São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 2005

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FOTOGRAFIA

Representante do Brasil na Bienal de Veneza, que começa no mês que vem, artista abre "Você Não Está Sozinho"

Reisewitz revigora a ilusão das imagens

EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Fotografias que evocam o silêncio e nas quais a intenção do fotógrafo aponta para uma estranha neutralidade são alguns indícios da exposição "Você Não Está Sozinho", que Caio Reisewitz, 38, inaugura hoje na galeria Brito Cimino, em São Paulo.
A mostra é a primeira individual realizada por Reisewitz numa galeria no país e acontece num momento extremamente profícuo para o artista: único fotógrafo brasileiro escolhido para a última Bienal de Artes de São Paulo, ele irá agora representar o Brasil, com o grupo Chelpa Ferro, no pavilhão brasileiro da 51ª Bienal de Veneza, que acontece a partir do mês que vem.
Nesse meio tempo, participa ainda da mostra "Alegoria Barroca na Arte Contemporânea", que começa nesta semana no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, além de inaugurar outra exposição individual na galeria Marella, na cidade de Como, na Itália.

Mescla de influências
A obra de Reisewitz, que tem chamado a atenção de críticos e curadores, surgiu de uma mescla de influências que remete aos fotógrafos paisagistas do século 19 e início do século 20, como o carioca Marc Ferrez (1843-1923), e à "fotografia de registro" alemã, da qual Thomas Struth, que também esteve presente na última Bienal de São Paulo, é um dos principais ícones, além da própria pintura de paisagem.
A fotografia praticada por Reisewitz é cercada por certos rigores formais: as imagens são sempre captadas em câmeras de grande formato para que as cópias, que chegam a quase três metros de largura, possam ter uma incrível definição. A opção por dias nublados faz com que a luz das imagens de paisagens seja sempre esmaecida, sem interferência de sombras. A lente que capta a cena é a que menos deforma a imagem final.
É dessa forma que Caio Reisewitz busca neutralizar a tendência ao espetacular na fotografia. A qualidade pictórica do grande formato associada a uma luz despojada de dramas e sem truques visuais de lentes resulta numa fotografia um tanto ausente de um discurso claro, quase despojada de autoria.

Significações
Tais imagens contemplativas se tornam um campo aberto vasto de significações possíveis e vago de um sentido claro ou único. É um convite para o desfrute subliminar embutido nas inter-relações de imagens díspares como "Guarapiranga III" e "Sapopemba I", a natureza intocável e os dejetos de um lixão.
Mais do que fotografar e incutir sua opinião durante o ato em que a obra está sendo gestada, Caio Reisewitz parece optar por literalmente recortar a paisagem da forma mais fidedigna possível e transportá-la para outros locais a fim de criar embates entre espaços diversos que ele agrupa na sala expositiva.
Embora todo fotógrafo saiba que a realidade não existe na fotografia -mas que ela é uma construção a partir da relação entre olho e objeto, como escreve Stella Teixeira de Barros no catálogo da mostra-, Reisewitz revigora, de alguma forma, o dom de iludir da fotografia, essa construtora de realidades outras.
A quase ausência do fotógrafo obriga a uma predisposição maior do espectador. Construa a sua própria fábula, sua própria realidade, afinal, "você não está sozinho".


Você Não Está Sozinho
Artista: Caio Reisewitz
Onde: galeria Brito Cimino (r. Gomes de Carvalho, 842, Vila Olímpia, tel. 3842-0634)
Quando: abertura hoje, das 19h às 23h; de terça a sábado, das 11h às 19h; até 16/7
Quanto: entrada gratuita (preço das obras: entre R$ 24 mil e R$ 36 mil)



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