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BIENAL DO LIVRO
Pensador francês, que é citado na série, recusa participação e diz que sua visão sobre o virtual foi deturpada
Jean Baudrillard renega "Matrix"
CASSIANO ELEK MACHADO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Jean Baudrillard, 73, não
assistiu a "Matrix Reloaded". Não viu e não gostou. O pensador francês
foi procurado pela produção do filme para colaborar com
seu roteiro, contou ele à Folha,
mas recusou na mesma hora.
"O primeiro filme tinha desvirtuado minhas idéias. Aquela não
era minha visão do virtual", opina
Baudrillard, que teve seu "Simulacros e Simulações" exibido no
"Matrix" original. É dentro de um
exemplar desse livro que o personagem Neo guarda um disco com
"drogas digitais".
Baudrillard não acha que "Matrix" seja "uma droga". Mas "existem filmes recentes melhores que este sobre o mesmo tema. "Truman Show", por exemplo, é mais
sutil. Não deixa o real de um lado
e o virtual de outro, como "Matrix". Esse é o problema."
Não foram esses problemas, porém, que trouxeram o pensador
ao país. Palestrante de carteirinha
no circuito universitário brasileiro, o autor de "A Sociedade de
Consumo" pegou o avião ao Rio
para receber o título de doutor
honoris causa na Universidade
Cândido Mendes e falar no Café
Literário da Bienal carioca, onde
lança o volume de artigos "Power
Inferno" (editora Sulina).
Foi em torno dos temas desse livro que girou sua fala, que teve
seu momento mais "power" no
assunto 11 de setembro. "Talvez
as torres gêmeas merecessem ser
destruídas", disse. A tradutora
ainda tentou confirmar se era
aquilo mesmo. Ele assentiu.
Baudrillard não estava tentando
preencher a ficha de inscrição na
Al-Qaeda. Ele se referia à destruição simbólica de um sistema de
poder que era encarnado pelos espigões do World Trade Center.
"Este terrorismo não é uma
ameaça externa. É uma metáfora
de uma fratura interna dos EUA",
disse. O tal "Grand Canyon" estaria relacionado ao "poder sem limites americano". "Neles há uma
falta de interesse total em legitimar seu poder", diz, em referência à "arrogância" dos "porta-vozes de Deus".
Baudrillard acredita que esse
rolo compressor americano, que
passou por cima do Iraque e do
Afeganistão, "não resolveu as feridas do 11 de setembro". "O psicodrama que se seguiu a essa humilhação simbólica não foi resolvido
nem com a guerra, que é sempre
uma espécie de exorcismo."
E olha que os americanos teriam se esforçado, defende ele. "A
TV é um simulacro do que acontece. Hoje ela se antecipa a si mesma. Ela já estava pronta para a
guerra, e a guerra se desenrolou
para ela", diz. "Os milhões que assistem são praticamente atores,
consomem o acontecimento antes mesmo da guerra acontecer.
Estamos diante de uma lógica de
consumo, não mais de guerra."
E a guerra, assim, não passaria
de apenas mais um "Matrix".
Veja o especial sobre "Matrix
Reloaded" no site da Folha Online
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