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FOTOGRAFIA
Representante do Brasil na Bienal de Veneza, que começa no mês que vem, artista abre "Você Não Está Sozinho"
Reisewitz revigora a ilusão das imagens
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Fotografias que evocam o silêncio e nas quais a intenção do fotógrafo aponta para uma estranha
neutralidade são alguns indícios
da exposição "Você Não Está Sozinho", que Caio Reisewitz, 38,
inaugura hoje na galeria Brito Cimino, em São Paulo.
A mostra é a primeira individual realizada por Reisewitz numa galeria no país e acontece num
momento extremamente profícuo para o artista: único fotógrafo
brasileiro escolhido para a última
Bienal de Artes de São Paulo, ele
irá agora representar o Brasil,
com o grupo Chelpa Ferro, no pavilhão brasileiro da 51ª Bienal de
Veneza, que acontece a partir do
mês que vem.
Nesse meio tempo, participa
ainda da mostra "Alegoria Barroca na Arte Contemporânea", que
começa nesta semana no Centro
Cultural Banco do Brasil do Rio
de Janeiro, além de inaugurar outra exposição individual na galeria Marella, na cidade de Como,
na Itália.
Mescla de influências
A obra de Reisewitz, que tem
chamado a atenção de críticos e
curadores, surgiu de uma mescla
de influências que remete aos fotógrafos paisagistas do século 19 e
início do século 20, como o carioca Marc Ferrez (1843-1923), e à
"fotografia de registro" alemã, da
qual Thomas Struth, que também
esteve presente na última Bienal
de São Paulo, é um dos principais
ícones, além da própria pintura
de paisagem.
A fotografia praticada por Reisewitz é cercada por certos rigores
formais: as imagens são sempre
captadas em câmeras de grande
formato para que as cópias, que
chegam a quase três metros de
largura, possam ter uma incrível
definição. A opção por dias nublados faz com que a luz das imagens de paisagens seja sempre esmaecida, sem interferência de
sombras. A lente que capta a cena
é a que menos deforma a imagem
final.
É dessa forma que Caio Reisewitz busca neutralizar a tendência
ao espetacular na fotografia. A
qualidade pictórica do grande
formato associada a uma luz despojada de dramas e sem truques
visuais de lentes resulta numa fotografia um tanto ausente de um
discurso claro, quase despojada
de autoria.
Significações
Tais imagens contemplativas se
tornam um campo aberto vasto
de significações possíveis e vago
de um sentido claro ou único. É
um convite para o desfrute subliminar embutido nas inter-relações de imagens díspares como
"Guarapiranga III" e "Sapopemba I", a natureza intocável e os dejetos de um lixão.
Mais do que fotografar e incutir
sua opinião durante o ato em que
a obra está sendo gestada, Caio
Reisewitz parece optar por literalmente recortar a paisagem da forma mais fidedigna possível e
transportá-la para outros locais a
fim de criar embates entre espaços diversos que ele agrupa na sala expositiva.
Embora todo fotógrafo saiba
que a realidade não existe na fotografia -mas que ela é uma construção a partir da relação entre
olho e objeto, como escreve Stella
Teixeira de Barros no catálogo da
mostra-, Reisewitz revigora, de
alguma forma, o dom de iludir da
fotografia, essa construtora de
realidades outras.
A quase ausência do fotógrafo
obriga a uma predisposição
maior do espectador. Construa a
sua própria fábula, sua própria
realidade, afinal, "você não está
sozinho".
Você Não Está Sozinho
Artista: Caio Reisewitz
Onde: galeria Brito Cimino (r. Gomes de
Carvalho, 842, Vila Olímpia, tel. 3842-0634)
Quando: abertura hoje, das 19h às 23h;
de terça a sábado, das 11h às 19h; até
16/7
Quanto: entrada gratuita (preço das
obras: entre R$ 24 mil e R$ 36 mil)
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