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INCENTIVO À CULTURA
Entidade acusada de má gestão de recursos da Lei Mendonça deve R$ 140 mil a casa de espetáculos
Via Funchal acusa calote da Ticketeatro
DANIEL CASTRO
da Reportagem Local
A Via Funchal, uma das maiores
casas de espetáculos de São Paulo,
está acionando na Justiça a Associação Juventude Musical do Brasil, responsável pelo projeto Marketing Cultural/Ticketeatro, que
vendia ingressos para shows e peças de teatro por telefone.
A casa de espetáculos tenta receber cerca de R$ 140 mil, pelos ingressos vendidos pelo Ticketeatro
no ano passado que não foram repassados.
O Ticketeatro operou durante
apenas um ano e meio, falindo em
dezembro de 98, após consumir R$
4.548.592,62 de recursos da Lei
Mendonça, de incentivo à cultura
no município de São Paulo, conforme revelou a Folha ontem.
A maior parte desse dinheiro,
70% (R$ 3.184.014,83), foi bancada
pela prefeitura, via renúncia fiscal.
Outros 30% (R$ 1.364.577,79) foram custeados pela IBM, que também executou parte do projeto
(vendeu equipamentos e programas) e cobrou R$ 3,3 milhões.
O projeto Ticketeatro, de responsabilidade da Associação Juventude Musical do Brasil, previa a
instalação de dez quiosques em
shoppings de São Paulo, nos quais
o usuário teria acesso a uma agenda cultural completa da cidade,
mas apenas seis foram instalados.
Previa também a instalação de
terminais de computadores em 35
teatros e casas de shows, mas apenas seis operaram com o sistema.
Além de não ter sido concluído, o
projeto é suspeito de má gestão administrativa.
Pareceres de relatores da Comissão de Averiguação e Avaliação de
Projetos Culturais, órgão da Secretaria Municipal da Cultura que
aplica e fiscaliza a Lei Mendonça,
recomendam a rejeição da prestação de contas da entidade e apontam despesas "alheias ao projeto",
como ração para cães e absorventes íntimos.
Dívida
A Via Funchal foi o maior cliente
do Ticketeatro em 98. A casa de espetáculos foi responsável por 46%
(R$ 70.998,76) da receita anual do
projeto de telemarketing com venda de ingressos (R$ 155.669,03). O
faturamento vem da média de 5%
de taxa cobrada pelo Ticketeatro
sobre o valor dos ingressos. A segunda maior fonte de renda do
Ticketeatro foi o Campeonato
Paulista de 98, que gerou receita de
R$ 13.265,00.
Considerando um valor médio
de R$ 40 por ingresso, o projeto
movimentou em 98 cerca de R$ 3,1
milhões e pouco mais de 77 mil entradas. Ary de Jácomo Bisaglia, diretor-geral da Associação Juventude Musical do Brasil, diz que o Ticketeatro tinha um banco de 32 mil
clientes, mas não soube informar o
total de ingressos vendidos.
Segundo José Arraes, diretor financeiro da Via Funchal, a casa assinou contrato de exclusividade
com o Ticketeatro em agosto do
ano passado, mas rescindiu-o em
novembro.
"As consultas eram muito lentas
e atrapalhavam as vendas. O sistema era falho e não funcionava para
uma casa de espetáculos do nosso
porte. Percebemos que não era um
bom negócio", diz Arraes.
O executivo afirma que o repasse, que deveria ocorrer em dois
dias, demorava até um mês e meio.
"O Ticketeatro chegou a dever
R$ 200 mil. Ainda nos deve R$ 140
mil, que estamos tentando receber
via cobrança judicial. Fomos garfados em um show de casa cheia,
com mais de 4.000 pessoas", acusa.
A IBM do Brasil também está cobrando judicialmente R$
749.328,33 do Ticketeatro.
Teatros que experimentaram o
sistema do Ticketeatro, como o
Ruth Escobar, também reclamam
da lentidão.
Outro lado
O maestro e empresário Ary de
Jácomo Bisaglia, responsável pelo
Ticketeatro, reconhece a dívida
com a Via Funchal e afirma que
pretende saldá-la.
Ele diz que o sistema era lento
porque, devido a atraso na implantação do projeto (que começou em
95), os equipamentos de informática ficaram defasados.
Em 97, Bisaglia tentou obter
mais R$ 1,95 milhão da Lei Mendonça para troca de tecnologia,
mas o pedido foi negado.
Bisaglia também diz que as despesas contestadas pela comissão
de averiguação estavam previstas
no projeto original do Ticketeatro,
em itens genéricos.
A colunista Erika Palomino, de
Noite Ilustrada,
está em férias.
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