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61º Festival de Cannes
"Cuba me interessa menos do que Che", diz diretor
Steven Soderbergh defende "Che", filme de quase cinco horas sobre a vida do guerrilheiro
Cineasta diz que gostou de "Diários de Motocicleta", de Walter Salles, que também enfoca a trajetória
de Che Guevara
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
Filme-acontecimento do 61º
Festival de Cannes, "Che", de
Steven Soderbergh, foi exibido
na noite da última quarta, em
sessão-maratona de quase cinco horas de duração -as 4h28
do filme e um intervalo de 30
minutos entre suas duas partes.
Na primeira metade, o longa
se debruça sobre a participação
de Che na Revolução Cubana
(1959) e avança até o discurso
do guerrilheiro na ONU, em
1964. A segunda parte de "Che"
se concentra nos 341 dias que
ele passou na selva boliviana,
treinando guerrilheiros, até sua
morte, em outubro de 1967.
"Cuba é um assunto que me
interessa menos do que Che",
disse Soderbergh. "Mas há
muitos aspectos da vida de Che
que as pessoas não conhecem.
Se contássemos o que ocorreu
na Bolívia sem mostrar o que
houve antes, não haveria o contexto para entender a história."
Protagonizado pelo ator norte-americano de origem porto-riquenha Benicio del Toro,
"Che" custou US$ 60 milhões
(R$ 98,9 milhões) e foi rodado
na Espanha, Bolívia, México,
Porto Rico e nos EUA -em Nova York (a cena da ONU).
O ator brasileiro Rodrigo
Santoro interpreta Raúl Castro, irmão de Fidel (vivido pelo
mexicano Demián Bichir). "Foi
uma honra fazer parte deste
projeto", disse Santoro. "Éramos atores de todas as partes
da América do Sul, trabalhando
juntos na selva. Parecia um sonho de Che."
"É necessário aplaudir o fato
de que um realizador norte-americano tenha rodado dois
filmes sobre Guevara em espanhol", observou o cineasta brasileiro Walter Salles, cujo "Diários de Motocicleta" aborda a
juventude de Che. Com seu novo filme co-dirigido por Daniela Thomas, "Linha de Passe",
Salles concorre com "Che" e
outros 20 longas à Palma de
Ouro desta edição.
"Não se pode fazer um filme
com um mínimo de credibilidade sobre esse assunto sem que
ele seja falado em espanhol",
disse Soderbergh, que elogiou
"Diários de Motocicleta"-
"Walter o fez muito bem". Del
Toro afirmou que "não foi fácil"
atuar em espanhol. "Meu [sotaque] espanhol é de Porto Rico.
Eu tinha 13 anos quando saí de
lá e meu espanhol se manteve
no mesmo nível. Che era um intelectual que se expressava no
melhor espanhol."
Duas partes
Quando "Che" estrear nos cinemas, no próximo semestre,
Soderbergh gostaria que ele
fosse exibido em duas partes
autônomas depois de uma semana em cartaz na versão integral. A distribuidora Warner,
na França, porém, prevê lançar
a primeira parte em outubro e a
segunda em novembro.
O diretor achou "hilária" a
recepção crítica desigual que
seu filme teve em Cannes. "Enquanto uns o criticaram por ser
muito convencional, outros cobraram mais momentos convencionais no filme", disse.
Sobre os que desaprovam o
fato de "Che" ter um perfil positivo do guerrilheiro e favorável
às suas ações, Soderbergh afirmou: "Conheço bem a argumentação dos que são anti-Che
e sei que qualquer quantidade
de barbaridades que incluíssemos nesse filme não seria suficiente para satisfazê-los".
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