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MEMÓRIA
"Recreio" faz 30 anos em maio
MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
Editora da Folhinha
Na segunda quarta-feira de maio
fará 30 anos que foi lançada, em todo o Brasil, a revista "Recreio", pela editora Abril, cujo lema era "Leia
e Pinte, Recorte e Brinque".
Febre entre as crianças, que brincavam sozinhas com as atividades,
a publicação vendeu aproximadamente um milhão de exemplares
por mês em cerca de um ano e
meio. Foi quinzenal no início e depois passou a semanal.
"Recreio" foi um marco na pedagogia brasileira. Foi adotada por
inúmeras escolas. A revista veiculava brincadeiras que ensinavam,
sem a criança perceber, operações
matemáticas e a língua portuguesa, além de prepará-la para a alfabetização (exercícios de psicomotricidade e discriminação visual).
A receita do sucesso incluía a
simplicidade de um projeto gráfico
uniforme, temas definidos e idade
especificada -4 a 7 anos.
Sonia Robatto, 61, foi criadora do
projeto, ao lado de Waldir Igayara,
que o concebeu graficamente. Ela
conta que tudo começou quando
foi oferecer em 1968 uma história
sua, "A Sapa Cristina", e recebeu o
convite para criar o projeto.
Sonia foi contratada e montou
uma redação. Ruth Rocha, 68, entrou no oitavo número como
orientadora educacional.
No princípio, "Recreio" tinha 16
páginas e um encarte com uma atividade para montar com tesoura e
cola, própria para a faixa etária.
"A revista partia de um único assunto -uma história de ficção-
que se desdobrava em atividades
preparatórias de leitura para
crianças até os sete anos. A idéia
era que fosse a primeira revista de
uma criança pequena", conta Robatto.
Mas "Recreio" contava com a colaboração dos pais, que deveriam
ler as histórias para as crianças.
"A gente também acompanhava
o calendário escolar e tudo o que
acontecia no ano, não só na escola,
como as estações do ano. Abordava temas como o medo da criança
de ficar sozinha ou o irmão que
chegava, os problemas de um núcleo familiar, de um bairro e da escola ou do país", conta Robatto.
Ruth Rocha, que também comemora este ano 30 anos de carreira
como escritora de literatura para
crianças, considera o aniversário
importante. "Acredito que "Recreio" foi uma das publicações impulsionadoras da nova literatura
que surgiu por essa época."
Para Ruth, a eficácia pedagógica
de "Recreio" na escola pode ser
atribuída ao fato de ela não adotar,
até então, como orientação geral,
métodos similares. "As crianças
brincavam e achavam aquilo uma
farra, faziam com gosto, não sabiam que era lição."
O auge da publicação durou cerca de 50 números ou um ano e
meio. "Às vezes, chegou a vender
mais de 220 mil exemplares por semana. Quando vendia pouco, vendia 120 mil", diz Robatto.
Ruth Rocha conta que Sonia Robatto a "forçou" a se tornar escritora. "Sonia estava atrás de um texto
que tinha na cabeça: brasileiro, frequentemente engraçado, descontraído. Ela escreveu várias histórias assim nos primeiros números
e acabou me entusiasmando."
Desse modo nasceu o primeiro
trabalho da escritora Ruth Rocha.
"Inventei a história "Romeu e Julieta", sobre uma borboleta azul e outra amarela que não podiam brincar juntas porque tinham cores diferentes."
Ruth conta que Sonia, por sua
vez, incentivava o resgate do folclore. "Acredito que até hoje a gente tem de falar da alma brasileira.
Quanto mais ligado à essência do
povo da gente, mais internacional
é um produto cultural."
Por causa disso, "Recreio" trazia
as festas e os heróis nacionais. "Peguei os mitos e as figuras fabulosas
e fui escrevendo sobre eles e publicando nas datas em que eram festejados, mas com enfoque atual",
conta Sonia.
Com "Recreio", Sonia Robatto e
Ruth Rocha ajudaram a impulsionar a produção de literatura para
crianças no Brasil, que tinha Monteiro Lobato como referência praticamente única e que teve sua explosão editorial nos anos 70.
Vanguarda para os padrões da
época, "Recreio" foi plataforma de
lançamento de inúmeros autores e
ilustradores: as duas líderes da revista, Ruth e Sonia, e Ana Maria
Machado, Joel Rufino dos Santos,
Canini, Walcir Carrasco, Walter
Ono, Maria Amélia de Carvalho
(do "Bambalalão").
A revista durou até o início dos
anos 80, entre saídas e retornos das
duas mentoras. Ganhou edições
internacionais na Argentina, Espanha e Itália. "Não durou mais porque quiseram modificá-la", afirmam tanto Ruth quanto Sonia.
Ruth Rocha conta que a tiragem
caiu para cerca de 25 mil exemplares por semana depois que ela e Sonia saíram. Isso aconteceu porque
"ninguém entendeu o que era a publicação. O diretor que foi para lá
jogou fora o meu arquivo, e lá estava tudo explicado. Eles achavam
que qualquer um fazia "Recreio'".
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