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Crítica/ "Flavio de Carvalho" e "A Cidade do Homem Nu"
Exposição esconde artista ousado
Lado transgressor e polêmico de Flavio de Carvalho, que marcou sua carreira, fica ausente de retrospectiva no MAM
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A retrospectiva "Flavio
de Carvalho", em cartaz
no Museu de Arte Moderna de São Paulo, com curadoria de Rui Moreira Leite, não
faz por merecer o caráter ousado e transgressor de seu artista
homenageado.
Flavio de Carvalho (1899-1973), que causou a ira dos fiéis
católicos com sua "Experiência
nº 2" (1931), ao caminhar sem
chapéu e no sentido contrário
de uma procissão; que desenhou retratos da mãe em seu
leito de morte, na "Série Trágica" (1947); e andou de saia por
São Paulo, na "Experiência nº
3" (1956), entre algumas de
suas polêmicas ações, tem na
mostra maior espaço para suas
pinturas e desenhos.
Não que seu trabalho material não seja importante, mas
não há dúvida que, na história
da arte brasileira, é sua atitude
que o coloca como uma das
principais figuras e, nessa exposição, essa característica acaba por ser minimizada. A montagem asséptica, de paredes
brancas e com vitrines para alguns de seus objetos, reforça
ainda mais esse "enquadramento" de Flavio de Carvalho à
instituição.
Agora, em 2010, previa-se
um ano que poderia revelar um
novo olhar sobre a obra de Carvalho, já que, além da retrospectiva no MAM, ele é figura
central de uma mostra no Museu Reina Sofia, em Madri, e
um dos destaques da 29ª Bienal
de São Paulo. Contudo, a enfadonha mostra "Flavio de Carvalho", no MAM, não acrescenta nada ao que já se conhece sobre o artista.
Uma nova cidade
Por conta dessa fragilidade,
ganha destaque "A Cidade do
Homem Nu", mostra paralela
que se utiliza de ideias de Flavio de Carvalho, na sala menor
do MAM, com curadoria de Inti
Guerrero. Com apenas 12
obras, o curador colombiano
explora a ideia de Carvalho para uma nova cidade, onde existiria um homem "sem deus,
sem propriedade, sem matrimônio... e sem tabus escolásticos, livre para o raciocínio e o
pensamento".
Assim, ganha novo sentido a
performance de Ney Matogrosso, enquanto estava à frente
dos Secos e Molhados, nos anos
1970, e as imagens captadas de
forma escondida em salas de cinemas pornô na Colômbia, de
Miguel Angel Rojas, já que ambos colocam em prática os preceitos de Carvalho.
Outro destaque da pequena
mostra é a série denominada
"Rua Direita", de Claudia Andujar, que retrata a mesma via
por onde o polêmico artista caminhou de saia. Para a série
realizada nos anos 1970, Andujar postou-se no chão, capturando um olhar surpreso dos
passantes. Ao menos na sala
menor, Carvalho segue inspirando transgressão.
FLAVIO DE CARVALHO
Quando: de ter. a dom. das 10h às 18h,
até 13/6
Onde: Museu de Arte Moderna de São
Paulo (parque Ibirapuera, portão 3,
tel. 0/xx/11/5085-1300)
Quanto: R$ 5,50 (domingos, grátis)
Avaliação: regular
A CIDADE DO HOMEM NU
Avaliação: ótimo
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