São Paulo, Sexta-feira, 23 de Abril de 1999
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INCENTIVO À CULTURA
Entidade acusada de má gestão de recursos da Lei Mendonça deve R$ 140 mil a casa de espetáculos
Via Funchal acusa calote da Ticketeatro

DANIEL CASTRO
da Reportagem Local

A Via Funchal, uma das maiores casas de espetáculos de São Paulo, está acionando na Justiça a Associação Juventude Musical do Brasil, responsável pelo projeto Marketing Cultural/Ticketeatro, que vendia ingressos para shows e peças de teatro por telefone.
A casa de espetáculos tenta receber cerca de R$ 140 mil, pelos ingressos vendidos pelo Ticketeatro no ano passado que não foram repassados.
O Ticketeatro operou durante apenas um ano e meio, falindo em dezembro de 98, após consumir R$ 4.548.592,62 de recursos da Lei Mendonça, de incentivo à cultura no município de São Paulo, conforme revelou a Folha ontem.
A maior parte desse dinheiro, 70% (R$ 3.184.014,83), foi bancada pela prefeitura, via renúncia fiscal. Outros 30% (R$ 1.364.577,79) foram custeados pela IBM, que também executou parte do projeto (vendeu equipamentos e programas) e cobrou R$ 3,3 milhões.
O projeto Ticketeatro, de responsabilidade da Associação Juventude Musical do Brasil, previa a instalação de dez quiosques em shoppings de São Paulo, nos quais o usuário teria acesso a uma agenda cultural completa da cidade, mas apenas seis foram instalados.
Previa também a instalação de terminais de computadores em 35 teatros e casas de shows, mas apenas seis operaram com o sistema.
Além de não ter sido concluído, o projeto é suspeito de má gestão administrativa.
Pareceres de relatores da Comissão de Averiguação e Avaliação de Projetos Culturais, órgão da Secretaria Municipal da Cultura que aplica e fiscaliza a Lei Mendonça, recomendam a rejeição da prestação de contas da entidade e apontam despesas "alheias ao projeto", como ração para cães e absorventes íntimos.

Dívida
A Via Funchal foi o maior cliente do Ticketeatro em 98. A casa de espetáculos foi responsável por 46% (R$ 70.998,76) da receita anual do projeto de telemarketing com venda de ingressos (R$ 155.669,03). O faturamento vem da média de 5% de taxa cobrada pelo Ticketeatro sobre o valor dos ingressos. A segunda maior fonte de renda do Ticketeatro foi o Campeonato Paulista de 98, que gerou receita de R$ 13.265,00.
Considerando um valor médio de R$ 40 por ingresso, o projeto movimentou em 98 cerca de R$ 3,1 milhões e pouco mais de 77 mil entradas. Ary de Jácomo Bisaglia, diretor-geral da Associação Juventude Musical do Brasil, diz que o Ticketeatro tinha um banco de 32 mil clientes, mas não soube informar o total de ingressos vendidos.
Segundo José Arraes, diretor financeiro da Via Funchal, a casa assinou contrato de exclusividade com o Ticketeatro em agosto do ano passado, mas rescindiu-o em novembro.
"As consultas eram muito lentas e atrapalhavam as vendas. O sistema era falho e não funcionava para uma casa de espetáculos do nosso porte. Percebemos que não era um bom negócio", diz Arraes.
O executivo afirma que o repasse, que deveria ocorrer em dois dias, demorava até um mês e meio.
"O Ticketeatro chegou a dever R$ 200 mil. Ainda nos deve R$ 140 mil, que estamos tentando receber via cobrança judicial. Fomos garfados em um show de casa cheia, com mais de 4.000 pessoas", acusa.
A IBM do Brasil também está cobrando judicialmente R$ 749.328,33 do Ticketeatro.
Teatros que experimentaram o sistema do Ticketeatro, como o Ruth Escobar, também reclamam da lentidão.

Outro lado
O maestro e empresário Ary de Jácomo Bisaglia, responsável pelo Ticketeatro, reconhece a dívida com a Via Funchal e afirma que pretende saldá-la.
Ele diz que o sistema era lento porque, devido a atraso na implantação do projeto (que começou em 95), os equipamentos de informática ficaram defasados.
Em 97, Bisaglia tentou obter mais R$ 1,95 milhão da Lei Mendonça para troca de tecnologia, mas o pedido foi negado.
Bisaglia também diz que as despesas contestadas pela comissão de averiguação estavam previstas no projeto original do Ticketeatro, em itens genéricos.


A colunista Erika Palomino, de Noite Ilustrada, está em férias.


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