São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 2005

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58º FESTIVAL DE CANNES

Com favoritos distintos, membros do júri chegaram a acordo com "L"Enfant" para Palma de Ouro

Premiação ressalta filmes de caráter político-social

ALCINO LEITE NETO
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Filmes de enfoque político-social predominaram nos prêmios do Festival de Cannes, encerrado ontem, oficialmente, com a reexibição do vencedor da Palma de Ouro, "L'Enfant" (A Criança), dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne.
O filme narra as alegrias e os tormentos de um casal de jovens pobres na Bélgica quando eles ganham um bebê.
Prêmio de melhor direção, "Caché" (Escondido), rodado em Paris pelo austríaco Michael Hanecke, faz uma crítica à cegueira social da classe média francesa ao mesmo tempo em que aborda a imigração argelina no país.
A imigração mexicana e os contrastes sociais entre México e EUA é a base da narrativa de "The Three Burials of Melquiades Estrada" (Os Três Enterros de Melquíades Estrada), primeiro longa para cinema dirigido pelo ator Tommy Lee Jones, que levou os prêmios de melhor interpretação (Lee Jones) e melhor roteiro (do mexicano Guillermo Arriaga).
O prêmio de melhor interpretação feminina foi para a judia Hanna Laslo pelo filme "Free Zone", de Amos Gitai, sobre o conflito entre Israel e Palestina. O prêmio do júri ficou com "Shangai Dreams" (Sonhos de Xangai), de Wang Xiaoshuai, que discute os impasses entre Estado e indivíduo na China dos anos 60.
Exceção a este gosto dos jurados por filmes de visada social foi o Grande Prêmio do Júri, concedido ao americano Jim Jarmusch, por "Broken Flowers" (Flores Partidas), misto de melodrama e comédia a respeito de um aposentado que sai em busca do filho que ele não conhece.
Conforme se pôde inferir das declarações dos jurados em entrevista à imprensa, ontem em Cannes, três filmes entre os 21 concorrentes concentraram as suas discussões na hora da votação decisiva da Palma de Ouro: "L'Enfant", "Broken Flowers" e "Caché".
O presidente do júri, o diretor sérvio Emir Kusturica, teria assumido a defesa de "Broken Flowers". A diretora francesa Agnès Varda, a de "Caché". A escritora americana Toni Morrisson e a atriz mexicana Salma Hayek impuseram "Shangai Dreams" e "The Three Burials of Melquiades Estrada". "L'Enfant" foi unanimidade entre eles.
"Nós compartilhamos a maior parte das escolhas, porque as divergências eram mínimas. Havia dois ou três filmes que cobriam todas as questões que nós nos colocamos, filmes ao mesmo tempo artísticos e interessantes para o público", declarou Kusturica.
Os demais jurados foram os atores Javier Bardem (espanhol) e Nandita Das (indiana) e os diretores John Woo (chinês), Benoît Jacquot (francês) e Fatik Akin (alemão).
A premiação foi previsível e agradou a crítica. Nos últimos dias do festival, "L'Enfant", "Caché" e "Broken Flowers" estavam entre os concorrentes mais cotados.
Outros bons filmes foram deixados de lado pelo júri, seja porque eram tematicamente polêmicos ou porque eram esteticamente complexos, como "O Anjo da Morte" (A History of Violence), de David Cronenberg, "Last Days" (Últimos Dias), de Gus Van Sant, e a obra-prima "Three Times" (Três Tempos), de Hou Hsiao-Hsien, chinês de Taiwan.


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