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Crítica
"Inferno nº 17" representa bem Billy Wilder
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Billy Wilder tinha uma maneira quase cínica de olhar o
mundo. Não era cínica, no entanto. Era como se fingisse. E
nisso talvez um filme menor,
como "Inferno nº 17" (TC
Cult, 16h, não indicado para
menores de 12 anos), o represente melhor do que alguns de
seus filmes mais prestigiados
(o mesmo, por sinal, acontece
com "Beija-me, Idiota").
Devia ser um filme extremamente grave, porque estamos
num campo de prisioneiros
alemão onde se encontram soldados americanos. E, no entanto, William Holden não se
preocupa em ocultar sua veia
de negociante. Dentro das limitadas opções que o campo oferece, ele tenta lucrar.
Isso leva seus companheiros
a acreditar que ele possa ter negociado com os alemães, quando alguns companheiros são
mortos ao tentar a fuga. Mas
não é bem assim. Wilder radicaliza aqui essa suspeita que
John Ford tinha em relação a
todo moralismo: como se virtude demais carregasse junto, necessariamente, o vício.
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