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58º FESTIVAL DE CANNES
Com favoritos distintos, membros do júri chegaram a acordo com "L"Enfant" para Palma de Ouro
Premiação ressalta filmes de caráter político-social
ALCINO LEITE NETO
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
Filmes de enfoque político-social predominaram nos prêmios
do Festival de Cannes, encerrado
ontem, oficialmente, com a reexibição do vencedor da Palma de
Ouro, "L'Enfant" (A Criança), dos
irmãos belgas Jean-Pierre e Luc
Dardenne.
O filme narra as alegrias e os
tormentos de um casal de jovens
pobres na Bélgica quando eles ganham um bebê.
Prêmio de melhor direção, "Caché" (Escondido), rodado em Paris pelo austríaco Michael Hanecke, faz uma crítica à cegueira social da classe média francesa ao
mesmo tempo em que aborda a
imigração argelina no país.
A imigração mexicana e os contrastes sociais entre México e
EUA é a base da narrativa de "The
Three Burials of Melquiades Estrada" (Os Três Enterros de Melquíades Estrada), primeiro longa
para cinema dirigido pelo ator
Tommy Lee Jones, que levou os
prêmios de melhor interpretação
(Lee Jones) e melhor roteiro (do
mexicano Guillermo Arriaga).
O prêmio de melhor interpretação feminina foi para a judia Hanna Laslo pelo filme "Free Zone",
de Amos Gitai, sobre o conflito
entre Israel e Palestina. O prêmio
do júri ficou com "Shangai
Dreams" (Sonhos de Xangai), de
Wang Xiaoshuai, que discute os
impasses entre Estado e indivíduo
na China dos anos 60.
Exceção a este gosto dos jurados
por filmes de visada social foi o
Grande Prêmio do Júri, concedido ao americano Jim Jarmusch,
por "Broken Flowers" (Flores
Partidas), misto de melodrama e
comédia a respeito de um aposentado que sai em busca do filho que
ele não conhece.
Conforme se pôde inferir das
declarações dos jurados em entrevista à imprensa, ontem em Cannes, três filmes entre os 21 concorrentes concentraram as suas discussões na hora da votação decisiva da Palma de Ouro: "L'Enfant",
"Broken Flowers" e "Caché".
O presidente do júri, o diretor
sérvio Emir Kusturica, teria assumido a defesa de "Broken Flowers". A diretora francesa Agnès
Varda, a de "Caché". A escritora
americana Toni Morrisson e a
atriz mexicana Salma Hayek impuseram "Shangai Dreams" e
"The Three Burials of Melquiades
Estrada". "L'Enfant" foi unanimidade entre eles.
"Nós compartilhamos a maior
parte das escolhas, porque as divergências eram mínimas. Havia
dois ou três filmes que cobriam
todas as questões que nós nos colocamos, filmes ao mesmo tempo
artísticos e interessantes para o
público", declarou Kusturica.
Os demais jurados foram os
atores Javier Bardem (espanhol) e
Nandita Das (indiana) e os diretores John Woo (chinês), Benoît
Jacquot (francês) e Fatik Akin
(alemão).
A premiação foi previsível e
agradou a crítica. Nos últimos
dias do festival, "L'Enfant", "Caché" e "Broken Flowers" estavam
entre os concorrentes mais cotados.
Outros bons filmes foram deixados de lado pelo júri, seja porque eram tematicamente polêmicos ou porque eram esteticamente complexos, como "O Anjo da
Morte" (A History of Violence),
de David Cronenberg, "Last
Days" (Últimos Dias), de Gus Van
Sant, e a obra-prima "Three Times" (Três Tempos), de Hou
Hsiao-Hsien, chinês de Taiwan.
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