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TV PAGA
Cinemax exibe hoje "Time Code"
Mike Figgis divide a tela em quatro
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
A diferença entre Mike Figgis e a
grande maioria dos cineastas é
que ele pensa o cinema, além de
fazê-lo. Assim, renovou o drama
do alcoólatra com "Despedida em
Las Vegas" (1995), a transa casual
com "Por Uma Noite Apenas"
(97) e até o filme policial com
"Justiça Cega" (90).
Agora, inova de novo com seu
"Time Code", filme que o canal de
TV paga Cinemax exibe hoje, às
9h15, e repete nos dia 27 (18h15) e
31 (1h). Para começar, a tela é dividida em quatro, cada pedaço com
uma história autônoma que de alguma forma se entrecruzam.
Tudo se passa no dia 19 de novembro de 1999 em Los Angeles.
Um executivo de cinema (Stellan
Skarsgard) trai a mulher (Saffron
Burrows) com uma aspirante a
atriz (Salma Hayek), que por sua
vez está traindo sua namorada
(Jeanne Tripplehorn). Detalhe: o
diretor filmou as quatro histórias,
sem cortes, simultaneamente.
A Folha conversou com o diretor britânico de 54 anos:
Folha - Quão complicado é fazer
simultaneamente quatro filmes
que se encaixam?
Mike Figgis - A versão que o público vê é a décima quinta. A sincronia foi o maior desafio, pois,
embora as quatro histórias tenham sido filmadas ao mesmo
tempo, não havia comunicação
entre as equipes, então todos tinham de seguir estritamente o
cronograma para que no fim tudo
se encaixasse. Todos, atores, técnicos etc., tinham um relógio digital que foi sincronizado no grito
de "ação" e as marcas deviam ser
respeitadas ao detalhe do segundo. A atuação foi se encaixando
no tempo, e não o contrário.
Folha - A atuação lembra um pouco teatro filmado...
Figgis - Sim, esse estilo me serviu
porque significava que os atores
estavam privilegiando a dramaticidade, e não esperando que seu
trabalho fosse salvo depois pelo
editor. Sempre gostei do teatro no
cinema. Afinal, tanto Orson Welles (1915-85) quanto Jean-Luc
Godard são defensores do estilo, e
eu me espelho nos dois. E nunca
fui muito fã do falso naturalismo
do cinema atual.
Folha - "Time Code" é todo feito
digitalmente. "Star Wars" também. Este é o futuro?
Figgis - Meu interesse na tecnologia digital é pelo barateamento
dos custos que seu uso traz. "Star
Wars" foi tão caro quanto os outros, então não há muito ganho.
Adoro celulóide, embora ache
que o futuro do cinema é digital.
Folha - A tela dividida não chega
a ser novidade para as novas gerações, que nasceram diante do computador. Por que utilizar o recurso?
Figgis - O recurso me escolheu.
Sempre quis fazer um filme sem
edição e sem interrupção. Usei as
quatro telas porque fiquei assombrado como dá para colocar tanta
informação numa projeção com
uma imagem decente.
Folha - Você também é músico de
jazz. Qual você prefere?
Figgis - Infelizmente, ambas são
prostitutas velhas trabalhando no
mesmo bordel. Nos dois campos
há coisas boas, saudáveis e inovativas acontecendo, mas a maioria
das pessoas é retrógrada...
Folha - Você pretende voltar ao
formato tradicional um dia?
Figgis - Sim, devo filmar um
thriller para a Disney. Mas continuarei com as experimentações,
usando o dinheiro que ganho dos
grandes estúdios para subsidiar
meus pequenos filmes.
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