|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Filme do ator Tommy Lee Jones surpreende e ganha dois prêmios
DO ENVIADO ESPECIAL A CANNES
A grande surpresa no Festival
de Cannes foi a dupla premiação
de "The Three Burials of Melquiades Estrada" (Os Três Enterros de
Melquíades Estrada), o primeiro
filme dirigido para cinema pelo
ator Tommy Lee Jones.
Exibido nos últimos dias da
competição, depois de uma semana repleta de pesos-pesados do cinema, como David Cronenberg,
Jim Jarmush e Wim Wenders,
ainda houve tempo para que o filme de Lee Jones arrebatasse o júri
e os troféus de melhor interpretação masculina (o próprio Lee Jones) e melhor roteiro (do mexicano Guillermo Arriaga, o mesmo
de "Amores Brutos").
Lee Jones derrotou vários concorrentes fortes, como Bill Murray (em "Broken Flowers", de Jarmush), Sam Shepard (em "Don't
Come Knockin", de Wim Wenders) e o francês Daniel Auteil
(em dois filmes, "Lemming" e
"Peindre ou Faire l'Amour").
O filme também agradou a crítica, com sua recriação da atmosfera dos westerns para contar a história, ambientada na atualidade,
do dono de um rancho no Texas
(Lee Jones) que quer enterrar o
seu amigo mexicano na terra natal, do outro lado da fronteira.
A trama rocambolesca e com
pitadas trágicas não esconde o objetivo final do filme: contrastar os
dois lados do Rio Grande, o americano e o mexicano, e descrever a
crueldade com que americanos
tratam imigrantes ilegais. O filme
é também a história de uma amizade e de uma vingança.
O fazendeiro americano obriga
o guarda de fronteira que matou o
seu amigo a acompanhá-lo na travessia da fronteira, os dois carregando o cadáver de Melquiades
Estrada em decomposição.
Toda a situação lembra "Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia", de Sam Peckinpah. "É um
dos meus filmes preferidos, eu o
vi inúmeras vezes. É uma de minhas influências, junto com Kurosawa e o Godard de "O Demônio das Onze Horas'", disse Lee
Jones à Folha e mais seis jornalistas de diferentes países.
Homem de poucas palavras,
contou que "queria fazer um filme sobre os contrastes sociais entre o lado sul e o lado norte do Rio
Grande". "É a minha região, onde
cresci. Sinto-me confortável dirigindo ali", afirmou.
Lee Jones fala espanhol, é casado com uma descendente de mexicanos e visita com freqüência o
México. "Vivo numa sociedade
bicultural."
Seu filme, muito bem fotografado por Chris Menges, não foi o
único a evocar o western em Cannes. Isso ocorreu também em "O
Anjo da Morte", de David Cronenberg, e "Don't Come Knocking". "Adoro westerns. Utilizei
elementos clássicos do gênero e,
espero, alguns elementos originais", disse.
Produzido pelo diretor francês
Luc Besson, "The Three Burials..."
teve ampla liberdade de criação,
segundo Lee Jones. "Fiz tudo o
que queria e do modo como queria. Não sei se conseguiria o dinheiro para este filme nos EUA,
mas não cheguei a procurá-lo lá."
Lee Jones, que já fez um filme
para TV, disse que hoje prefere dirigir a atuar e não foi nada generoso com seu lado ator. "O diretor
Tommy Lee Jones apenas tolera o
ator Tommy Lee Jones, sem ter
por ele grande simpatia."
(ALN)
Texto Anterior: SP vê Cannes por dentro Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|