São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 2002

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TV PAGA

Cinemax exibe hoje "Time Code"

Mike Figgis divide a tela em quatro

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

A diferença entre Mike Figgis e a grande maioria dos cineastas é que ele pensa o cinema, além de fazê-lo. Assim, renovou o drama do alcoólatra com "Despedida em Las Vegas" (1995), a transa casual com "Por Uma Noite Apenas" (97) e até o filme policial com "Justiça Cega" (90).
Agora, inova de novo com seu "Time Code", filme que o canal de TV paga Cinemax exibe hoje, às 9h15, e repete nos dia 27 (18h15) e 31 (1h). Para começar, a tela é dividida em quatro, cada pedaço com uma história autônoma que de alguma forma se entrecruzam.
Tudo se passa no dia 19 de novembro de 1999 em Los Angeles. Um executivo de cinema (Stellan Skarsgard) trai a mulher (Saffron Burrows) com uma aspirante a atriz (Salma Hayek), que por sua vez está traindo sua namorada (Jeanne Tripplehorn). Detalhe: o diretor filmou as quatro histórias, sem cortes, simultaneamente.
A Folha conversou com o diretor britânico de 54 anos:

Folha - Quão complicado é fazer simultaneamente quatro filmes que se encaixam?
Mike Figgis -
A versão que o público vê é a décima quinta. A sincronia foi o maior desafio, pois, embora as quatro histórias tenham sido filmadas ao mesmo tempo, não havia comunicação entre as equipes, então todos tinham de seguir estritamente o cronograma para que no fim tudo se encaixasse. Todos, atores, técnicos etc., tinham um relógio digital que foi sincronizado no grito de "ação" e as marcas deviam ser respeitadas ao detalhe do segundo. A atuação foi se encaixando no tempo, e não o contrário.

Folha - A atuação lembra um pouco teatro filmado...
Figgis -
Sim, esse estilo me serviu porque significava que os atores estavam privilegiando a dramaticidade, e não esperando que seu trabalho fosse salvo depois pelo editor. Sempre gostei do teatro no cinema. Afinal, tanto Orson Welles (1915-85) quanto Jean-Luc Godard são defensores do estilo, e eu me espelho nos dois. E nunca fui muito fã do falso naturalismo do cinema atual.

Folha - "Time Code" é todo feito digitalmente. "Star Wars" também. Este é o futuro?
Figgis -
Meu interesse na tecnologia digital é pelo barateamento dos custos que seu uso traz. "Star Wars" foi tão caro quanto os outros, então não há muito ganho. Adoro celulóide, embora ache que o futuro do cinema é digital.

Folha - A tela dividida não chega a ser novidade para as novas gerações, que nasceram diante do computador. Por que utilizar o recurso?
Figgis -
O recurso me escolheu. Sempre quis fazer um filme sem edição e sem interrupção. Usei as quatro telas porque fiquei assombrado como dá para colocar tanta informação numa projeção com uma imagem decente.

Folha - Você também é músico de jazz. Qual você prefere?
Figgis -
Infelizmente, ambas são prostitutas velhas trabalhando no mesmo bordel. Nos dois campos há coisas boas, saudáveis e inovativas acontecendo, mas a maioria das pessoas é retrógrada...

Folha - Você pretende voltar ao formato tradicional um dia?
Figgis -
Sim, devo filmar um thriller para a Disney. Mas continuarei com as experimentações, usando o dinheiro que ganho dos grandes estúdios para subsidiar meus pequenos filmes.



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