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CINEMA/ESTRÉIA
ADEUS, NOVA YORK
"A Última Noite", que tem Edward Norton no elenco, é adaptação de romance de David Benioff
Cineasta exercita amadurecimento
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Tudo em "A Última Noite"
diz respeito ao 11 de setembro, embora sejam bem poucas as
menções ao atentado -e nenhuma explícita.
O filme começa com Montgomery "Monty" Brogan (Edward
Norton) salvando a vida de um
cachorro. É a única coisa certa que
fez na vida, pensará depois. Esse
cachorro o acompanhará ao longo de todo o filme como a lembrar
da importância de cada momento, ou de momentos específicos,
dentro da vida de um homem.
Mais tarde veremos Monty ser
preso, com toneladas de drogas
escondidas no estofamento do sofá de sua casa. Ele pretendia deixar o negócio, mas a ganância o levou a transgredir ainda uma
vez. Essa vez mudou seu destino e
o levou a ser condenado a sete
anos de prisão.
Liberdade e atitude
Todo o filme de Spike Lee gira
em torno de sua última noite de liberdade e da atitude que terá de
tomar ao amanhecer: entrega-se à
prisão, mata-se ou foge? Isto é,
ainda uma vez, nessa última noite, tudo será questão de optar, de
tomar uma decisão que afetará
sua vida.
Qualquer dessas possibilidades
o levarão a se afastar das pessoas
que fazem parte de sua existência:
Naturelle, sua mulher, e os dois
amigos de infância, Jakob e
Frank.
Com exceção de Naturelle, convém enfatizar, nenhum desses
personagens é negro. E mesmo
ela é uma mulata porto-riquenha.
As contradições sociais e raciais,
de que Nova York é tão pródiga,
são decididamente colocadas em
surdina, com exceção de uma sequência (talvez a mais forte do filme, em compensação), em que
Monty deblatera contra mais ou
menos todas as etnias que fazem
parte do dia-a-dia da cidade. E exceto, ainda, pela presença de mafiosos russos.
Nova visão
De todo modo, o essencial não
são as contradições, mas os encontros e reencontros. Em seu
drama, Monty Brogan se descobre e redescobre os amigos. Pois o
seu trauma é correlato ao 11 de setembro, em que um acontecimento leva as pessoas a encarar
de outro modo aos outros, a si
mesmas, à vida em geral. E Nova
York, claro.
É possível dizer que "A Última
Noite" sofre, em determinados
momentos, de excesso de literatura. Que lhe falta o impacto daqueles trabalhos em que observa a
violência das relações brancos/
negros (como o recente "A Hora
do Show").
Aqui quase tudo parece refletido e pesado, como se o golpe simbólico representado pela destruição das torres gêmeas levasse Spike Lee a um exercício de introspecção. Ou, de certa forma, de
amadurecimento.
A Última Noite
25th Hour
Produção: EUA, 2002
Direção: Spike Lee
Com: Edward Norton, Philip Seymour
Hoffman, Barry Pepper, Brian Cox e
Rosario Dawson
Onde: a partir de hoje nos cines Belas
Artes, Center Iguatemi, Cinearte, Jardim
Sul e Pátio Higienópolis
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