros da nouvelle vague
SILAS MARTÍ DA REPORTAGEM LOCAL Cada grão de areia no deserto do Novo México corresponde a um ponto prata no filme super-8 que Dominique Gonzalez-Foerster usou em "Atomic Park". É seu resumo sombrio da era Bush gravado onde os Estados Unidos testaram a bomba atômica antes de aniquilar Hiroshima e Nagasaki. Outro francês, Melik Ohanian, projetou sem tela, num deserto da Califórnia, o filme "Punishment Park", obra de Peter Watkins banida por 25 anos nos EUA, crítica à lei dos anos Nixon que previa torturar os militantes dos direitos civis. Em cena, só o projetor e a trilha sonora do filme, com o deserto como pano de fundo. São obras centrais da mostra "Entre-Temps", com 21 vídeos do Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris, que começa hoje no Museu da Imagem e do Som e tem outra parte aberta amanhã no Paço das Artes, dentro do Ano da França no Brasil. Herdeiros estéticos da nouvelle vague e do nouveau roman, movimentos franceses de cinema e literatura dos anos 70, artistas como Gonzalez-Foerster, Ohanian, Philippe Parreno e Pierre Huygue, nomes fortes da cena internacional presentes na mostra, levam ao vídeo uma fragmentação da narrativa e a noção de tempo dilatado. "O filme começa no presente, recua ao passado e reencontra a experiência terrível dos testes atômicos numa explosão cromática", resume Gonzalez-Foerster, 44. "O deserto vira um imenso cubo branco, em que tudo se destaca." "É a tentativa de capturar a dimensão luminosa dessa paisagem", diz Ohanian, 40, sobre seu filme no deserto. "Uma projeção sem tela é metáfora para um mundo sem projetos, orientado pela ausência." Não espanta que a retomada estética proposta por esses artistas recorra aos vazios da América como cenário -a filosofia que deu base às ideias cinematográficas e literárias nos anos 70 ganhou mais adeptos nos EUA e acabou sendo suprimida na França, como gritos perdidos num deserto. Seguindo esse embaralhamento narrativo e temporal, Philippe Parreno e Douglas Gordon apontam 17 câmeras para os passos de Zinedine Zidane em campo, numa partida entre Real Madrid e Villareal. Transformam os 90 minutos do jogo num retrato atemporal do atleta: escrutínio da forma física plano a plano e espécie de ode à solidão do jogador em meio ao espetáculo coletivo. Também sozinha, num tempo suspenso e irreal, a personagem de mangá Ann Lee, de cabelos e olhos azuis, protagoniza uma série de filmes de Parreno, Pierre Huygue e Gonzalez-Foerster. Cada artista dá sua versão da história, mas ela acaba sempre reclamando que não foi desenhada para sobreviver. ENTRE-TEMPS Quando: abertura hoje, às 19h30 (MIS) e amanhã, às 20h (Paço); de ter. a sex., das 12h às 19h; sáb. e dom., das 11h às 18h (MIS); de ter. a sex., das 11h30 às 19h; sáb. e dom., das 12h30 às 17h30 (Paço); até 28/ 6 (MIS); até 22/6 (Paço) Onde: MIS (av. Europa, 158, tel. 0/ xx/11/2117-4777); Paço das Artes (av. da Universidade, 1, tel. 0/xx/ 11/3814-4832) Quanto: entrada franca Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Ano francês no Brasil tem várias "âncoras" Índice |
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