São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 2005

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Filme do ator Tommy Lee Jones surpreende e ganha dois prêmios

DO ENVIADO ESPECIAL A CANNES

A grande surpresa no Festival de Cannes foi a dupla premiação de "The Three Burials of Melquiades Estrada" (Os Três Enterros de Melquíades Estrada), o primeiro filme dirigido para cinema pelo ator Tommy Lee Jones.
Exibido nos últimos dias da competição, depois de uma semana repleta de pesos-pesados do cinema, como David Cronenberg, Jim Jarmush e Wim Wenders, ainda houve tempo para que o filme de Lee Jones arrebatasse o júri e os troféus de melhor interpretação masculina (o próprio Lee Jones) e melhor roteiro (do mexicano Guillermo Arriaga, o mesmo de "Amores Brutos").
Lee Jones derrotou vários concorrentes fortes, como Bill Murray (em "Broken Flowers", de Jarmush), Sam Shepard (em "Don't Come Knockin", de Wim Wenders) e o francês Daniel Auteil (em dois filmes, "Lemming" e "Peindre ou Faire l'Amour").
O filme também agradou a crítica, com sua recriação da atmosfera dos westerns para contar a história, ambientada na atualidade, do dono de um rancho no Texas (Lee Jones) que quer enterrar o seu amigo mexicano na terra natal, do outro lado da fronteira.
A trama rocambolesca e com pitadas trágicas não esconde o objetivo final do filme: contrastar os dois lados do Rio Grande, o americano e o mexicano, e descrever a crueldade com que americanos tratam imigrantes ilegais. O filme é também a história de uma amizade e de uma vingança.
O fazendeiro americano obriga o guarda de fronteira que matou o seu amigo a acompanhá-lo na travessia da fronteira, os dois carregando o cadáver de Melquiades Estrada em decomposição.
Toda a situação lembra "Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia", de Sam Peckinpah. "É um dos meus filmes preferidos, eu o vi inúmeras vezes. É uma de minhas influências, junto com Kurosawa e o Godard de "O Demônio das Onze Horas'", disse Lee Jones à Folha e mais seis jornalistas de diferentes países.
Homem de poucas palavras, contou que "queria fazer um filme sobre os contrastes sociais entre o lado sul e o lado norte do Rio Grande". "É a minha região, onde cresci. Sinto-me confortável dirigindo ali", afirmou.
Lee Jones fala espanhol, é casado com uma descendente de mexicanos e visita com freqüência o México. "Vivo numa sociedade bicultural."
Seu filme, muito bem fotografado por Chris Menges, não foi o único a evocar o western em Cannes. Isso ocorreu também em "O Anjo da Morte", de David Cronenberg, e "Don't Come Knocking". "Adoro westerns. Utilizei elementos clássicos do gênero e, espero, alguns elementos originais", disse.
Produzido pelo diretor francês Luc Besson, "The Three Burials..." teve ampla liberdade de criação, segundo Lee Jones. "Fiz tudo o que queria e do modo como queria. Não sei se conseguiria o dinheiro para este filme nos EUA, mas não cheguei a procurá-lo lá."
Lee Jones, que já fez um filme para TV, disse que hoje prefere dirigir a atuar e não foi nada generoso com seu lado ator. "O diretor Tommy Lee Jones apenas tolera o ator Tommy Lee Jones, sem ter por ele grande simpatia." (ALN)


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