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São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2003

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CINEMA/ESTRÉIA

ADEUS, NOVA YORK

"A Última Noite", que tem Edward Norton no elenco, é adaptação de romance de David Benioff

Cineasta exercita amadurecimento

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Tudo em "A Última Noite" diz respeito ao 11 de setembro, embora sejam bem poucas as menções ao atentado -e nenhuma explícita.
O filme começa com Montgomery "Monty" Brogan (Edward Norton) salvando a vida de um cachorro. É a única coisa certa que fez na vida, pensará depois. Esse cachorro o acompanhará ao longo de todo o filme como a lembrar da importância de cada momento, ou de momentos específicos, dentro da vida de um homem.
Mais tarde veremos Monty ser preso, com toneladas de drogas escondidas no estofamento do sofá de sua casa. Ele pretendia deixar o negócio, mas a ganância o levou a transgredir ainda uma vez. Essa vez mudou seu destino e o levou a ser condenado a sete anos de prisão.

Liberdade e atitude
Todo o filme de Spike Lee gira em torno de sua última noite de liberdade e da atitude que terá de tomar ao amanhecer: entrega-se à prisão, mata-se ou foge? Isto é, ainda uma vez, nessa última noite, tudo será questão de optar, de tomar uma decisão que afetará sua vida.
Qualquer dessas possibilidades o levarão a se afastar das pessoas que fazem parte de sua existência: Naturelle, sua mulher, e os dois amigos de infância, Jakob e Frank.
Com exceção de Naturelle, convém enfatizar, nenhum desses personagens é negro. E mesmo ela é uma mulata porto-riquenha. As contradições sociais e raciais, de que Nova York é tão pródiga, são decididamente colocadas em surdina, com exceção de uma sequência (talvez a mais forte do filme, em compensação), em que Monty deblatera contra mais ou menos todas as etnias que fazem parte do dia-a-dia da cidade. E exceto, ainda, pela presença de mafiosos russos.

Nova visão
De todo modo, o essencial não são as contradições, mas os encontros e reencontros. Em seu drama, Monty Brogan se descobre e redescobre os amigos. Pois o seu trauma é correlato ao 11 de setembro, em que um acontecimento leva as pessoas a encarar de outro modo aos outros, a si mesmas, à vida em geral. E Nova York, claro.
É possível dizer que "A Última Noite" sofre, em determinados momentos, de excesso de literatura. Que lhe falta o impacto daqueles trabalhos em que observa a violência das relações brancos/ negros (como o recente "A Hora do Show").
Aqui quase tudo parece refletido e pesado, como se o golpe simbólico representado pela destruição das torres gêmeas levasse Spike Lee a um exercício de introspecção. Ou, de certa forma, de amadurecimento.


A Última Noite
25th Hour
   
Produção: EUA, 2002
Direção: Spike Lee
Com: Edward Norton, Philip Seymour Hoffman, Barry Pepper, Brian Cox e Rosario Dawson
Onde: a partir de hoje nos cines Belas Artes, Center Iguatemi, Cinearte, Jardim Sul e Pátio Higienópolis



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